Nove

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| Brandon, point of view  |

Estive tão empolgado, que esqueci por um minuto que dirigir para o lado oeste de Cannyville é uma droga – ruas de terra, pessoas estranhas.

Somente as luzes das casas dos vales têm nome.

Paro num posto para abastecer o carro, e aproveito para comprar uma pequena pilha de Martini na loja de conveniência. E também, chicletes de menta. A atendente, por sinal muito jovem, apalpa o decote de seus seios em uma tentativa genial de fazer-me olhar para si, eu volto a olhar os chaveiros mexicanos na prateleira e depois vou ao balcão pagar pela cerveja. E as gomas de mascar, que por acaso já estão no meu bolso.

Passo pela porta giratória praticamente quebrada e volto a dirigir, ainda tenho mais uns minutos de estrada. Mas é uma festa, mano. O cara é jogador de hóquei e eu o conheci há umas semanas atrás, quando ele apareceu em Prince Hills. E não se recusa o convite para uma grande festa, jamais.

Depois de percorrer umas curvas não asfaltadas, enfim chego no endereço. Casa padrão assim como as outras por ali: muros altos, cercas de plantações ridículas e, tudo é vidro – você consegue enxergar os cômodos interiores através deles. Caminho com a cerveja numa mão e um sorriso maroto no rosto, e vou acenando com a cabeça para todos. E todas, claro.

— O rei da festa chegou! — grito assim que encontro Barners (penetra), e o restante do grupo ao redor da mesa de sinuca.

— Se for assim, me retiro — um deles responde com sarcasmo e me cumprimenta.

— Atrasado como sempre — diz Tyler, que está parecendo um riquinho palerma com uma camisa social listrada.

— Porém, aqui. Isso é o que importa — respondo batendo de leve em seu ombro. — Agora, onde está o dono da festa?

Cavanaugh? — ele repete em tom de malícia. — Aquele lá não perdeu tempo.

Josh Cavanaugh – esse é o nome do bastardo que estava a lembrar.

Dou uma risadinha e analiso a sala de estar imensa, desde os quadros de Van Gogh até as pessoas dançando sob o piso de madeira. Entre um passo e outro, me arrasto até a cozinha onde misturo umas bebidas num copo fluorescente. Mistura fortíssima, aliás. É para me chacoalhar um pouquinho, eu preciso me divertir. Em um sentido completamento oposto, visto que ainda estamos no quarto dia da semana. Não é sábado nem nada, é quarta-feira.

Huh.

Vejo alguém entrar no mesmo cômodo, uma garota. Não me importo com sua presença, até o segundo em que ela apanha meu copo do balcão e vira todo o líquido dele.

— Com um pouco mais de gin ficaria bem melhor — ela solta com o semblante imparcial. Já eu, permaneço incrédulo.

Não respondo.

— Você deve ser Brandon Campbell — suas unhas (bem prováveis serem postiças), tocam o mármore branco, me causando aflição. — Minhas amigas ficaram doidas quando você chegou.

— É de se esperar, não acha? — dou meia volta e a garota deixa escapar uma risada abafada.

Trocamos olhares por questão de segundos, sei exatamente o que nos espera. Sei o que ela quer, sei onde vamos parar.

— Alexa Foster.

— É um prazer, Alexa.

Prazer miserável.

Ela pega minha mão esquerda e me puxa,  e eu não estou nem aí. Deixo ela me guiar até as escadas, onde a mesma deposita um beijo no meu pescoço. E na sequência, chegamos até o segundo piso da casa. A primeira porta do corredor estava trancada, então, abrimos uma ao fim do corredor.

Meus dedos se afagam em seu cabelo curto que cheira a shampoo de framboesa – se é que isso existe. Nossas línguas se encontram, numa selvageria brusca. Sem parar, ela abre o zíper de seu vestido e eu desço minhas mãos pelo seu corpo. Então eu a sinto, e Alexa geme baixinho. Ela tira seu sutiã VS de renda e se deita na cama, onde fica estirada esperando por mim.  Tiro minha camiseta, vou até ela e trilho vários beijos entre o pescoço e sua virilha.

Realidade, Brandon.

Paro.

Ainda por cima, mas meu corpo trava. Cada célula do meu corpo fica congelada por um minuto, não me movo. Como se o oxigênio presente fosse sugado, como se o barulho fosse mero zumbido ao pé do ouvido.

— Você está bem? — a garota questiona com uma careta.

Porra.

Passo a mão pelo cabelo e me levanto, deixando-a só dentre os lençóis. Um sorrisinho rodopia meus lábios como se isso fosse normal, embora isso seja uma coisa estranha pra caralho. Mas meus movimentos agora são quase como involuntários, minha vontade de dar o fora deste lugar é maior do que transar com alguém – quando eu não deveria.

— Que merda você tem na cabeça? — se não me engano, Alexa, diz. Ela aumenta o tom de voz ao toque de recolher as vestes do carpete escuro que pisa com raiva.

Sinto sua respiração acelerada, seus olhos desenganados. Me viro e ela está ali estagnada, como quem esperasse por uma merecida justificativa.

— Desculpe — é tudo que sai da minha boca acovardada.

— Vá para o inferno — são suas últimas palavras ríspidas antes da mesma bater a porta com total agressividade.

Suspiro.

Acendo um cigarro.

Eu poderia listar os motivos que me levaram  a agir assim, mas francamente, não sei responder a isso. Talvez outras coisas tenham surgido na minha mente, talvez eu nem quisesse estar aqui neste momento.

Então eu desço para o piso inferior, vejo umas pessoas chapadas e até converso por segundos com Josh, que não larga sua garrafa de Hennessy. Mas não dou continuidade ao assunto, na verdade, vou até o carro e enrolo por instantes antes de dar partida. Ligo a rádio, uma música é melhor que nada. Meu celular está descarregado mas ainda assim, consigo analisar o visor que informa duas chamadas perdidas.

Duas.

Eu achei que por uma noite, nada de ‘não atípico’ aconteceria novamente, todavia, há uma contradição bem aqui na minha frente. Meus olhos ficam fixos na tela como se me custasse acreditar no número que há pouco me ligou.

Porra, de novo.

Contra as leis do amorWhere stories live. Discover now