Dezessete

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Uau, Brandon.

Você me fez pensar sobre o improvável mais provável que pode nos acontecer. Isso pode soar confuso, e, na verdade, é uma ideia ultrapassada de que podemos dar certo. Nós dois sabemos que isso é uma merda. E eu não quero ser egocêntrica, porém, será pior para mim.

Ainda posso sentir seus lábios nos meus. Seu gosto. Seus toques impróprios enquanto a água abalroava com nossos corpos . Meus dedos passeando pelo seus fios de cabelo molhados e ainda assim, macios.

Nós nos beijamos, Brandon.

E por mais simplório que um beijo seja, o nosso não foi. Sei que não. Quando poderia imaginar que me atreveria a sair com você? Nunca. Ficar com você então... Ew.  

Uma inexistência falsa. 

Ainda estou parada na porta do meu apartamento, sorrindo para a droga da tela do celular. Sua mensagem: "princesa, espero que tenha um dia tão radiante como o meu, que só de pensar em você torna-o perfeito", me faz sentir uma tola. Idiota. Cem por cento iludida pela utópica sugestão de que você se importa. E por que estou escrevendo assim? É um desabafo – daqueles que você narra uma cartinha com seus sentimentos.

Faço minhas panquecas matinais cantarolando a música mais patética que já ouvi, e mesmo que eu quase tenha queimado o dedo, não liguei. Passei a madrugada assistindo documentários criminais e amanheci dez minutos atrasada e com uma cara horrível, e isso não fez de mim um adulto impaciente.

A culpa é dele.

Estou pronta para encarar a mais um dia chato.

E desta vez, respiro fundo.

Enquanto ando perdida com meus devaneios, a mais ou menos duas quadras de Prince Hills, escuto alguém gritar meu nome ao outro lado da rua. Instantaneamente me viro, acenando para Jessie, que presumo segurar dois copos de chá, pela logo do estabelecimento que ela se encontra a frente.

Certifico de que não há carros em minha direção e atravesso, indo até a mesma.

— Ei.

— Oi — ela beija minha bochecha com o maior entusiasmo — e aí?

Franzo o cenho com uma dúvida pairando em minha cabeça.

— Vai me contar sobre Campbell enquanto caminhamos juntas até a universidade — Jess passa o braço por baixo do meu e começamos a trilhar duplamente o caminho. — Não tem escapatória desta vez!

— Tá bom, tá bom — repito dando risadas. — Mas, por que esses dois chás?

— Um para mim e outro para o Stephen. O preferido dele, que a propósito, é nojento.

Reviro os olhos.

— Não me julgue.

— Quem disse que estou fazendo isso? Só acho essa situação...

— Ruim?

— Embaraçosa.

Em-ba-ra-ço-sa.

Encaro seu rosto de porcelana quando vejo ela caminhar dez vezes mais lento, quase parando.

— Eu usaria essa palavra para definir isso — com o queixo, Russell aponta para um canto mais distante e sigo seu olhar metediço. Ela mede a minha, o nosso, caso.

Ouço um "boa sorte" sair de seus lábios e me viro, cravando meus olhos desorientados nos dele.

Campbell devia estar me assistindo desde o segundo em que passei a estar no seu campo de visão. Seu cigarro é mais um acessório que não sai de sua boca. O que o deixa charmoso mesmo, é o estilo descolado igual àqueles playboys que se contradizem na hora de se vestir. Eu não ia cumprimentá-lo, mas não acharia justo, e certamente, me arrependeria. Contudo, aqui vou eu.

— Oi — enfio as mãos no bolso da minha calça jeans tentando não deixar transparecer minha insegurança.

— Oi, Emma — ele traga o cigarro. 

Coisas simples para nós não são simples.

Ainda mais quando há outras pessoas que nos cercam, que observam.

Sou surpreendida quando ele me puxa para si e deposita um beijo nos meus lábios. Imprevisível. Modesto. Inesperado – um vocabulário inteiro não compreenderia minha sensação, que agora, está me fazendo sorrir internamente sem parar.

É isso?

Do ódio a troca de carícias em frente ao prédio que estudo.

Com a pessoa que até então, eu repudiava com todas as forças.

— Me desculpe — ele sussurra enquanto ainda estamos presos ao abraço um do outro.

Fito seu rosto com a sobrancelha erguida.

— Sei que não se sente bem assim.

— Estou me esforçando, Campbell — sorrio — não se desculpe.

Ele coloca uma mecha do meu cabelo para trás da orelha e diz com ousadia:

— Nem parece aquela menina esnobe que quando quer, sabe ser uma destruidora de corações.

— Menina esnobe? — me inclino levemente para trás.

— A mais bela das esnobes.

— E você, o mais belo traste.

— Me acha bonito, então?

— Não disse isso.

— Não diretamente, mas disse.

— Foi só para antagonizar com a sua frase, e quer saber?! Isso nem tem importância.

— Não mesmo. Afinal, temos outras coisas a serem discutidas — Brandon segura firme minha mão.

— Temos?

— Ou você acha que estamos bem assim?

— Especifique o 'assim'.

— Assim — seu dedo gesticula o vácuo entre nós. — Enfim. Não quero te atrasar para a aula.

Merda.

— Ainda bem que lembrou — entreolho meu relógio de pulso gasto. — Acho que devo ir.

Me despeço de Brandon com um tchauzinho estilo miss desfilando para uma platéia com um nervosismo que não se mede mas se sente, que acanha, me deixa corada e com raiva.

Anormalidade nunca foi tão normal em minha vida.

A certeza que tenho, é que mil coisas martelerão minha cabeça daqui em diante. Mil coisas que me comprometem, comprometem minha dialética.

Me faz querer ir mais fundo.

Mais e mais.

Até ter a certeza que irei me assombrar com minhas próprias figuras malignas.

Contra as leis do amorWhere stories live. Discover now