Seis

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— Preciso tomar um ar — Jessie para ao meu lado, ofegante.

Ajeito meus fios de cabelo e a acompanho até um banco mais próximo, tomado pelo verde do parque central de Cannyville. Costumamos caminhar – ou, pelo menos fingir que somos saudáveis – vindo até aqui em algum determinado dia da semana, depois da faculdade.

Eu diria ser... Revigorante.

— Merda — Jess exclama com uma careta enquanto mexe em seu celular. — Me esqueci que devo visitar meus pais este fim de semana.

Os pais de Jess em questão, moram em uma cidade não muito distante daqui e tão pequena quanto a nossa.

— E isso é ruim? — franzo o cenho.

— Eu ia na festa desse fim de semana — ela suspira tristonha e reforça; — com o Stephen.

Reviro os olhos.

— Vocês voltaram a se falar? — eu sei a resposta, é claro.

— Ér, sim — ela evita de dar detalhes. — Você vai à festa do Tyler?

— Não.

— Não?

Nego com a cabeça.

— Por que?

— Eu não gosto.

— Se eu fosse você, eu iria — ergo minhas sobrancelhas e a olho com curiosidade. — Tipo, você deveria aproveitar enquanto tem um cara igual Campbell aos seus pés.

Pobre Jessie.

— Não sou assim — dou uma risada abafada. — E além do mais, ele parou com isso.

— O que significa?

— Significa que Campbell desistiu — esclareço em tom seco e firme, ao mesmo tempo em que uma camada de descrença desce minha garganta.

Esperei ansiosamente pelo dia em que diria ‘desistiu’, mas agora, a incerteza cobre meu corpo.

Ontem, Brandon me deu a garantia de que não fazemos parte do mesmo mundo, e nunca faremos.

— Acho que preciso de um capuccino com muito chocolate — Jessie se levanta estampando um sorriso e eu faço o mesmo, me sentindo aliviada por ela não perguntar mais nada.

Andamos até o estabelecimento do outro lado da rua enquanto dezenas de coisas martelam minha cabeça.

E tudo a respeito dele.

E tudo a respeito dele

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(...) Estava sentada quando, meus olhos se arrastaram por todos os cantos. Era como se eu estivesse à procura de alguém. Tendo uma breve sensação boa, incrivelmente boa – embora tenha sido quebrada no segundo em que o encontrei.

Virado para mim eu pude notar que Brandon estava se divertindo com seu grupo de amigos e, quando ele finalmente notou meu olhar sobre si, minha pulsação ficou uma fração mais descompassada.

Não me dei ao trabalho de discutir comigo mesma a razão para isso.

Entretanto, ele deu de ombros. Exatamente. Brandon olhou friamente em minha direção e sequer importou-se.

Fiz o trajeto para a sala sussurrando mentalmente que aquilo não havia sido nada demais. Porém, em alguma parte da aula, não deixei de escutar a conversa entre duas garotas que estavam sentadas na minha frente.

Fora instantâneo.

— Ele veio falar comigo na entrada — uma delas com lábios carnudos, dizia com entusiasmo nos olhos. — Nós vamos sair.

Descansei meu braço na capa de um dos livros, tentando desviar do assunto alheio, mas aí ela continuou a falar.

— Eu e Campbell formaríamos um belo casal... — meu corpo ficou pouco mais tenso. — Tipo, isso pode acontecer.

Engoli em seco me concentrando nos quadros velhos e medonhos pendurados na parede.

Tsc, tsc – quanta falta de sorte.

Uma risada brotava em meu corpo enquanto a frustração se fazia presente do mesmo jeito. Me senti estúpida, mas esperta o suficiente para ter recuado antes mesmo de alguma coisa acontecer. A animação dela era somente por ele, por Brandon.

Meus cálculos estavam certos.

O fato é, não fazia sentido quando na verdade, eu parecia perdida.

Estranho nunca teve tanto impacto para mim.

Uma hora isso viria a acontecer. Brandon não ficaria insistindo em alguém como eu. Ele não sairia no lucro.

Com todas as forças contrárias que me prendiam e, mesmo assim eu tive de admitir que por meio minuto, pensei que Brandon poderia aparecer na minha frente e implicar comigo. Achei que ele fosse contar alguma piadinha ou me encarar até eu me queimar internamente. Qualquer coisa que atrapalhasse meu dia.

Mas não.

Na realidade, ele me ignorou.

Tentei afirmar a mim mesma que isso era bom. Sem ele na minha vida, sem chances de ter problemas. Mas uma parte minha continuava vaga, tentando absorver algo que eu sabia que não era verdade. Não sei interpretar e tampouco brincaria com meu lado emocional nesse estado.

Porque eu sempre acabo me dando mal, de qualquer maneira.

Contra as leis do amorWhere stories live. Discover now