Capítulo 36

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Eu não sabia o que sentir, eu não sabia o que dizer. Os choros e as orações, martelavam na minha cabeça. Simon estava na UTI esperando por um transplante, meu pai acabara de sair da sala de uma cirurgia e estava se recuperando. Eu não tinha ânimo, força, fome, não tinha vontade de sair do lugar. Minha vontade era entrar em um sono profundo e acordar só quando esse pesadelo acabasse. Quando Sebastian morreu, pensei que meu coração jamais seria o mesmo. Que ninguém conseguiria colocar cada pedaço em seu devido lugar. Então, um homem jovem de apenas 25 anos. Com muita paciência e dedicação, foi adicionando em cada pedaço o seu amor, carinho, afeição, respeito, amizade, sonhos e quando percebi meu coração estava completo novamente. E hoje recebo a pior notícia, o meu amor só pode sobreviver com ajuda de um transplante pulmonar. O acidente foi gravíssimo, causando ferimentos horríveis. Os médicos estão chamando o Simon de milagre, ele não deveria ter sobrevivido.

─ Filha; ─ sussurrou a minha mãe. ─ Simon, vai ser transferido do hospital. Um helicóptero vai levá-lo para São Paulo, para um hospital com especialização.

Acho que ela sabe, todos sabem que não vou suportar perdê-lo.

─ Ele me pediu em casamento, estávamos tão felizes. Nosso amor era genuíno, puro e verdadeiro. Não vou suportar, ficar sem ele.

O médico que está acompanhando meu pai e Simon, surgiu na sala de espera. Com um semblante tranquilo, ele tirou a máscara que cobria a sua boca e disse:

─ Sérgio Malta está acordado, uma cirurgia delicada para reparar danos na coluna. Ele está falando, rezem para uma boa recuperação. Sérgio, não vai aguentar outra cirurgia.

A sala que estava ocupada por todos meus familiares e alguns funcionários da fazenda, era cenário de uma família triste e completamente despedaçada.

─ Sol, preciso voltar para a fazenda buscar algumas roupas. Simon, vai acordar. ─ Diz Senhor Otávio, com as lágrimas descendo por seu rosto. ─ Ele vai conseguir um transplante a tempo. Ele vai sobreviver!

Dona Germana me olhou com pesar, no fundo nós duas sabíamos. E eu não poderia ser egoísta a esse ponto. Conseguir um transplante é difícil, a fila é grande e muito demorada. E nosso Simon não tem esse tempo. Levanto-me, atordoada e cambaleando.

─Eu preciso vê-lo! Preciso me despedir.

Os soluços dos choros ficam mais fortes, era o momento do adeus.

─ Meu filho vai acordar, ele vai sobreviver! ─ Trovejou Otávio com os lábios inferiores trêmulos. ─ Eu posso ser o doador, eu posso…

─ Otávio; ─ Dona Germana segurou com firmeza na camisa do filho. ─ Simon, está sofrendo. Não temos tempo, meu filho. Só esperar por um milagre!

─ Posso vê-lo? ─Pergunto ao médico, que tristemente assentiu com a cabeça.

─ Ele está na UTI, tem certeza?

─ Tenho! ─ Digo entre os soluços!

Demorei em torno de 30 minutos para me preparar. Roupas hospitalar, próprias para a entrada em uma unidade intensiva. Eu sabia que esse contato seria meu fim, sabia que não conseguiria viver novamente. Mas mesmo assim, eu precisava vê-lo, precisa ver seu rosto e dizer o quanto eu o amava. Uma enfermeira me acompanhou. Ao entrar na UTI, eu simplesmente congelei, achei que minha cabeça fosse explodir e que morria ali, perto dele. Os equipamentos eram amedrontadores, todos fixados no homem que transmitia a sua bondade para todos. Seu peito subia e descia com ajuda de aparelhos.

─ O acidente causou um dano extremo em dos pulmões. ─ Explicou a enfermeira.

Parei do lado da cama, com minha visão embaçada graças às lágrimas.

─ Oi meu amor!

Eu fiquei esperando o mesmo sorriso maroto de sempre, o olhar intenso. No entanto. só conseguia se ouvir os barulhos dos aparelhos que o mantinham vivo.

