Capítulo 06

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Um quarto com um estilo vintage, móveis de madeira retrô, uma cama antiga com um belo dorsal, o ambiente claro. Com um pintura rosa, mesclando um delicado lilás, muitas almofadas na cama. Uma penteadeira clássica, até mesmo uma banheira vitoriana. O quarto tem uma decoração romântica, é muito bonito, Eu gostei.
O problema foi a pequena cômoda rústica,  meu coração acelerou quando vejo um porta-retrato e nele a foto de uma família feliz. Não pensei duas vezes, quebrei em pedaços, pisando em cima do vidro, rasgando a foto em mil pedaços. Por que eles estão fazendo isso comigo? Por que insistem em lembrar? Deito-me na cama, em uma posição fetal, abraçando meu próprios joelhos. Faço todo o esforço para chorar, para as lágrimas afogar até mesmo a minha alma. Mas… nada! Nem um eco de sentimentos aqui dentro. Só um coração totalmente descontrolado e não entendo os motivos.
Passei o fim da tarde trancada em meu quarto, evitando contato com todos que vivem nesta fazenda, principalmente com meus familiares. Minha avó constantemente tentava me animar, batendo na minha porta, deixando a minha mente mais perturbada. A noite, não desci para o jantar, aquela foto maldita me tirou a vontade viver - de continuar. Não entendo porque ainda luto, porque ainda insisto na caminhada!
O vento batia fortemente nas janelas, as maneiras rangiam e som da noite era sombrio, como meu coração. Pode parecer loucura, mas nunca dormi tão bem, mesmo em uma Mansão tão aterrorizante. Acho que o lugar silencioso e sombrio combina com meu estado emocional.
No dia seguinte acordei faminta, desci para cozinha já com meu discurso de ódio ensaiado sobre a foto, mas quando passo pela porta… Simon? O quê? Pisco confusa, meneando a cabeça. O rapaz segurava em seu colo um porquinho. Lembrava um dálmata, cheio de pintinhas. O animal dormia tranquilamente no colo do rapaz, que conversava alegremente sobre uma feira na cidade. Minha avó parecia apaixonada pelo homem e a tal de Bruna, estava completamente derretida, apoiando-se na mesa.

─ Bom dia! ─ Digo emburrada, sento-me na cadeira.

─ Bom dia, Solana. Como foi a sua primeira noite na fazenda? ─ Pergunta-me Bruna.

─ Você gostaria de conhecer o inferno?

A garota enrijeceu o corpo, sua expressão ficou enraivecida.

─ Eu só estou tentando ser legal.

─ Foda-se!

─ Sol, querida… ─ minha avó me olhou com pesar. ─ Bruna é uma garota bondosa, só está…

─ Só está usando uma máscara. Está querendo agradar quem? O meu pai, o lenhador com o porco no colo? ─ sorri com desdém para o Simon.

Mas o rapaz não retrucou novamente, ele só ficava me analisando. Como se estivesse entrando na minha mente, um semblante sério e as sobrancelhas franzidas. O que esse homem…

─ Solana, por favor. ─ Lamuriou minha avó.  ─ Temos uma surpresa para você. Simon está aqui porque nós ajudou com todos os preparativos. E a Bruna também.

A garota forçou um sorriso.

─ Foi um prazer. ─ comenta ela.

Oh Deus! Não suporto, vou tirar a minha própria vida antes do esperado.

─ Odeio vocês, isso significa que eu odeio as surpresas vindas de vocês.

A querida Dona Mariana ganhou um rubor na bochecha.

─ O ódio é um sentimento preocupante. ─ Pronuncia-se Simon. ─ Ele prevalece quando existe um vazio interior, ele parece para tornar traumas emocionais maiores. O ódio é um sentimento autodestrutivo.

─ Hmm. ─ ergo os ombros. ─ Um caipira poético. Que inusitado. Os tempos modernos chegam até para os homens das cavernas.

─ Meu Deus, qual é o teu problema? ─ Esbravejou Bruna, deixando a sua máscara cair por alguns minutos.

─ O meu problema? ─ ri com desdém. ─ É essa fazenda, as pessoas que nela vivem.

