Capítulo 07 - Simon

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Um surto, a garota teve um surto na frente de todos nós. Eu não poderia fazer nada em uma fazenda, fiz o possível para não descontrola-lá. Só preciso compreender quais traumas ela enfrentou na infância, para desencadear uma crise tão intensa. O seu caso está no nível extremo, o trauma causado a deixou perturbada.
Em nossas vidas não vivemos apenas momentos bons, temos que ultrapassar algumas barreiras. Para algumas pessoas é uma tarefa fácil, cada pessoa tem a sua maneira de lidar com as dores que surgem no caminho. Algumas superam rápido e seguem seu destino, vivendo uma rotina normal. Algumas têm força e um emocional saudável para conseguir superar perdas, lutos e decepções. Outras não conseguem, contribuindo para o surgimento de pensamentos negativos e assim desencadear um trauma, afetando totalmente a sua vida afetiva e social. Mudando personalidade, sentimentos e emoções.
Os traumas nascem quando uma pessoa vivencia uma experiência negativa, não conseguindo controlar o comportamento e as emoções que explodem. Até mesmo uma lembrança do fato é agoniante. Algumas pessoas relatam ter uma sensação de morte ao lembrar de uma situação árdua. Ela pode tentar controlar tudo, esconder os acontecimentos dentro de uma gaveta, por exemplo. E quando alguém abre - sem querer - essa gaveta, ela recorda do evento trágico ou não. E muitos enfrentam crises terríveis, dolorosos para os familiares e assombrosos para quem carrega consigo um trauma. Foi o que aconteceu com Solana!

─ Há quanto tempo você não mantém contato? ─ Questiono Sérgio, que aguarda na sala de espera apreensivo.

─ Eu conversava com a Violet, uma vez por semana. Mas ela começou a namorar com um rapaz e se distanciou. Solana sempre foi distante, recordo que ela ficava trancada no quarto com o irmão, horas e horas, pintando quadros lindos. ─ passa a mão no rosto, para limpar as lágrimas.

─ Hmm Hmm! Irmão, Sérgio… Você tinha um filho?

O homem totalmente atordoado sentou-se no banco, seus olhos estão repletos por lágrimas.

─ Sim, o nome dele era Sebastian, um garoto bonito e inteligente. Adorado por todos. Ele faleceu, morreu em um acidente. Um caminhão desgovernado o atropelou quando estava indo buscar a Solana no colégio, infelizmente, ela presenciou tudo.

─ Solana presenciou a morte do irmão mais velho? ─ Meu Deus, um trauma difícil de tratar, mas não impossível.

─ Tudo aconteceu uma quadra da escola, o meu filho… ─ o homem soluçou. ─ Me perdoe, Simon. Eu. Não. Consigo.

─Está bem! ─ digo, tranquilizando.  ─ Sérgio, eu sei o quanto é difícil, mas a sua filha precisa de um tratamento. Querem interná-la em uma clínica psiquiátrica.

─ Não vou aceitar, sei que ela me culpa por tudo. Culpa a mãe, culpa todos da família. Principalmente, quando eu e a Vanessa nos divorciamos.

Engulo em seco, não é só a filha que precisa matar os seus demônios.

─ Eu posso cuidar dela. ─ Sérgio me encarou rapidamente, com os olhos vermelhos resultado de um choro que não cessa. ─ Eu sou psicólogo, sabe que eu consigo.

─ Simon, ela não vai aceitar. Até mesmo Vanessa se recusa a aceitar que a filha tem transtornos mentais.

─ Ela não precisa saber, só me deixe ajudá-la. Quando estiver se recuperando eu conto a verdade e a minha profissão. ─ afirmo.

