Tommo & Clyde

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——— T H E • P A P E R • B O Y ———

Um dia desses tombaremos juntos. Não me preocupo comigo, é por Bonnie que sofro. Quem me importa perder a pele? Eu, Bonnie, sofro por Clyde Barrow.

– Serge Gainsbourg

— Temos que abandonar o carro!

O Bugatti voava por uma estradinha estreita ladeada por eucaliptos. À primeira vista, o xerife desistira de nós perseguir, mas podíamos ter certeza de que ele soara o alarme. E, falta de sorte, a presença de um acampamento da marinha a poucos quilômetros fazia o lugar uma zona superprotegida. Ou seja, estávamos em maus lençóis.

Subitamente, um barulho ensurdecedor vindo do céu só fez aumentar nossa preocupação.

— Isso é com a gente? – inquietou-se Tommo.

Abaixei o vidro e, projetando a cabeça para fora, notei um helicóptero da polícia rodopiando logo acima da floresta.

— Temo que sim.

Excesso de velocidade histórico, desacato à autoridade, fuga. Se o escritório do xerife cumprisse com seu dever, estávamos correndo grande risco.

Tommo enveredou-se pela primeira estradinha da floresta e embrenhou o Bugatti na mata o máximo possível para camuflá-lo.

— A fronteira fica apenas uns quarenta quilômetros – eu disse. — Tentamos arranjar outro carro em San Diego.

Ele abriu o porta-malas, que transbordava de bagagens.

— Isso é seu, eu trouxe umas coisinhas! – disse, lançando para mim uma velha Samsonite de tampa dura que quase me derrubou.

Quanto a ele, obrigado a fazer uma escolha, eu o via hesitar diante da montanha de malas abarrotadas de roupas e sapatos surrupiados do meu armário, de roupas antigas, que esqueci de doar quando mais jovem.

— Fique sabendo que não iremos ao baile todas as noites – eu disse, para apresá-lo.

Ele pegou uma bolsa grande de grife e uma maleta de cosméticos prateado. Quando eu estava me afastando, ele me segurou pelo braço:

— Espere, tem um presentinho para você no banco de trás.

Franzi o cenho, temendo um novo trote, mas ainda assim dei uma espiada e descobri sob a toalha de praia...a tela Chagall!

— Eu pensei e acho que devia ficar ela.

Olhei para Tommo com gratidão. Mais um pouco eu o teria beijado.

Enrolados no assento, os Amantes em azul davam a impressão de se enlaçar com fervor, como dois estudantes em seu primeiro encontro num drive-in.

Como sempre, a visão do quadro me fez bem, me passando um pouco de serenidade e me dando um aperto no coração. Os amantes estavam ali, eternos, enraizados um no outro, e a força do abraço deles agia como um bálsamo reparador.

— É a primeira vez que vejo você sorri – ele observou.

Coloquei a tela debaixo do braço e saímos às pressas por entre as árvores.

-x- -x-

Carregados como mulas, suados e ofegantes – quer dizer, principalmente eu –, atravessamos diversos obstáculos na esperança de escapar das buscas do helicóptero. Dava para perceber que ele não havia detectado nossa presença, mas, a intervalos regulares, ouvíamos seu zumbido pairando como uma ameaça sobre nossas cabeças.

O garoto de Papel Where stories live. Discover now