Capítulo 37

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Um sonho leve e bonito, um sonho que acalmou meu coração. Acordei, deitada em uma maca hospitalar, totalmente desconfortável. Meus braços estavam dormentes e como sempre, a crise me deixou atordoada.
Droga, eu não poderia perder o controle, Sebastian afastou meus medos. No entanto, uma frase que foi me dita em sonho ainda pulsa na minha cabeça: As dores chegam e as alegrias também! Ora essa… Por que precisamos passar por momentos tão dolorosos para encontrar nossa felicidade? É injusto, não podemos negar. Sento-me na maca, devagar para não tombar para frente graças a tonturas que fazem o chão girar como um bambolê.

─ Aí minha cabeça; ─ massageio a minha testa. ─ Que tipo de sedativo esses enfermeiros me aplicaram?

─ Sol? Você está bem?

Violet surgiu como um fantasma ao lado.

─ Santo Deus, até mesmo Maria Madalena. Que susto!

─ Desculpa, eu estava sentada no chão. Esse corredor não tem bancos ou qualquer tipo de acento.

─ Oh, entendo!

Minha irmã estava com os olhos tão vermelhos, muito pálida. E com olheiras profundas.

─ Simon, como ele está?

─ Summer, nosso verão… ─ hesitou.

─ Violeta, o que aconteceu?

─ Tenho duas notícias, uma boa e outra muito ruim; ─ soluçou, com olhos se enchendo de lágrimas. ─ Qual quer saber primeiro?

Engulo em seco, sinceramente? Não quero saber as duas, as notícias boas em hospitais habitualmente vêm acompanhadas de uma péssima notícia.

─ Solana?

Respiro fundo, acalmando as batidas do meu coração.

─ Pode falar estou ouvindo.

─ A cirurgia do nosso pai foi um sucesso, mas, mas…

─ Sem enrolação, diga logo o que está havendo.

─ O médico não aconselhou outra cirurgia; ─ segura na minha mão. ─ Infelizmente, nossa avó contou o estado do Simon. Nosso pai ficou transtornado, gritando o seu nome. Ele se sentiu tão culpado, Solana. E-ele… ─ passa o antebraço nos olhos limpando as lágrimas. ─ Ele se prontificou para ser o doador. Mesmo os médicos negando, mesmo os médicos dizendo qual seria o resultado. Ele não desistiu, não parou de esbravejar a decisão dele.

─ Onde ele está? Quero ver o nosso pai… Eu preciso vê-lo, ele não precisa tomar essa decisão absurda por mim. NÃO!  ─ desço da maca, quase me estatelando no chão.

─ Solana, por favor ouça-me!

─ Ouvir você? Nosso pai está tomando a decisão mais precipitada, ele não pode agir tão impulsivamente.  

─ A decisão que pode salvar o Simon!

─ E se não salvar? Violet, não suportarei a vida sem os dois.

Minha irmã me abraçou, forte e com corpo trêmulo, ela estava assustada. Perdida e sofrendo, como todos nós.

─ Nosso pai, ficou seis anos nos ignorando. E hoje ele tomou a decisão mais precipitada, você tem razão. Mas demonstrou o tamanho do amor que sente por você!

─ Por nós, ele sempre nos amou. Todos enfrentamos tormentos dolorosos quando Sebastian se foi. E cada um usou a sua maneira de afastar esses sofrimentos. Ele resolveu se isolar em uma fazenda no interior de Minas Gerais.

─ Sol, por que as coisas tem ser assim?

Minha irmã segurou com força na minha blusa, chorando tristemente.

─ Sonhei com o Sebastian, estava no campo de Girassóis. Ele estava lindo, Vih. Tão lindo! Com o mesmo sorriso encantador e com o mesmo ego elevado; ─ Violet chiou um riso entre as lágrimas. ─ Ele me aconselhou, disse que estou no meu lugar. Que não devemos seguir sem fé e amor. Vih, está doendo muito a decisão dele; ─ Só Deus sabe o quanto está doendo. ─ Agora só devemos implorar aos céus que tudo ocorra bem. Simon, só teve um dos pulmões afetados, ele vai conseguir.  Nosso pai fará parte do Simon, nunca estaremos sozinha.

─ Você falou com ele? Conseguiu dizer tudo o que queria? ─ Pergunta-me.

