Cap.2 📸

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Senhorita Mendes

"Um careta", pensei. Meus olhos rolaram em desprezo e irritação. Esse detetive não era exatamente como pensei que fosse, havia umas rugas de seriedade em sua testa que me faziam querer correr para longe, mas, sabia que sua ajuda seria muito bem-vinda, mesmo que sua presença, de certa forma, me incomodasse. Talvez fosse seu jeito profissional, que me fazia crer que ele amava seu trabalho, algo que não acontecia comigo. Então eu iria tentar ser gentil para que nossa parceria desse certo, ainda mais quando se tratava de minha segurança.

Eu precisava encontrar o malfeitor por trás daquelas cartas para continuar com minha vida em paz, e por mais que eu tentasse achar um culpado, nunca o encontrava. A única coisa que eu conseguia era uma viagem dolorosa ao passado, então eu precisava colocar essa minha birra por homens sérios de lado e focar na minha situação atual ou a paz que eu procurava ter, nunca apareceria.

- Um ponto para fechar o set. - Carlos, meu parceiro de treino gritou do outro lado da quadra.

Acho que esse foi seu jeito de chamar minha atenção, já que eu viajei para o mundo da lua por algumas vezes durante o jogo e não dei sinais de que queria voltar.

Meus olhos foram até as mesas que ficavam perto das grades de segurança, de lá, os amigos e familiares podiam assistir as partidas com tranquilidade. No meu caso, um detetive parecia satisfeito com o desenrolar do jogo que via, mas por algum motivo, estava duvidando que sua atenção estivesse de fato, no jogo. Tendo em vista que ele me olhava com sorrisos irônicos uma vez e outra quando sem querer, eu lhe olhava pelo canto dos olhos.

"Ponto", Carlos gritou e encerramos a partida.

Segurei a raquete com firmeza na mão e caminhei em direção as grades enquanto brincava de golpear alguma bola imaginária no ar, o detetive me seguia com os olhos, como se admirasse o que via e isso de alguma forma me irritava. Me fazia sentir um certo desgosto e antipatia por ele.

- Detetive, realmente, não consegue concentrar seus olhos em outras coisas? - Questionei, a cadeira ao seu lado estava vazia e me aguardava.

Sentei, peguei a toalha que estava sobre o encosto da cadeira e enxuguei o suor da minha nuca. Havia uma garrafinha de água no centro da mesa, a peguei em mãos esperando pela resposta de Nick e mandei um gole pela garganta seca. Passei a costa de uma das minhas mãos na testa, a fim de limpar o suor.

- Desculpe, eles já estavam bem concentrados.

- Em minhas pernas. - Revidei. Ele ameaçou sorrir de canto e por que eu desejei ver aquele sorriso? - Assim vou começar a achar que é tarado por pernas.

- Não por qualquer uma.

Um sorriso sarcástico nasceu em meu rosto ao perceber que aquele detetive carrancudo também tinha humor, um humor que estava começando a me agradar, mas não sabia se era certo ficarmos flertando sendo que precisávamos manter uma relação profissional.

- Bebe alguma coisa? - Ele questionou pronto para levantar a mão.

Meu instinto agiu mais rápido naquele momento, levei os dedos até a boca e assoviei alto para chamar a atenção do garçom. Ele veio ao nosso encontro com um sorriso agradável no rosto, por frequentar muito o clube, eu já conhecia todos os garçons do lugar. Sempre me trataram bem, talvez por eu ser a filha da Isabela Mendes, a diva da televisão. O detetive parecia surpreso com alguma coisa e fiquei me perguntando com o quê. Mas, pude supor que era comigo já que eu não era exatamente como ele imaginou que fosse. Acho que sempre estaríamos quites nesse quesito.

- Bebe cerveja, detetive? - Perguntei sorrindo. - Ótimo! Dois chopes no capricho.

Agora, ele parecia intrigado. Era engraçado causar essas variadas reações nele, era como se eu estivesse o surpreendendo cada vez que abria a boca para falar algo. Ele levantava as sobrancelhas, arqueava, abria a boca e fechava, fazia caretas... era divertido causar essas reações nele.

- Então - ele pigarreou -, sobre as cartas. Você tem alguma ideia de quem possa estar mandando?

- Pensei que descobrir o remetente delas fosse o seu trabalho. - Estalei a língua, deixando meu veneno escorrer em forma de sarcasmo.

- Só preciso saber se você tem uma base por onde eu possa começar. - Explicou e neguei com um balançar de cabeça. - Algum ex namorado?

- Quer a lista?

- Foram tantos assim? - E lá estava aquele tom surpreso novamente.

- Tire suas próprias conclusões.

Ele me olhou com atenção, poderia dizer que estava me avaliando, tentando entender alguma coisa e preciso dizer que se ele conseguisse, por favor, que me avisasse. Às vezes, eu me sentia completamente perdida com quem eu era ou com quem eu queria ser, era nesses momentos que minha vida virava uma contradição. Ora eu queria ser a apresentadora de tevê, ora eu queria ser uma stripper - e por que não? -, e tinha aquele momento em que eu queria ser eu. Apenas eu. Apenas a kayla Mendes.

- Srta. Mendes, me conte um pouco mais sobre as pessoas com quem vive.

- Oras, detetive, não está insinuando que...

- Não há insinuações aqui, estou apenas tentando fazer o meu trabalho.

- Pois bem. - O garçom deixou sobre a nossa mesa os primeiros copos de chope, em um enlace peguei a alça da caneca e bebi um gole. - Nana é a governanta, cuida de mim desde que nasci e continua fazendo o trabalho muito bem. Também tem o Rafa, trabalha comigo o tempo todo, é meu assistente de marketing.

- E o Rafa entra na sua lista de "ex"?

- Sim, mas não foi um relacionamento duradouro.

- Por quê?

- Por que certas pessoas não nasceram para dar certo, caro, detetive. - Arqueei a sobrancelha, já estava começando a me perguntar se aquelas perguntas eram mesmo necessárias.

Uma nova partida havia começado, agora, minha atenção não estava só nele, também estava no jogo. Naquela altura da minha vida, eu já havia me acostumado a ter hobbies, um deles era o tênis. Mesmo quando eu não ia para jogar, ia para ver.

- Creio que as cartas sejam mais importantes do que o jogo, ou não? - Chamou minha atenção ao ver que não obtinha mais nenhuma resposta.

Suas palavras fizeram um sorriso aparecer em meus lábios, gostava da forma que ele se portava, ora sério, ora humorado... só que mesmo que o nosso encontro tivesse apenas uma finalidade, eu não podia levar tudo a sério. Era assim que eu me dava com aquelas malditas cartas, não podia deixar que elas acabassem com minha vontade de viver e com meu bom humor.

- Você deveria sorrir mais. - Disse ingênua, procurando uma desculpa para vê-lo sorri.

- Como?

- Elevar o canto da boca e deixar os dentes aparecer.

- Eu sei como se faz, só não entendi o porquê deveria fazer. - Cruzou os braços e me fitou com afinco.

- Por que você fica bonito e deixa a vida mais agradável. Vem! - Me levantei segurando em seus braços.

Ele parecia não entender o que eu queria fazer, me olhava com curiosidade e me questionava com diversas perguntas, todas sendo ignoradas por mim, mas logo ele descobriria e eu esperava que uma mudança de ares valesse à pena.

Por Trás Das CâmerasWhere stories live. Discover now