Quinze

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Cá estou eu. Outro dia, mesma coisa. Hope conseguiu entradas para os jogos que começam daqui duas semanas, já sabe o quão histérica ela deve estar? Porque ela está, e muito. Ver caras suados correndo atrás de um objeto esférico parece ser a praia de tantas pessoas.

Não a minha.

Ela me cutuca e pisca para mim, fazendo com que eu a xingue – estresse matinal: confere. O que eu não esperava, é que Griffin estivesse avisando sobre a sombra que paira sobre mim em seguida, interrompendo minha leitura silenciosa no belo gramado que a universidade oferece, com o belo sol que faz do protetor solar, uma obrigação.

Com um dos olhos meio fechado, tento lentamente espevitar quem está de pé cobrindo minha luz natural.

— Olha só, — toda estabanada, Hope se ergue com sua bolsa de coelhinhos quase tropeçando — Jessie deixou de ir buscar meu suco, acho melhor eu ir atrás dela, né? — o sorriso ilegítimo e semicerrado não deixa seu rosto nem mesmo quando ela some dentre o campus.

Meu corpo quer deixar minha zona de conforto, mas algo repete “não”. Nos últimos dias estive acostumada com sua presença, mas aqui, em Prince Hills, é meio difícil apagar sua reputação e substituí-la pelas coisas que o mesmo tem feito ou falado.

Eu sei, é tolo pensar assim.

— Não vai nem dizer oi? — Brandon se abaixa ao meu lado, percebendo minha atenção distante.

— Você é quem deveria fazer isso.

Ele abre um sorriso torto e encara todo o movimento frente a nós.

Droga, garoto.

— O que vai fazer neste fim de semana? — sua pergunta me deixa irresoluta. Eu acharia engraçado se não fosse trágico o fato de ele estar me fitando a espera de uma resposta.

Solto uma risada nasal e volto a folhear meu livro.

— Vai me ignorar agora?

Nem se eu quisesse conseguiria.

— Não tenho planos para o fim de semana. Mas se tivesse, por que se interessaria?

— Porque eu tenho planos para nós dois.

— Você bateu a cabeça em algum lugar, só pode.

— Emma — ele me força a encará-lo — do que tem medo?

Que pergunta... sem sentido.

— Eu não sinto medo, Brandon — engulo em seco. — Por que pergunta?

— Suas dúvidas a meu respeito são constantes, o que me faz tentar provar que não sou esse tipo de cara.

O que exatamente seria “esse tipo de cara”?

Respira fundo, Phillips.

— Não gosto de você.

— Me dê bons motivos para que eu aceite isso — Brandon repreende e enfatiza: — bons motivos.

— Está me convencendo, Campbell — dou um sorriso de lado. — Seu esforço está fazendo efeito. É por isso que não gosto de você.

Se nossas cenas fossem retratadas em filmes, ninguém teria paciência para nossa troca de olhares únicas que liberta as borboletas na barriga.

— Isso significa que meus planos estão de pé?

— Se me contar, eu penso.

— Não seja curiosa, quero te surpreender.

— Eu não gosto de surpresas.

— É porque você quer ter certeza de que tudo segue como pretende, não acha?

Numa linguagem mais simples, eu quero estar acima e com o controle da situação antes que tudo desmorone.

É, eu definitivamente acho.

— Você ao menos sabe o que pretendo?

— Se livrar de um bonitão como eu por insegurança. Mas posso te falar uma coisa? — mais do que já constatou? Afirmo positivamente com a cabeça — Às vezes se desviar da linha pode ser o erro mais certo de nossas vidas.

Eu sei o que ele quer dizer com isso. E eu sei que pouco a pouco toda essa corrente está se quebrando. Eis o problema: facilmente se quebra, dificilmente se estabelece novamente.

Odeio mirar seus olhos sem saber o que há por trás deles.

— Nota dez para seu pensamento filosófico que estimula o erro singelo — ajeito minhas coisas para me levantar e vejo que ele o faz primeiro, estendendo a mão para mim. 

— Quem garante que será singelo?

Fico em silêncio antes que eu corte esse momento esperto que ele presume estar tendo.

— Acho melhor eu ir.

— É. Eu também.

— Tenha um bom dia, Campbell.

— O mesmo, Phillips.

Antes que eu o deixe, ele me puxa para um abraço – e eu pensando que as coisas não poderiam ficar mais esquisitas.

Fico sem jeito. Talvez eu tenha sido meio gélida ao corresponder ao seu gesto. Mas não vou negar, seu cheiro impregnado em minha blusa dá-me uma sensação tão boa.

Muito boa.

Contra as leis do amorWhere stories live. Discover now