Cinco

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O fim de semana passou tão rápido.

Terminei de ler mais um livro de Anne Rice. Telefonei para minha mãe – aliás, fiquei muito feliz por saber que ela está saindo com um cara da Finlândia, na qual não lembro o nome. E, maratonei algumas metragens policiais.

Coisas que uma jovem universitária de quase dezenove anos não faria.

Marcho até a porta do laboratório exageradamente grande carregando minhas coisas, mas assim que dou um passo para fora, sou barrada – uma surpresa nada agradável. E tampouco atípico. Fico irritada por vê-lo. Mas todo meu corpo se contrai, num sinal de você-é-impotente-demais-para-discutir (com ele, e agora).

É algum tipo de perseguição? De novo?

É tão difícil encontrar uma resposta.

— Você me olhando assim parece até que a qualquer momento irá me devorar — ele enfia as mãos no bolso da calça jeans escura.

Estou muito calada. Analisando cada minucioso traço que o pertence. Estes, que foram meticulosamente desenhados e provavelmente retirados das revistas de modelagem.

Brandon é canalha demais para ser drasticamente bonito.

Por que?

— Se bem que eu não acharia ruim — ele praticamente respondeu a própria frase.

Se poupe, Campbell — reviro os olhos. — As chances de alguma coisa acontecer entre nós é quase nula.

Quase, princesa — um sorriso se rasga em seus lábios. — Você ainda estará aos meus pés.

— Que besteira.

— Sou irresistível. Não negue.

Ele consegue me deixar um pouco constrangida, mas mantenho minha postura impassível.

— Tem coisa melhor que você — retruco e ele faz uma careta de indignação.

— Tipo, Barry Parker? — Brandon não se incomoda, na verdade, ele diz em deboche.

Me inclino para trás com as sobrancelhas erguidas. Parker é minha dupla em ciências. Ele usa o óculos até a ponta do nariz, o que diz ser mania. Seu gosto para roupas é refinado. Vez ou outra ele me conta umas histórias divertidas. Mas, não! Nada a ver.

O encaro com um belo ponto de interrogação na cabeça.

— De onde o conhece?

— Vocês estavam rindo juntos há três minutos atrás.

— Então você estava me observando?

— Claro que não — ele solta uma risada nasal.

Talvez seja impressão. Mas, qual a finalidade disso? Hum.

— De qualquer forma, eu e Barry não temos nada. Não fazemos o tipo um do outro.

— Ah, e por que não?

Fito seu rosto como se fosse óbvio, mas ele não parece estar a par das informações.

— Ele joga para o outro lado.

Campbell estende a expressão de felicidade, talvez, até aliviado.

Mas não estou mentindo.

— Achei que teria concorrência.

— Concorrência?

— É, por você.

Engulo em seco.

Não consigo dar à ele uma resposta dura, porque as palavras evaporam.

— Mas, você por si só já dificulta tudo — ele recua, pigarreando.

Fecho os olhos com força, e aí respiro fundo.

— É simples. Desista.

Tento parecer firme. Tento parecer eu. Mas quando digo isso, não penso duas vezes antes de sair andando. E fugir da cena não é bem o meu forte.

O que me leva a agir assim é fácil de entender.

Seu histórico nada incrível.

Campbell é a estrela de Prince Hills. Ele comanda o time de futebol. O resto é previsível. Tendo isso como sua maior característica, é claro que as garotas caem em cima para ganharem notoriedade. Afinal, todo bom filme clichê, ou todo drama colegial, tendem a ter um astro.

Ele é um.

Para ser honesta, em alguns poucos meses estudando aqui só o vi jogar umas duas vezes que, nem ao menos me recordo nitidamente de seus bons dribles. Todos sabem da péssima reputação que lhe é atribuído. São comentários nas quais estou farta de saber.

Não sou do tipo ‘se faça de difícil’.

Mas não quero ser mais um nome em sua lista.

Contra as leis do amorWhere stories live. Discover now