Cap.4 📸

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Senhorita Mendes

As coisas entre detetive e eu haviam chegado ao extremo, não podia me dar ao luxo de fazê-lo de trouxa, precisava dele para acabar com aqueles tormentos que vinham uma vez na semana. Deixei meu carro estacionado na entrada de casa, deixei o bar assim que ele me deu as costas e foi embora, não tinha o porquê de continuar lá. Nana percebeu que havia algo me incomodando e antes de dizer qualquer coisa, arqueou a sobrancelha e cruzou os braços abaixo dos seios. Eu sabia o que ela estava fazendo, estava me intimidando para que eu contasse logo o que tinha acontecido, apenas dei de ombros quando passei por ela.

- Pelo jeito, as coisas com o detetive não foram muito bem.

- Sabia que era homem? - Perguntei surpresa, me virando para dar total atenção a ela.

Nana sorriu de canto, daquela forma que só ela sabia fazer para me irritar, afirmou com a cabeça e aproximou-se de mim.

No fundo, não fora o fato dele ser homem que me chocou, e sim, pelo fato de ser extremamente sério em seu trabalho. Parecia não se divertir nunca, por isso o levei até o bar, pensei que assim Nicolas ficaria mais solto para podermos trabalhar juntos. Mas também havia um problema, quase irrelevante, o filho da puta era extremamente lindo.

- É o melhor detetive da cidade, querida, pode ajudar com as cartas.

- Ele parece ser bom mesmo. Bem profissional. - Dei de ombros e continuei a caminhar, meu destino era o escritório onde eu sabia que iria encontrar o Rafa.

- Bem bonito!

Enruguei o semblante e a olhei por cima dos ombros.

- Como assim bem bonito? Quando foi que você o viu?

Entrei no escritório e Nana foi logo atrás, parecia concentrada em sua missão de me infernizar. Rafa estava sentado atrás da minha mesa e nos olhou de sorrateiro, assim que ouviu nossas vozes. Joguei minha bolsa no sofá, mas a mesma preferiu o chão.

- Quem é bonito? - Rafa me questionou curioso.

- Segundo Nana, nosso detetive. - Respondi simplesmente, eu não queria ter que falar sobre ele.

- Ah, sim, e como foi o encontro de vocês?

- Não foi.

Espreguicei o corpo e notei que ambos me olhavam como se esperassem por alguma resposta digna de aplausos, mas não havia essa resposta, não teve encontro. Revirei os olhos e deixei a grande sala, precisava beber alguma coisa antes que meus pensamentos me comessem viva.

Abri a geladeira e a caixa de leite foi muito convidativa, por que não? Peguei a maior caneca e acrescentei o achocolatado, acho que sempre fui acostumada a fazer isso quando algo me incomodava, só que naquele momento, eu desconhecia o motivo desse incomodo.

- Você gostou dele.

A voz de Nana invadiu o lugar e chegou até mim, causando uma reação estranha e me fazendo engasgar. Sempre quando eu ia colocar algo na boca alguém aparecia e me fazia causar uma catástrofe. O que foi exatamente o que aconteceu, acabei deixando um pouco de leite escapar por entre meus lábios e escorrer até meu queixo. Nana riu, não foi uma risada escandalosa, mas havia humor.

- Não sei do que você está falando. - Peguei o pano de pratos e tentei limpar o que havia pingado em minha blusa.

- Kay, você não precisa fingir para mim.

- Não estou fingindo, Nana. Esse detetive é muito sério e profissional, o tipo de homem que não me chama atenção. - Coloquei a caneca dentro da pia e fui me sentar perto do balcão.

O meu curriculum de homens pegáveis sempre fora extenso, principalmente depois que minha mãe morreu e eu assumi sua carreira de apresentadora na televisão. Cirurgiões plásticos, atores, empresários estrangeiros, governadores, prefeitos, pintores... Todos muito bem colocados naquela listinha que Nicolas havia pedido mais cedo. Todos possuindo uma riqueza incontável em suas contas bancárias.

- E o detetive não se encaixa nos seus valores? - Ela ficou séria.

- Não saio com homens por dinheiro, Nana. Não me ofenda! - Rebati magoada. - O detetive pode ter lhe agradado, mas não vi nada demais nele.

- Por que não gostou dele? - Nana quis saber.

Passei os dedos pelas minhas têmporas, era difícil explicar o porquê, mas acho que para Nana eu conseguia, afinal, ela sempre me entendia.

- Ele não te lembra ninguém, Nana? Alguém que eu gostaria de nunca ter conhecido... - Murmurei a última frase sentindo o ressentimento nascer no peito.

- Tire isso da cabeça, Kayla, ele está morto e não vai te fazer mais nenhum mal. - Assenti, era o que me restava fazer.

- E pode ir dizendo quando foi que você o viu...

- Hoje.

- Hoje? - Acho que dava para ver o tamanho da interrogação em minha testa.

- Aqui em casa.

Nana estava com aquele ar de superior, como se soubesse mais do que todos, e para ser sincera, acho que ela sabia.

- Ele veio aqui? - Então aquele papo de perguntar sobre as pessoas próximas era marmelada, ele já havia feito a lição de casa e estava me testando. Por que ele estava me testando?

Revirei os olhos mais uma vez e me mantive quieta, Nana balançou a cabeça como se reprovasse algo, mas havia um sorriso singelo nos cantos dos lábios. Respirei pesado, ela estava errada. O detetive não havia me agradado, na verdade, apenas o achei muito atraente, não que isso tenha me deixado de quatro por ele.

- Colabore com o trabalho dele, Kayla, ou você nunca vai voltar a ter paz. - Ela suspirou, cansada.

- Chegou outra? - Questionei com medo, o balançar de sua cabeça fez minhas pernas tremer. - Quando?

- Hoje de manhã, essa veio um pouco mais ousada.

- Quero ver. - Pedi com rapidez.

- Por precaução, decidimos esconder ela de você. Melhor que não saiba sobre o conteúdo.

Ela me olhou com um pedido de desculpas, mas eu sabia que se ela estava fazendo isso, era porque queria me proteger e pelo jeito, a carta anônima havia passado dos limites simples de ameaças. Todo o meu corpo arrepiou ao pensar nisso, não podia ficar parada, precisava descobrir quem era essa pessoa e fazê-lo apodrecer na cadeia. Respirei fundo e passei os dedos pelas têmporas, teria que mandar um pedido de desculpas para o detetive e colaborar para que tudo andasse o mais rápido possível.

- Vou mandar um e-mail para ele. - Me rendi, estava me sentindo derrotada.

Por Trás Das CâmerasOù les histoires vivent. Découvrez maintenant