Capítulo 02

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Se alguém me perguntar qual caminho seguir na minha vida, minha resposta é simples: O caminho que não me faça sentir.
Não estou optando pelo sofrimento, como vocês podem estar pensando. Eu só estou me protegendo, eu não quero me despedaçar novamente, não quero chorar horas em cima de um túmulo no cemitério. E depois de alguns anos agir, como se nada tivesse acontecido. Como se nosso coração ainda estivesse intacto. Ah, não quero ser hipócrita, não quero dizer a vocês: No final encontramos a felicidade.  
Não quero ser clichê, o final feliz não chega, a dor permanece. Sinto muito em lhe informar, ela vai permanecer com você a cada segundo. A cada esquina, você pode passar em frente de uma sorveteria e as lembranças mais assombrosas vão lhe consumir. Te devorar como um animal faminto. Não pode fugir, EU não consigo fingir que nada aconteceu.  
Na manhã seguinte, após a minha prisão, a minha mãe e a minha irmã cochichavam, quando entro na cozinha as duas cessam a conversa imediatamente. Sei que estão falando sobre a minha vida desastrosa, mas eu não me importo!

─ Solana. ─ pronuncia-se a minha mãe. ─ Conversei com o seu pai ontem a noite.

Meu corpo estremeceu, eu faço de tudo para minha mãe não perceber. Abro os armários procurando o achocolatado.

─ Hmmm. ─ resmungo.

─ Ele nos convidou para viajar para Minas Gerais, não é incrível? ─ Violet comenta com a voz entusiasmada. ─ Infelizmente, eu não posso por causa da Universidade. Porém…

─ Eu não vou!

─ Sol, apenas escute.

─ Não quero. ─ insisto, minha garganta oscilava.

─ Você vai. ─ Rebate minha mãe, ríspida e decidida. ─ Quantas vezes eu alertei, eu não aguento mais. Sol, você foi expulsa de três colégios, não terminou o ensino médio, sempre está metida em confusões, preciso buscá-la na casa das amigas. Fica dias fora, sem me avisar, sem mandar uma única mensagem. ─ puxa o ar. ─ Cansei, ontem foi a gota d'água para mim. Você vai viajar amanhã para Minas Gerais, e vai permanecer na fazenda por um ano.

─ Mãe, você está sendo muito radical. Sol, não foi a culpada. Ela só estava envolvida com as pessoas erradas.

─ A sua irmã é a pessoa errada, ela é estranha.

Violet ficou pálida, a minha cópia exata. Gêmeas idênticas, Violet é apenas 5 centímetros mais baixa. No resto, tudo igual. Até mesmo a marca de nascença em nosso ombro. Meu reflexo vivo!
Quando olho para Violet tenho a impressão de ser bonita, apesar da minha irmã ser mais vaidosa. Sempre maquiada, os cabelos perfumados e bem arrumada.

─ Eu não vou! ─ volto a retrucar.

─ VOCÊ VAI SOLANA. ─ Grita a minha mãe. ─ Sérgio vai buscá-la no aeroporto.

Engulo em seco, suplicando ajuda a minha irmã, que está atordoada com tudo.

─ Sol, você precisa encontrar um sentido para a sua vida. Ainda dói pensar no passado…

─ E você está me mandando de volta para lá. ─ altero a voz. ─ Para enfrentar os seus demônios.

Minha mãe encolheu os ombros, sua expressão ficou sombria.

─ Já chega! ─ Violet levantou-se da cadeira. ─ Sol, será bom o ar puro da fazenda. Um recomeço, você não precisa bancar a legal…

Girassol (Até 20 Agosto) Where stories live. Discover now