Capítulo 01

20.8K 1.4K 237
                                    


São mais de 24 horas esperando a minha mãe em uma cela, dentro de uma prisão. Posso me considerar uma criminosa? Nãããão, é claro que não! Eu não fiz nada de errado, só estava curtindo a minha festa de 18 anos, esse é um aniversário importante. Não é o que todos dizem? Minha mãe precisa entender que noites de curtição dão boas histórias. Ela já foi adolescente, todas as mães precisam lembrar os erros cometidos na adolescência antes de nos criticar e arrancar nosso celular, como se fosse o pior castigo do mundo. Hallo, mães... Existem os Notebooks e as smart tv. Hoje em dia o mundo gira em torno da internet, nos tirar o celular por uma semana não vai destruir nosso contato com o mundo. Mães, como sempre iludidas!

─ Solana? ─ Um senhor carrancudo chama-me.

Vejam só, ele pensa que eu tenho medo de expressões feias. Cara feia para mim é fome meu querido, vai comer uma rosquinha, não essa cena que sempre assistimos em filmes, um policial gordinho devorando um bolinho?

─ Sou eu. ─ Levanto-me do chão frio.

─ A tua mãe está lhe aguardando! ─ abre a porta da cela. ─ Jovens, às vezes me pergunto: Para onde foge o juízo de vocês?

Juízo? Com 12 anos imaginava minha fase adulta diferente, mas eu sou assim. Caminhando sem rumo, trazendo comigo minhas loucuras. Aqui no meu peito nada existe, nem um único resquício de sentimento. Não quero pensar que sou uma pessoa cruel. No entanto, em meu coração existe um buraco, onde o gelo fez morada. Não estou sendo dramática, estou apenas falando a verdade. Não sinto, não choro, não faço questão de ser o bem, de fazer o bem. Eu só quero risadas histéricas, bebidas e beijar na boca e esquecer… Amar machuca, não ame, não se prenda a sentimentos que lhe torna fraca, uma inútil. Não quero lembrar e não posso lembrar!
A minha mãe estava me esperando nos bancos da delegacia, com os olhos vermelhos e as poucas rugas do seu rosto mais marcadas. Não hesito, sempre a encaro, nunca abaixo a cabeça.

─ Oi mãe! ─ Digo, não sinto nada. Um único arrependimento.

─ Eu estou tão perdida. ─ passa mão no rosto, limpando as lágrimas. ─ Eu não sei mais o que fazer com você.

É lógico que não!
Eu sou um caso perdido, eu sei disso!
Não consigo melhorar, mesmo que me esforce, mesmo que lute para mudar. As lembranças chegam me impedindo de seguir em frente. Então, fujo para noite, para os bailes, para casa das amigas e vivo intensamente, bebo, danço e me divirto. Sem pensar nas consequências.

─ Dana-se. ─ respondo. ─ Vamos embora!

Saio da delegacia com a minha mãe no meu encalço, ela soluçava baixinho. E nesse momento estou me xingando mentalmente, maldito coração… Por que você não sente nada?
Entramos no carro velho e sem graça que a minha mãe comprou, graças ao emprego novo que conseguiu. Ela é formada em jornalismo, mas há anos estava lutando para conseguir uma vaga de emprego nos maiores jornais do Rio de Janeiro, com a crise que está instalada nos jornais, a luta para conseguir um emprego estava cansativo. Passamos algumas dificuldades nos últimos anos, não posso negar. Mas eu quero que tudo se exploda, igual uma bomba atômica!  

─ Pode por favor me contar o que aconteceu? ─ Pediu, fungando o nariz.

─ Não foi a minha culpa, eu só estava na casa da Dyandra, comemorando meu aniversário. Decidimos dar um giro na cidade. E um dos garotos quebrou a vitrine de uma loja, e um policial à paisana acabou nos flagrando. O resultado você sabe!

Girassol (Até 20 Agosto) Where stories live. Discover now