─ Sim, eu consegui perdoa-lo e dizer o quanto eu o amava. Deus me deu uma chance, uma chance grandiosa para afastar todas as tristezas do meu coração e conseguir perdoar. Posso dizer adeus a ele com minha alma leve, sem nenhum rancor. Só sentimentos de gratidão!

─ Eu-eu, não sei se consegui dizer tudo. Eu queria saber se ele sentia orgulho de nós duas.

─ Violet, minha irmã; ─ acariciei seu rosto. ─ Todos sentimos orgulho de você!

Ela soluçou, abraçando-me com mais intensidade.

─ Eu te amo muito, Summer.  

─ Eu também te amo, Violeta.

❁ ❁ ❁

Muitas pessoas dizem: “Uma mãe não deveria enterrar um filho”. Ah, como ela palavra é certa, forte e triste. Para minha avó Mariana, novembro será um mês que estará marcado em sua vida. Um mês que seria repleto de realizações. O aniversário do Simon, as preparações para festas de fim do ano. Porém, nos trouxe um luto, difícil e cruel.
Aprendi com Simon a ser corajosa, a manter minha força mesmo quando o mundo está caindo sobre mim. A morte faz parte das leis da vida, um dia ela vai chegar e não importa a sua classe social, sua crença, as suas riquezas, a sua idade, ela vai te tirar de tudo que ama. Você não pode esperar até o amanhã, não podemos deixar um “eu te amo” para mais tarde, não podemos deixar um “sinto a sua falta” para depois. Devemos dizer sem medo tudo de bom que sentimos, excluir os sentimentos de dor e desnorteio. A vida é bruta em certos momentos, mas não podemos esquecer o quanto pode ser linda.
O enterro do meu pai foi triste, todos os funcionários da fazenda estavam presentes, os feirantes, até mesmo os Luizianas vieram fazer sua última homenagem. Os girassóis que nos passam a mensagem de força, alegria e felicidade. Hoje embelezam o túmulo do meu pai.
Acredito que a luz dessas flores, fará ele descansar em paz. Simon está reagindo bem a cirurgia e cada minuto que passa é a esperança fazendo morada em nossos corações.
A morte do meu pai não será em vão, Simon viverá e contará para todos a sua volta. Contará para nossos filhos a atitude honrada do avô. E essa história passará por gerações em uma fazenda no interior de Minas Gerais: O pai que trouxe o amor de sua filha de volta a vida, por amor a ela.
Como foi maravilhoso viver esse último mês ao lado dele, como foi importante para nós dois o perdão. Meu pai sempre foi incrível, eu só queria dizer um último adeus. No entanto, creio que meu pai sabe e compreende tudo que eu sinto, afinal, agora ele está do lado do Sebastian.
Fui abençoada por ter nascido em meio a uma família tão bondosa, uma família que pode ter se perdido no caminho, porque somos feitos de amor e quando a dor chegou. Não soubemos lidar com ela. Entretanto, hoje seguimos todos de mãos dadas e unidos, juntos descobrimos que somos mais fortes, mais felizes e completos.

─ Vovó, precisamos voltar agora.

Minha avó que está debruçada no túmulo, concordou com a cabeça. Tia Eliana que estava mais conformada com tudo, ajudou nossa avó levantar-se.
Morgan está trancada em um quarto na fazenda desde que soube o que aconteceu. A mulher está inconformada. No fundo, o amor que ela sentia por meu pai era real. Não podemos esquecer que o mundo e as pessoas estão maldosas, hoje tudo é motivo de desconfiança. As pessoas criticam e julgam livremente, sem compreender ou pensar se tudo é verdadeiro. Não podemos ser essas pessoas, que aponta e julga. Temos que fazer a diferença, olhar para o próximo com empatia.
Acredito que a empatia é o terceiro sentimento mais forte do mundo. Só perdendo para o amor e o perdão. Quantas vezes julguei a Morgan, até a mesmo a Bruna que entrou em desespero com a notícia do falecimento. Todos já esperávamos, os médicos alertaram, mas não muda nossa tristeza. Só tempo pode nos ajudar agora, só o tempo vai curar a falta dele. E temos que continuar mantendo a nossa fé e esperança.


Girassol (Até 20 Agosto) Where stories live. Discover now