Solidão

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Momento Niam 😌
Boa Leitura e Bom Domingo

————— T H E • P A P E R • BOY ————

A solidão é a essência da condição humana. O homem é a única criatura que sente só e procura o outro. 

— Octavio Paz 


REGIÃO DE LA PAZ, PENÍNSULA DA BAIXA CALIFÓRNIA

INÍCIO DA TARDE

Com a mochila nas costas, Niall pulava de pedra em pedra ao longo da costa acidentada. 

Detivera-se para olhar o céu. O aguaceiro havia durado menos de dez minutos, mas ainda tinha sido suficiente para ensopá-lo da cabeça aos pés. Com a roupa encharcada e o rosto gotejante, sentia a água morna penetrar em sua camiseta. 

Como eu sou burro!, ruminou, sacudindo os cabelos e em seguida passando a mão. Trouxera consigo um estojo de primeiros socorros e alguma coisa para beliscar, ma nenhuma toalha nem muda de roupa. 

Um belo sol de outono tomara o lugar das nuvens, o que não bastou para secá-lo. Para não sentir frio, decidiu seguir adiante, fedendo o ar com determinação, inebriando-se com a beleza das pequenas baías que se sucediam e tendo, ao fundo, montanhas cobertas de cactos. 

Na curva de um atalho em declive, pouco antes de chegar à praia, um homem saiu de trás de um de um arbusto e se postou bem à sua frente. Procurando desviar-se dele, saiu da trilha e seu pé se agachou numa raiz. Gritando de dor, não conseguiu evitar um tombo espetacular, que o fez cair nos braços do importuno. 

— Sou eu, Niall! — tranquilizou-o Liam, segurando-o com delicadeza. 

— O que está xeretando agora? — ele gritou, se libertando. — Por acaso me seguiu? Você é completamente doente! 

— Lá vem a lição de moral...

— Pare de me olhar com esses olhos famintos — ele gritou, percebendo subitamente que suas roupas molhadas revelavam as suas formas. 

— Tenho uma toalha — Liam afirmou, procurando em sua mochila. — E roupas secas também. 

Niall arrancou a mochila das mãos dele e foi trocar de roupa atrás de um grande pinheiro. 

— Não ouse espiar, seu pervertido. Não sou uma de suas plaumates! 

— Difícil enxergar através desse biombo. — ele observou, agarrando no ar a camiseta e os shorts úmidos que Nialk acabara de tirar. 

— Por que você me seguiu? 

— Queria curtir um pouco a sua companhia e, além disso, eu tinha uma pergunta para você. 

— Estou pronto para o pior. 

— Por que você disse que a história da Trilogia dos anjos salvou a sua vida? 

Niall fez silêncio, depois respondeu com dureza: 

— Se você fosse menos burro, talvez eu explicasse. 

Estranho. Raramente Liam o via ressentido. Mesmo assim, tentou continuar a conversa: 

— Por que não me convidou para vir com você? 

— Eu queria ficar sozinho, Liam. Isso não lhe passou pela cabeça? — ele perguntou, vestindo um suéter trançado. 

— Mas as pessoas morrem de solidão! Ficar sozinho é o que há pior na vida. 

Com aquelas roupas masculinas sobrando em seu corpo, Niall deixou o abrigo. 

— Não, Liam, o que há de pior na vida é ser obrigado a aguentar gente do seu tipo. 

Liam processou o golpe. 

— O que realmente estou fazendo de errado? 

— Esqueça, eu precisaria de três anos para fazer a lista — ele disse, continuando a descer em direção à praia. 

— Por favor! Fiquei curioso — Liam confessou, apertando o passo atrás de Niall. 

— Você tem trinta e seis anos, mas se comporta como se tivesse dezoito — Niall começou. — É um irresponsável, um grosseirão, não passa de um mulherengo ordinário, só quer saber dos três Bs...

— Três Bs?  

— Bugatti, bebida e bunda. — o loiro explicou. 

— Terminou? 

— Não. Também acho que nenhuma mulher gosta de você de verdade — Niall lhe jogou na cara ao chegarem à areia. 

— Desenvolva um pouco. 

O loiro se plantou diante dele com as mãos na cintura e olhou-o nos olhos. 

— Você faz parte do grupo dos “homens descartáveis”: caubóis com os quais as mulheres e garotos gays estão dispostos a se divertir um pouco nos dias de solidão e com os quais talvez venham a passar uma noite, mas que nunca imaginam como o pai de seus filhos. 

— Nem todos pensam como você! — Liam se defendeu. 

— Pensam sim, Liam. Todas as pessoas com pelo menos dos seus neurônios pensam exatamente como eu. Quantas garotas ou garotos legais você nos apresentou esse tempo todo? Nenhum! Conhecemos uma dezena dessas pessoas, mas sempre as mesmas: strippers, quase putas, ou pobres fulaninhos e fulaninhas desamparados que você caça de madrugada em boates sórdidas, se aproveita da fraqueza das pessoas! 

— E você? Por acaso posso saber que namorado legal nos apresentou? Ah, não, é verdade: nunca vimos você com um homem! Esquisito, não acha? Trinta anos e nenhum relacionamento revelado. 

— Talvez seja porque eu não mande fax avisando quando tenho alguém na minha vida. 

— Fala sério! Você se sentiria bem no papel de homem do escritor, confesse! Aquele que é sempre mencionado na segunda orelha do livro. Espere, vou escrever para você dar uma olhada: “Harry Styles mora em Boston, Massachusetts, com o marido, Niall, dois filhos e um labrador”. Vamos, não é isso que você tanto deseja? 

— Você ficou maluco de vez. Precisa parar de fumar. 

— E você finge muito bem quanto um sutiã. 

— Mais uma metáfora sexual. Você realmente tem sérios problemas com isso, coitado. 

— Você que tem! — ele rebateu. — Por que nunca usa uma roupas mais leve, um short? Por que nunca põe uma sunga? Por que tem reação alérgica sempre que encosto no seu braço? Prefere as mulheres, por acaso? Porque acho que quando se é gay, o que interessa a você é um pau entre as pernas. 

Antes mesmo que tivesse terminado a frase, uma bofetada de mestre, desferida com a força para de um soco, explodiu em sua cara. Mal teve tempo de agarrar Niall para evitar a segunda. 

— Me solta! 

— Não antes de você se acalmar! 

Niall se debateu como um demônio, puxando seu braço com toda a força e conseguindo desiquilibrar o oponente. Por fim, caiu de costas sobre a areia, arrastando Liam na queda. Payne caiu pesadamente sobre Niall e já se desvencilhar quando sentiu o cano da pistola encostando na sua têmpora. 

— Saia! — Niall ordenou, engatilhando a arma. 

Trouxera a pistola na mochila. Podia até esquecer a muda de roupa, mas nunca a arma de serviço. 

— Muito bem — disse Liam, com a voz branca. 

Desorientado, levantou-se lentamente e olhou com tristeza para o amigo, que fugia dele com as duas mãos pressionadas a coronha da pistola. 

Mesmo depois de Niall ter desaparecido, Liam permaneceu na pequena lagoa cercada de areia branca e água turquesa por vários minutos, completamente chocado. 

Naquela tarde, a sombra dos cortiços de MacArthur Park se estendeu a ponta do México. 

O garoto de Papel Where stories live. Discover now