Capítulo 17

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“Eu estou indo embora da fazenda”.

As borboletas do meu estômago morreram, eu não tenho a capacidade de me mover na cama. Simon continuava explicando a sua decisão, resultado da discussão com meu pai. Ele expulsou o Simon da fazenda, por quê? Minha cabeça latejava, não consigo compreender.
Tudo que estou me tornando é por ele, por Violet, por minha mãe. Um toque suave no meu rosto, me fez perceber que estou chorando.

─ Solana, ouça-me; ─ contorna minha sobrancelha com os dedos, carinhosamente. ─ Eu sou formado em psicologia clínica, estava pronto para começar a minha especialização, quando meu avô faleceu. Voltei a morar na fazenda e conheci você.

─ Vo-você é um psicólogo?

Ele sorriu sem jeito, o tom dos seus olhos estavam mais escuros e não cintilavam o brilho alegre de sempre.

─ Sim, eu estava tratando o seu trauma, com o consentimento do seu pai.

─ VOCÊ O QUE? ─ levanto-me, atordoada.

─ Solana, só me deixe explicar o que estou sentindo.

─ Não aproxime-se, eu era um tipo de experimento todo esse tempo? Uma paciente com uma mente intrigante para você trabalhar?

─ NÃO. ─ grita ele. ─ Você é mais Solana, muito mais. No entanto, eu sou um homem adulto, em novembro vou completar 25 anos. E você é uma garota…

─ Uma garota com transtornos e traumas. Eu entendi. ─ As lágrimas inundavam meu olhos.

Simon foi o meu refúgio, encontrei nele a confiança que sempre precisei. Uma amizade compreensiva e a força que precisava para enfrentar o que estava acontecendo comigo. E não posso me esquecer do sentimento, de tudo que ele me fez SENTIR, como me senti viva, quente e feliz. Como esse sentimento me fez querer lutar e quem sabe um dia melhorar.

─ Não é esse o problema, nunca será. ─ Simon tentou me tocar, mas descarto o movimento de carinho.

─ Nunca mais toque em mim! ─ rosnei de raiva.

─ Solana, por favor apenas me ouça.

Ignorei saindo do quarto.
Reconheci o local estou no Chalé. Desci as escadas, encontrando o meu pai alterado na pequena sala, ele discutia com um homem por volta de 30 anos, muito bonito e elegante. Quando notam minha presença os dois se calam!

─ Solana, minha florzinha como está se sentindo? Você desmaiou, eu fiquei tão preocupado. ─ Meu pai estava muito pálido e seus olhos arregalados.

─ Não te interessa como eu estou. Você só pensa em si mesmo. ─ disparei com a voz trêmula, resultado do choro que não cessava.

─ Filha, meu amor…

─ Eu não sou o seu amor, eu quero que tudo dane-se. ─ ouço os passos nas escadas, sabia que era ele, então viro-me em sua direção. ─ Principalmente você, quero você sinta Gustavo um terço da dor que me atormenta, quero você sinta tudo que me fez cair nesse poço de sofrimento. ─ Os olhos do belo rapaz lacrimejaram.

─ Já chega. ─ Esbravejou Dona Germana. ─ Solana, me acompanhe.

─ Não vou perder meu adorável tempo com uma velha rabugenta.

A senhora não se intimidou com meu ataque, ela endireita as costas, erguendo o queixo.

─ Menina, você precisa se alimentar. Venha comigo agora!

O meu coração saltava no meu peito, não queria magoar a Dona Germana. Ela é uma senhora boa, mas precisava reerguer as minhas muralhas de novo, construir os espinhos ao redor do meu coração. Na cozinha a benzedeira da fazenda me serviu um chá calmante e biscoitos recheados.

─ Coma e apenas me escute; ─ concordei com a cabeça, a Senhora suspirou e contínua: ─ Não culpe o Simon por suas escolhas. Ele é o único nessa fazenda que a ama verdadeiramente.

─ O quê? ─ Estaquei chocada.

