Quatorze

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— Sua casa é deslumbrante — digo ainda fantasiada pelo apartamento em que Brandon mora, ao menos, o qual ele me trouxe – muito embora seus pertences se encontrem por toda parte, então...

É de fato uma residência e tanto. Não é pequena demais, nem grande demais. A decoração é meio insólita, porém confortável. Meus olhos percorrem todos os cantos e prateleiras, até fitar uma única foto em que Campbell aparece com outras pessoas e não somente ele e seus prêmios ao longo de vinte anos. Reprimo os lábios quando imagino ser mais do que pessoas comuns, e sim, sua família.

Ele acaba percebendo meu olhar curioso e então pigarrea, me fazendo encará-lo com um enorme ponto de interrogação. Sua expressão sorridente se transforma numa nuvem escura que persegue o sol, e sei que ele não está a fim de falar sobre nada disso, uma vez que ele deixou explícito seu descontentamento ao tratar de assuntos pessoais. No entanto, sua boca se move lentamente, fazendo minha atenção se fixar a ele.

— Estávamos em Bayviltch — ele sussurra enquanto analisa a fotografia. Eu até poderia dizer que ele não precisaria se sujeitar a contar o que não fosse de sua vontade, mas meu lado interessado por ele, almeja saber mais e mais. Mesmo que coisas pequenas, sinto essa necessidade. — Neste dia, pesquei um grande peixe pela primeira vez. E ele foi nosso jantar.

Passo a observar o semblante de cada um na imagem: sua possível mãe, tão radiante. Seu olhar é como o dela, Brandon. Obscuro e cativante. O cabelo castanho bate nos ombros, e ela usa um chapéu com fita lilás que contrasta perfeitamente com o mesmo. Seu riso fora espontâneo, em direção ao homem ao seu lado, com fios de cabelo brilhantes e pretos feito jabuticabas. Um óculos estilo retrô esconde seus olhos, mas suas características são de alguém vaidoso. Cada vez mais meu coração se aperta um pouquinho, e quando vejo um projeto de jogador de futebol com uns nove anos segurando um peixe e um sorriso sem ambos os dentes da frente, meu peito se enche.

— Eu adorava passar os finais de semana por lá. Nos ver juntos, como uma família, se divertindo — ele suspira e cruza as mãos. — Não sei nem porque ainda mantenho essa merda aí.

Brandon está zangado e não tiro sua razão.

Não é legal mexer em feridas ainda não cicatrizadas.

— Escuta, tá tudo bem — me aproximo sutilmente e pego em sua mão, tentando dar conforto a ele. — Você mantém porque é algo bom. Viveu aquilo e não pode se escarmentar por uma coisa que já se foi.

Um riso se estampa em seu rosto, amável e confuso.

— Você não sente falta do seu pai? Sei lá. Todos juntos? — ele questiona com um ar de "você é mais forte que eu" – por mais que estejamos no mesmo barco.

— Não — justifico com frieza relembrando nossos últimos momentos reunidos. — Estávamos vivendo uma farsa, fingindo estarmos bem quando na verdade... não estávamos.

É isso e ponto.

O infinito não é tão infinito assim. As histórias são belas quando contadas de um único ponto de vista: o do amor. E onde está o outro lado, quando o príncipe sai da cena? Temos de aceitar o fim e recomeçar.

— Me desculpe — Brandon abaixa a cabeça tentando se redimir pelo momento não esperado — Não era pra isso estar acontecendo.

— Talvez, fosse sim.

Finalmente posso encarar seu rosto, mais perto, com mais detalhes. Brandon Campbell se abrira antes com alguém? Essa pergunta por mais boba que seja, é significativa.

Seu polegar massagea minha boca, nossa conexão é forte, e eu sei, sei que não posso ser tomada por essa cobiça que está longe de ser verdadeira. Me arrepio por inteiro, acho que perdi a cor no segundo em que ele atreveu-se a me tocar.

Deus.

— Onde estão os livros? — engulo em seco quebrando todo o clima.

Ele sorri, em resistência.

Passado alguns minutos, ali estava Emma Phillips, em um dos cômodos mais pequenos do apartamento. Como passo chamar? Talvez um escritório pouco usado. Mas isso não invalida o fato de ter muitos livros a disposição, até pego um deles. Bem aleatório. Porque na verdade, vamos ao terraço – três coisas que combinam com a noite, e ainda falta o vinho!

O universo tem conspirado a meu favor.

As luzes da cidade caem tão bem quando combinadas com o céu escuro, a noite. Se eu tivesse uma área dessas bem em cima do meu prédio, provavelmente eu moraria lá metade do dia apenas para admirar a fantástica panorâmica. Mas aqui, aqui é excitante. A vibração é máxima.

— Obrigada por aceitar ter vindo — Campbell surge ao meu lado enquanto meu cabelo já bagunçado voa graças ao vento aqui de cima.

— Quem recusaria uma vista dessas?

Nós dois nos sentamos em umas cadeiras com pinturas estranhas enquanto enchemos as taças de vinho.

— É, as pessoas costumam vir aqui vez ou outra. Eu por exemplo, venho para pensar.

— Você faz isso?

Nós dois rimos, obviamente.

— O que você tem contra jogadores bonitões da universidade, garotinha?

— Não tenho nada contra os jogadores, só não gosto da conduta deles.

— Muitas festas, drogas e garotas. Compreendo.

Ele é quem está dizendo, não eu.

Aliás, estava tudo terrivelmente bem até ele vir com essa de cigarro novamente. Todavia, Brandon não é ele sem essa nicotina entre os lábios. Ele não parece um maltrapilho qualquer, nem quando faz isso.

— Já gostou de alguém? — questiono meio instável, receando minha própria dúvida. — Tipo, de verdade?

Você não parece ter caído de amores por uma pessoa, Campbell.

Ele estuda minha expressão, minha fala.

— Eu não faço o tipo de cara que gosta de alguém, talvez eu nunca faça.

Pondero sobre sua justificativa vazia.

— E quanto a você?

Fito seu olhar demonstrando parcial retraimento.

— Se gostar de alguém é presenteá-lo com cartões com frases copiadas do facebook, acho que não.

Por detrás da fumaça que cobre seu semblante, vejo seu sorriso incrédulo.

— Desde quando você é piadista?

— Desde a hora em que você resolveu comprar essa belíssima garrafa de vinho.

— Posso comprar outras mil se isso faz você virar minha companhia.

— Está me chamando de influenciável?

— Estou a chamando de inteligente. Quem não viria?

— Não queira me comparar com suas meninas, Brandon Campbell.

Ele meça sua próxima palavra, consciente de que me provocar não fará nada além de atiçar minha raiva.

— Na realidade, eu não as compararia com você — ele vem andando até mim e se abaixa, ficando a minha altura — você é singular, Emma. Enxergue isso.

Não movo um único músculo, tentando não desbancar a moral. Mantendo a Phillips que não deveria aceitar tais afirmações, mas porra! Como é difícil estar na minha pele. Como é difícil ter Campbell como desafio na minha vida (recém construída) amorosa.

Será difícil não morder a isca.

Não pecar.

Contra as leis do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora