Capítulo 16

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Várias folhas rabiscadas, vários desenhos obscuros, alguns tortos pela falta de prática. Mas mesmo assim… Estão lindos! Não consigo tirar os olhos do caderno, mesmo com a minha Tia Eliana arrumando meu cabelo para o churrasco.
Simon ficará orgulhoso, talvez, um pouco assustado com todos os desenhos feitos. Contudo, eu consegui…

─ Sol, você é linda. ─ Exclama. ─ Está ficando cada dia mais linda na fazenda, o ar puro está melhorando a sua fisionomia.

Simon está me melhorando, é tudo por ele. Por Violet, por minha mãe!

─ Obrigada, eu acho!

─ Eu não tive escolha. ─ a sua voz saiu um pouco rouca. ─ Eu queria ficar no Rio de Janeiro, mas a sua mãe não aceitou. Então, eu não tive escolha.

Como reagir? O que dizer? Apenas fiquei ouvindo a sua explicação.

─ Eu queria muito que me perdoasse, Solana. Mas eu entendo perfeitamente a sua revolta. ─ um soluço. ─ Só que às vezes, dói muito presenciar o seu desprezo.

Limpei meus olhos cheios de lágrimas.

─ Eu vou descer para a festa, eu agradeço pela ajuda e o vestido é lindo.

Deixo a minha Tia para trás, chorando tristemente. Não é tarde para as explicações, porém, não é o momento certo para um perdão. Eu ainda preciso de tempo, entender tudo o que está acontecendo. O que estou sentindo pelo Simon, o que posso oferecer a minha família e o que eu não posso.
A movimentação na sala estava grande, pessoas que não conheço, funcionários da fazenda, as risadas altas e exageradas. Tudo aqui contribui para que eu perca o controle da situação. Lembro-me dos bailes e como ficava modificada com ajuda da bebida alcoólica. Não queria ficar em meio a uma multidão, precisava de ar puro. O cheiro de bebida estava me trazendo recordações dolorosas.
O jardim está um espetáculo, decorado com luz de led e pisca-pisca de natal presos em algumas árvores. A linda fonte clássica está cercada por arranjos de girassol, há cinco mesas todas repletas de comida. Uma pequena fogueira e um grupo de jovens dançando uma música sertaneja ao redor dela. O cheiro de carne assada é saboroso, como não conheço ninguém decidi verificar a comida. E meu Deus, minha boca salivava, era porções deliciosas de bolos salgados, doces e pãezinhos de girassol. Vocês acham que eu esperei até o parabéns? É claro que NÃO! Ataquei a comida, comi até não aguentar mais.

─ Solana, filha. Eu estava te procurando.

Encarei meu pai, servindo-me com uma boa limonada.

─ Por que está me procurando? Até onde eu sei, não temos nenhum assunto para ser tratado.

Agita-se nervoso.

─ Na verdade, quero conversar com você. Podemos nos sentar?

Eu assenti, desconfiada com o pedido. Desde que cheguei meu pai está me tratando bem, ele não é como a minha avó ou tia Eliana. Que estão sempre me procurando e me perguntando se estou bem. Ele fica longe a maior parte do tempo. Nos sentamos num banco na varanda, fico observando o copo em minha mão, com o olhar baixo.

─ Filha, eu estou muito contente. Você morando na fazenda é maravilhoso. ─ passa os dedos levemente na minha trança. ─ Amo você Solana, amo muito…

─ Por favor, não! ─ imploro. ─ Você não entende nada sobre amor, você não entende o que é ser pai.

─ Eu sei, eu sofri todos esses anos separados de vocês.

Como? Não, ele pode ter me chamado para essa conversa justo hoje.

─ Fazia apenas um mês pai, um mês que ele tinha morrido. E o que fez? Arrumou a suas malas e foi embora. Deixando todas nós para trás. ─ começo alterar a voz.

Girassol (Até 20 Agosto) Where stories live. Discover now