Dois

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— Um café sem açúcar, por favor. — pedi gentilmente ao rapaz do outro lado do balcão, que atendia por "Alfie".

— O mesmo que o dela.

Odeio segundas-feiras, mas aquela odiei em especial.

Só então quando olhei para o lado, percebi que Campbell ali estava. A voz soara meio rouca e, ao mesmo tempo suave. Não olhávamos um para o outro, mas o pequeno sorriso em seus lábios me encabulou.

Fiquei curiosa barra surpreendida com sua presença.

Não me dei o trabalho de perguntar nada porque pensei, afinal, que ele nem mesmo se lembrasse de mim. E não tinha importância – até um determinado momento. Ou melhor, quando ele descaradamente me seguiu.

Relaxei numa mesinha perto da janela ajeitando minha mochila na cadeira, uma vez que eu tinha acabado de deixar a universidade. E por falar nisso, fiquei orgulhosa por saber do nove no teste de física merecidamente tirado, depois das noites estudando me renderem olheiras enormes. Digamos que sou péssima na matéria do senhor Cooper.

Até aí, bom. Bastou eu ouvir o barulho da outra cadeira se arrastando na minha frente.

— Me lembre de nunca mais pedir café sem açúcar.

Ele agiu tão naturalmente, como se fôssemos conhecidos. Tipo, valeu-por-me-deixar-sentar-aqui. Fiquei atônita o observando fazer uma careta e logo revirei os olhos.

— Não me lembro de tê-lo convidado — disparei prontamente, o fazendo rir. Foi o que ele fez, riu. Isso me deixou irritada.

— Peço desculpas se estou lhe incomodando, mas achei que não se importaria — seu tom era puramente sarcástico.

Aquilo soou como uma provocação para mim.

— Achou errado.

— Só por saber, mas, esse lugar já está ocupado?

— Não.

— Então.

Cruzei os braços e respirei fundo para não acertá-lo.

— Olha, começamos mal — ele afirmou mais para si próprio, me abrindo um largo sorriso em seguida. — Mas também não quero forçar.

Por mais irrelevante que seja, é importante citar que, quando ele sorriu, nossa. Eu não deveria pensar que algo nele pudesse ser emocionalmente destrutivo, mas o fiz.

— Então, tipo, é um prazer conhecê-la.

Nós meio que já havíamos conversado, ora.

— Não sei se posso dizer o mesmo — rebati instigando-o.

Eu tentava ser grossa propositalmente para me poupar de algo, na qual não fazia ideia de o que era. Mas ele desprezava isso, me deixando absurdamente irritada.

— Ainda vai.

É admirável o fato de Brandon ter um ar presunçoso. Soube desde o momento em que nos encaramos, e até hoje penso assim. Uma parte de mim passou a repudiá-lo miseravelmente, embora houvesse ainda, uma parte atraída pelo felizardo - que eu digo à mim mesma não existir.

Mas (infelizmente) existe.

Dei um gole em meu café.

O celular dele vibrou uns dois minutos depois, o fazendo se levantar. E é claro, ele sorriu antes de se dirigir a saída, ainda sibilou um "nos vemos em breve, Emma". E aí contestei comigo mesma dizendo que ele havia memorizado meu nome... Sim.

O que alguém levaria tanto tempo para despertar em mim, ele nem se esforçou para o fazer em alguns segundos. Se os problemas não aparecessem em boa forma e com beleza cativante, talvez eu não precisasse me esforçar tanto para afastá-lo. Seria uma preocupação a menos.

Não é futilidade, é lógica.

Errada estava eu, por pensar que havia sido mais um desencontro da vida e nada além.

Isso se repetiu pelo resto da semana. Não nos vemos a toda hora, embora estudemos no mesmo lugar. Honestamente, não sei qual seu objetivo.

Mas Campbell é um pesadelo.

É aquele tipo de encrenca que, enquanto eu puder manter longe, eu o farei.

Contra as leis do amorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora