Prólogo

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Enquanto tocava um antigo som na rádio, atravessei a cozinha ainda com a toalha presa ao corpo. Desliguei a chaleira e, apanhei uma caneca logo em seguida.

Formosa manhã de Cannyville.

Como numa série.

Abrir as cortinas e deparar-se com o sol é energizante.

As ruas frias se aquecem e os raios permitem-se a invadir nossas janelas. É a época para roubarmos camélias da vizinhança. Parece até aquelas notas citadas por autores mas, não.

Isso faz-me lembrar de Minnesota.

Eu acordaria com as batidas incessantes de minha mãe na porta e, quando estivéssemos preparando panquecas com mirtilos ou caramelo, papai estaria lendo seu jornal acompanhado de um café fortíssimo. Uma família normal, talvez.

Na minha escrivaninha, eu tinha um retrato que provava isso.

Ambos sorriam para a câmera, de forma a mostrar afeto um pelo outro. Eu segurava a barra do vestido da mamãe enquanto mantinha uma expressão péssima porque eu odiava domingos em que reuníamos todos, e aquele era um dia como tal.

Então eu olho para a fotografia sempre.

Para recordar-me do lar que tive antes de uma discussão horrenda.

Antes de meu pai nos deixar.

Não foi por conta de uma briga sem contexto mas sim, muitas outras que lhe deu razão para ir. E não havia alternativa a não ser viver sem sua companhia porque, em um determinado momento, o laço é cortado e nunca mais reparado.

Tudo acaba, até aquilo que julgamos ser espelhos para nossas vidas ruins.

E francamente, divórcios hoje em dia são tão normais quanto trocar de roupa.

E eu não queria ter de me sufocar aos problemas dos meus pais. A universidade era meu maior princípio desde então, e assim se concretizou quando busquei por uma nova cidade e acabei me arredando para cá. De jeito algum você conseguiria se perder por aqui. Isso pode soar meio idiota, mas, foi onde encontrei um pouco de mim mesma.

Quando se tem dezoito anos completos, a magia é outra.

Balancei a cabeça para os lados e me levantei a fim de sair desses devaneios.

Dentro de trinta minutos, eu deveria estar em Prince Hills.

Aos fundos do armário, arranjei algo casual para vestir, então me prontifiquei. Antes, coloquei as chaves no bolso do meu parka verde.

Caminhei duas ou três quadras até chegar na faculdade não muito longe.

É como naquelas cenas de filmes hollywoodianos, o gramado ocupado por várias pessoas extasiadas: líderes de torcida que desfilam com as cores branco e azul para contrastar com os tons tradicionais; os gênios de maleta e óculos redondo; e aqueles que não possuem nada além de um corpinho bem esculpido.

Me sentei numa das mesas e sorri para Griffin que enaltecia os rostos estampados nas revistas européias renomadas, e Russell, que deglutia uma torta doce.

Com a quietude, aproveitei para ler algo, porém Jessie o interrompeu.

- Custa-me acreditar que Stephen está com aquela vadia.

Nós seguimos seu olhar de fúria para o cara encostado no carro junto a uma outra menina, veterana. Não era surpresa para nenhuma de nós, mesmo que ainda fosse um término não superado por ela.

- Por que não o esquece de uma vez? - Hope franziu o cenho.

- Se você soubesse o quanto é difícil - Jess rebateu com certa angústia.

Sou a pior amiga para aconselhá-la nesta situação. Todavia, nunca os apoiei juntos.

Por detrás daquele rostinho de comercial, Ross era apenas mais um garoto pela qual Russell se atreveu a apaixonar. Embora esteja frustrada, o fato é que ela é ingênua a ponto de achar que tudo é algodão doce e romance feliz na vida real.

Mas ele não tinha a melhor das intenções, e provamos disso.

- Há muitas outras pessoas nesse lugar Jessie - Griffin percorreu o campus observando milimetricamente cada grupo.

- Ninguém se importa - a garota dos olhos esverdeados apoiou o queixo nas mãos.

Eu já estava cansada daquela conversa sem sentido.

- Podemos falar sobre outra coisa?

- Tá - Hope se virou com um sorrisinho de canto. - Vou entrar para a turma de teatro.

- Demais.

- Desde quando você gosta de teatro? - questionei bastante surpresa com sua escolha para o verão.

- Desde o dia em que aquele professor esbelto com sotaque francês pisou naquele auditório.

- Isso é errado.

- É crime, querida - Jessie comentou e nós calhamos a rir.

- Eu sou uma criminosa, meu bem.

Brincadeiras a parte, estávamos quase atrasadas.

E bem, não há muito a se dizer.

Ficar trancafiada numa sala compartilhada por outros estudantes e seus altos falatórios, é um inferno popularmente frequentado.

Eu só não tinha imaginado que o meu inferno particular começaria em breve.

Contra as leis do amorWhere stories live. Discover now