Sérgio arfou, tombando a cabeça para trás. O homem encarou o teto e pronunciou uma singela oração. Uma oração de um pai aflito, um psicólogo não é como todos pensam. Ficamos comovidos com algumas histórias relatadas, aprendi nesses últimos anos atuando na profissão que também adquirimos conhecimento com nossos pacientes. É por esse motivo, que amo tudo ao meu redor. Minha família, minha vida simplória. Não é difícil reconhecer uma dádiva, quando você conhece histórias que podem marcar na sua carreira profissional. Por exemplo, a história da Solana. Meus casos no consultório eram comuns, esposa triste com o fim do casamento, começo de depressão, adolescente imperativos, mulheres com problemas de auto-estima e aceitação. São casos que estão cada dia aumentando na sociedade em que vivemos. No entanto, Solana demorou muito para procurar ajuda…

─ Faça o que achar certo, Simon. Tem o meu apoio.

─ Obrigado, Senhor Sérgio. Vou ajudar a sua filha, primeiro ela precisa voltar para a fazenda. Um ambiente hospitalar só pode piorar a situação em que ela se encontra.

─ Ela vai ficar dois dias em observação, o médico precisa fazer exames rotineiros.

Eu concordo.

─ A noite quando o senhor estiver com a cabeça tranquila e os pensamentos mais calmos. Preciso que faça uma lista com informações da Solana, não precisa de muitos detalhes. Apenas coisas que ainda lembra-se. Por exemplo, nome da antiga escola, data do aniversário. ─ peço gentilmente.

─ Acha que vai conseguir curá-la?

─ Nós vamos tratar. ─ corrijo educadamente. ─ Depende do quanto ela vai me deixar entrar aqui. ─ bato na minha própria cabeça com o indicador. ─ A morte de pessoas queridas mexe drasticamente com a vida de quem está sentindo essa perda. É preciso vencer o trauma, fazê-la entender que passou, não vou mentir… ─ respiro fundo. ─ É um processo demorado, que precisa de paciência.

─ Compreendo!

O médico de plantão chegou para conversar com o Sérgio.

─ Boa tarde. ─ cumprimenta formalmente. ─ A sua filha está sedada, vai dormir por mais algumas horas.

─ Doutor, ela pode voltar para casa hoje ou só amanhã? O outro médico nos falou que a minha filha ficaria dois dias em observação.

O doutor fez um gesto despreocupado com a mão.

─ Não, só vamos esperar os resultados dos exames. Se ela estiver com uma perfeita saúde, não precisa ficar na observação.

─ É notório que a saúde da paciente está abalada; ─ interfiro. ─ Ela está fragilizada mentalmente.

O médico riu, debochando da minha resposta.

─ Desculpe, garoto, mas eu sou o médico aqui. A paciente só passou por um nível alto de estresse. Com certeza problemas com os estudos, a faculdade descontrola o psicológico dos alunos.

─ A saúde mental é primordial, ela pode afetar o batimento cardíaco, causando até mesmo enfartes. Queda de pressão arterial, Confusão mental, paranóias, síndrome do pânico, crises…

─ Já chega. ─ interrompa-me. ─ A garota é a minha paciência. Você é o que?

─ Psicólogo!

─ Psicólogo não é médico!

Acha que estou ofendido de ouvir palavras preconceituosas de um profissional da área da saúde? Não! Com certeza não! Sinto lhe informar, mas muitos psicólogos precisam aturar comentários como esses. Na faculdade, muitas piadas carregadas de ignorância: “Psicólogos não tem CRM”.
Eram piadas debochadas, principalmente por ser o mais novo da minha turma. Entrei na Universidade com 17 anos, enquanto muitos estavam entre seus 20 e 30 anos, eu apenas com 17 anos estava em uma das melhores Universidade de Belo Horizonte. Me formei com 22 anos, e comecei atuar em estágios e também em instituições de menores infratores com 20 anos. Eu poderia esbravejar todas as ofensas que esse profissional necessita ouvir, mas aprendi a manter a serenidade com meu avô. Um Psicólogo é um profissional da área da saúde, conforme já caracterizado pela OMS - a Organização Mundial da Saúde. Portanto podemos diagnosticar condições mentais dos nossos pacientes, SIM!

─ Se o Doutor pensa dessa forma. ─ dou de ombros.

Não vou discutir, tem uma pessoinha que precisa inteiramente de mim.












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Capítulos de hoje!
Espero que gostem 🌻

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Girassol (Até 20 Agosto) Where stories live. Discover now