─ Simon, eu sinto muito. Eu não queria ser egoísta. Eu queria conseguir ser forte e dizer a você que vou ficar bem. Mas meu amor, eu não me imagino vivendo em um mundo sem você.

O seu rosto estava inchado e ferido, beijei sua bochecha e sai do quarto chorando desvairadamente. Meu gritos ecoavam nos corredores, eu não me importava com os olhares de pena. Só queria que a dor fosse embora.
Chorei! Chorei! Chorei, até perder os sentidos, gritei até ficar rouca e não conseguir falar. Lutei com os enfermeiros até perder os movimentos dos meus braços. Implorei aos céus e tudo de supremo que existe nesta terra para não tirá-lo de mim. Eu precisava manter a minha promessa, que é amar o Simon para sempre. Eu precisava encontrar uma maneira de trazê-lo para meus braços novamente. Tudo começou a escurecer e uma voz sussurrava:

─ Você vai dormir agora, a crise vai passar.

─ Filha, durma meu amor. Você vai ficar bem!

A escuridão foi inevitável, eu fiquei naquele poço escuro e frio, por minutos… Não, eu fiquei por horas, gritando e implorando, cansada e sozinha.

─ Estou sozinha. ─ sussurrei.

─ É só abrir os olhos, Sol…

Essa voz!
Abro meus olhos que ardiam graças às lágrimas, o céu estava azul e o sol aquecia a minha pele. Sento-me no gramado e… Estou na fazenda, em meio ao campo de girassóis!

É um sonho?

─ Por quanto tempo vai ficar sentada aí?

Bastian? Eu não queria acreditar, mas quando olho para trás, lá estava ele. Lindo, com seus olhos verdes cintilantes e com aqueles cabelos que lembravam um anjo.

─ Sebastian? O que você está fazendo aqui? Você está morto!

─ Nossa, que irmã mais ingrata. Eu querendo acabar com a saudade e ela lembrando-me que estou morto.

─ Sebastian, é você mesmo? ─ Levanto-me receosa.

─ Sim, o seu irmão mais velho. Que pintava telas incríveis, que tem uma beleza exuberante e olhos apaixonantes.

Essa modéstia, esse sorriso encantador.

─ Como?

─ Não sei, só sei que estou aqui. Solana, quero que preste atenção nas minhas palavras. Todos nós temos uma missão a cumprir aqui na terra. Eu tinha uma, você tem a sua, Violet tem a dela e o Simon também. Ninguém nasceu por acaso, não estamos aqui a passeio, todos temos uma história para trilhar, um caminho para seguir e pessoas para amar. No entanto, vai surgir algumas tristezas, dores e sofrimentos. Para provar se somos merecedores da recompensa no final. E o importante é acreditar em um dom que todos têm, mas poucos conseguem usá-lo. O dom de amar. Ame a vida, siga seu caminho com a certeza que no final encontrará a sua felicidade. Enfrente as dores, elas não são eternas. Vai passar, tudo vai passar!

─ Simon, está morrendo. E você acha essa dor vai passar? Já não basta o que aconteceu com você, com nossa família. Eu não acredito em um final feliz, eu estou perdendo a fé, Sebastian!

Meu irmão aproximou-se, segurando com carinho no meu rosto.

─ Não perca a fé, é ela que nos faz alcançar o impossível e os milagres mais inacreditáveis.

─ Como posso confiar novamente?

─ Estou aqui, com você.

─ Mas é apenas um sonho, nunca será real.

─ Quem disse que não é real? É só acreditar. Continue seguindo com fé e amor. Você chegou onde deveria estar, Sol. No seu lugar, perto de pessoas que a amam verdadeiramente.

─ Eu o amo muito, amo tanto que não consigo imaginar vivendo sem tocá-lo.

─ Simon? Rá, esse cara tem muita vida pela frente. Sol, lembre-se as dores chegam e as alegrias também!










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Capítulos de hoje... Gente, essas festas de fim de ano nos tiram muito tempo. Como foi o Natal de vocês? Aqui foi muito divertido e cansativo!
Estão gostando da história?
Beijos, até amanhã ❣️🥰

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