─ Sol, acho que um pedido de desculpas, é o apropriado. Simon é um bom rapaz, ele não merece ser atacado.

─ Tudo bem Dona Mariana, eu não me sinto ofendido. ─ assegura, se abaixando para soltar o animal no chão. ─ Honestamente, acho o comportamento da sua neta intrigante.

─ Intrigante? ─ mordo um pedaço de bolo e completo com a boca cheia: ─ Você é doente!

─ Perdoa-me Dona Mariana, mas pretende mostrar a sala para ela ou não, porque prefiro a companhia de um gambá fedorento!

─ É sempre bom apreciar a companhia dos familiares. ─ Revido, fazendo Bruna ranger os dentes de raiva.

─ Uma boa ideia. ─ comenta a minha avó. ─ Simon, por gentileza siga em frente.

O rapaz sorriu, concordando e moveu-se em direção a sala de visitas. Mesmo relutante precisei segui-los. A minha avó parecia extasiada, a senhora só faltava pular enquanto caminhava. Bruna seguia calada e carrancuda. Simon, bem… Não sei qual é desse garoto!
Paramos em frente uma porta dupla, os três fazem um suspense desnecessário.

─ Preparada? ─ Pergunto-me Dona Mariana.

Revirando os olhos, faço que sim com a cabeça.
Simon e a Bruna abrem a porta e… Oh não! Meu corpo congelou, eu queria gritar mas a minha voz não saía. Fazia seis anos que não derramava uma lágrima, fazia anos que eu não sentia nada. E agora, eles trouxeram tudo a tona, tudo que tenho lutado para manter quieto e protegido aqui dentro. Com meu rosto molhado, arrasto minhas pernas no corredor, ainda em choque…
Caminho…
Mais rápido… Rápido!
Estou correndo rumo a cozinha, procurei desesperada por uma faca e encontrei uma simples de serra, essa vai servir! Minha avó, Bruna e Simon no meu alcanço a todo instante, volto para a sala… Com uma iluminação perfeita para pintura, fico encarando aquelas telas, sentindo o cheiro de tinta. Eles não tinham esse direito… NÃO TINHAM!

─ Sol, o que você vai fazer com essa faca? ─ Questiona a minha avó, com a voz trêmula. Ela está chorando? Ah, dane-se, ela me fez sentir, tem pagar. Todos têm!

─ Shh, Dona Mariana; ─ Simon aproximou-se, cauteloso. ─ Sol, preste atenção na minha voz. Eu posso ajudá-la, eu sei que está doente. Não fizemos essa surpresa para atingir os seus medos…

─ Simon, ela é louca?

─ QUIETA BRUNA. ─ ele alterou a voz. ─ Olhe para mim.

Não consigo, eu quero olhar para ele, quero me mover em sua direção. No entanto, tudo dentro da minha cabeça está dizendo: Eles querem que você sinta!
Então, segui meus pensamentos e deixei o surto tomar controle novamente. Os gritos da minha avó eram assustadores, enquanto eu berrava, chorava e rasgava todas as telas usando a faca e às vezes me ferindo também, enquanto quebrava o belo ateliê de pintura. Enquanto um colapso nervoso percorre meu corpo e não senti as minhas pernas, me estatelando no chão.

─ Meu Deus, o que está acontecendo com ela?

─ Dona Mariana preste atenção, eu preciso de calma agora.

Não conseguia reconhecer a voz de ninguém, um vazio, eu quero deixar esse vazio para sempre. Chega, não aguento mais…

─ Eu vou buscar uma água.

─ Solana, você tem um nome diferente. Um nome bonito, os seus músculos estão todos contraídos agora, eu vou abrir a sua mão. Vou apenas tirar a faca… ─ sinto meus dedos sendo abertos.

─ O que está acontecendo com a minha filha?

Ouço tropeços, soluços e uma voz familiar, eu não consigo falar. Não consigo raciocinar direito.

─ Senhor Sérgio, precisamos levá-la para um hospital.

─ Por que está com os braços tortos. Jesus Cristo, Solana está sangrando.

─ Por favor, vamos para um hospital agora!








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