─ Pensei não viveria para presenciar o meu neto preferido se apaixonar, então você chegou e mudou tudo. Sérgio está perdido não sabe qual caminho seguir, não sabe quais atitudes tomar para conquistar o coração da filha. Mariana está ansiosa e ontem a noite passou muito mal por vê-la desmaiando, precisou ser levada para um hospital…

─ A minha avó está bem?

─ Não se preocupe, criança! Existe um ditado que quis: Vaso ruim não quebra. A tua avó chegou hoje pela manhã, só precisou controlar a pressão em um hospital. ─ revela-me.

Suspirei fundo, aliviada… Acho que não estou preparada para outra perda.

─ Esse chá, tem um gosto diferente. ─ Digo, desanimada.

─ É uma mistura de ervas que controlam o estresse. ─ Dona Germana ficou com olhos fixos na minha xícara, seu rosto transmitia uma grande tristeza. ─ Simon, tem todas as qualidades do meu falecido marido. Um rapaz bondoso, alegre e incrível. Faltaram palavras para descrevê-lo e eu sei que sou suspeita, afinal, sou uma avó coruja. Mas acredite…

─ Ele vai embora, ele vai me deixar; ─ soluço, limpando minhas lágrimas. ─ Mentiu todo esse tempo.

─ Sérgio o ameaçou, disse que vai denunciá-lo se continuar o tratamento, ameaçou demitir Otávio, meu filho cresceu nessa fazenda. Sol, algumas pessoas não querem nos deixar, mas sempre vai existir obstáculos, sempre vai existir uma tristeza no caminho. E a escolha é sua, lutar e vencer esses bloqueios ou ficar trancada em um quarto deixando a oportunidade de ser feliz passar. ─ esticou o braço e segurou na minha mão. ─ Eu quero muito que você lute, Solana. Meu neto é homem maravilhoso, no entanto, esse é um obstáculo que terão que enfrentar juntos.

Não quero viver sem expressar o que sinto. Chega de me autodestruir, estou provocando meu próprio fim. Simon mentiu? Sim, mas uma mentira boa, uma mentira que eu posso suportar. O que não vou conseguir suportar é ficar nessa fazenda sem conseguir vê-lo, sem conversar com ele. Meu pai está causando toda essa confusão, por motivos que ele acha corretos. Eu tenho 18 anos e tenho muitos momentos para viver. E não quero que ninguém me impeça de vivê-los intensamente.
Já perdi muito tempo me torturando, vivendo um luto sem fim. Não era o que Sebastian sonhava para mim, fazíamos planos juntos. Sonhávamos tão alto, alguns sonhos era impossível como ter uma obra de arte exposta na South London, uma das galerias mais conceituadas da Inglaterra. Viajar para Índia e pintar os templos, desenvolver a arte, em arquitetura coloridas e únicas. Bastian tinha sonhos tão bonitos e eu também. Eu só queria ter uma última oportunidade de dizer que eu amava muito. E no momento, eu tenho essa oportunidade em mãos para dizer o quanto amo o Simon.

─ Dona Germana, espero que me perdoe por minha grosseria. ─ A senhora me olhou surpresa. E seus lábios curvaram-se, lançando aquele sorriso amistoso.

─ Cada um usa a arma que tem para se defender da maldade, do sofrimento. Eu a entendo.

─ Dona Germana, vou sair pela porta dos fundos. Peça para Simon me encontrar na colina, onde ele me contou a lenda do Girassol.

─ Vou passar o recado!

─ Muito obrigada, por tudo…

─ Solana, leve com você esse ensinando. Quem sabe possa lhe ajudar no futuro. A vida não é conto de fadas, não existe um “felizes para sempre”. Afinal, não vivemos para sempre, mas existe o hoje e podemos ser felizes mesmo com a vida sendo tão curta. Apenas sinta tudo e viva com intensidade, nunca deixe de amar.

Ela está certa, não existe um feliz para sempre. Mas existe a felicidade que sinto quando estou com o Simon. E essa alegria é real, está aqui dentro de mim, pulsando a cada batida do meu coração.

Girassol (Até 20 Agosto) Where stories live. Discover now