Capítulo 05 - Simon

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Solana é uma adolescente estranha, não posso começar uma avaliação psicológica naquela garota, preciso me concentrar no meu novo trabalho. Na minha nova vida, eu gosto de viver na fazenda, senti muita falta desse lugar. Da minha família, do meu pai, da minha avó… E de um senhorzinho que se foi a quatro meses, esse foi o verdadeiro motivo pelo qual voltei a morar na fazenda. O falecimento do meu avô paterno, o homem trabalhava nessa fazenda a décadas, conhecido por todos na região. O seu enterro foi triste, muito comovente. Mas, a sua missão já havia se cumprido nesta terra. Meu avô descansou com um leve sorriso no rosto, morreu dormindo. Graças a um enfarte fulminante. Não sofreu e teve uma morte tranquila, agradeço a Deus por manter meu avô sereno até na hora da morte. Típico dele, sempre calmo, sorridente, andando pelas plantações de verduras. Viveu até os 75 anos, uma vida bem aproveitada. Teve filhos, netos e bisnetos. E foi feliz, em uma fazenda com lindos campos de girassóis.

─ Simon, vai ficar por quanto tempo parado aí fora admirando essas plantações? ─ Gritou a minha avó pela janela da cozinha. ─ O almoço está pronto há horas!

Dona Germana, conhecida por ser benzedeira. A senhora que conhece os segredos das plantas. Que faz remédios e tônicos naturais, usando o que a natureza lhe oferece. A Senhora que ajudou meu pai a me criar, quando a minha mãe decidiu se aventurar em Belo Horizonte e nos deixou para sempre.
Entro para dentro da pequena cabana, que mais lembrava um chalé antigo. Com dois andares, no primeiro andar localizam a sala de estar, cozinha, banheiro e uma pequena sala para minha avó não perder a suas novelas. No segundo andar quatro quartos, dois deles com um banheiro simples. Não tinha nada de grandioso, moderno e incrível, mas eu amava esse lugar. Eu amava as lembranças que me traziam, amava a minha família e tudo que ela representa para mim.

─ Boa tarde. ─ Digo sorridente ao adentrar a cozinha.

Meu pai já estava sentado na pequena mesa, devorando uma feijoada caprichada.

─ Chegou tarde, garoto!

─ A filha do patrão demorou. ─ puxo a cadeira para me sentar. ─ Acho que o voo atrasou.

Meu pai assentiu pensativo.

─ Como ela é? ─ Questiona minha avó. ─ Loira, bronzeada e metida?

Ri lembrando a fisionomia da garota.

─ É uma moça bonita, é morena. Acho que tem 16 anos. Uma adolescente; ─ penso na sua atitude. ─ Cheia de segredos, é misteriosa. Tem uma mente intrigante. Sinceramente, gostei dela.

─ Oh, uma mente intrigante? ─ ela limpa a mão no avental para me servir.

─ Agradeço vó, sim, ela ataca para se defender…

A senhora sorriu, servindo-me um prato caprichado com feijoada, couve refogada, carne de frango a milanesa e uma macarronada de dar água na boca. Fiquei 5 anos longe dessa culinária deliciosa, dizem que o tempero de mãe nunca se esquece. Mas de vó? Hmm, é para lembrar até mesmo em outras vidas.

─ Ouvi fofocas que a menina é problemática. ─ Argumenta meu pai. ─ Morgan estava um pouco apreensiva com a chegada da enteada.

─ Não creio que seja só problemas de adolescente, e todos sabemos porque a Morgan estava receosa.

Meu pai e minha avó franziram a testa.

─ Bem, ainda estamos nos acostumando com a Morgan. ─ Diz Dona Germana. ─ Não podemos julgá-la e sair espalhando fofocas como os outros funcionários. Somos os funcionários mais antigos dessa fazenda, novos proprietários chegam e nós permanecemos aqui.

─ O patrão não sabe dos boatos? ─ Indagou meu pai.

Neguei com a cabeça.

─ Que estão chamando a namorada dele de interesseira? Acho que não! ─ dou de ombros. ─ A filha dela não é diferente.

─ Simon, espero não presenciar mais uma cena como aquela nos estábulos. Você é um homem adulto e formado, quero você longe da enteada do patrão.

Sexo nunca foi um problema para mim, principalmente quando uma garota de 19 anos fica nua na minha frente, no estábulo. O problema foi o meu pai nos pegar no flagra.

─ Eu só estava mostrando a ela o que acontece com o corpo durante o ato sexual, pai, tudo em pró da ciência.

─ Santo Deus, me respeite. Os jovens de hoje em dia estão muito ousados. Otávio, pode lavar a louça. Simon, quero você cuidando da lavoura. Amanhã tem a feira na cidade e pretendo vender todas as verduras.

─ Sim Senhora! ─ Respondo, me concentrando na minha comida.

─ Não vai voltar para cidade? ─ meu pai limpa a boca com um papel toalha. A minha avó ficou em silêncio, ouvindo nossa conversa enquanto arrumava as panelas em cima do fogão.

─ Não, gosto da fazenda!

─ E o consultório, o que vai fazer?

─ Vou vender, pai, prefiro a fazenda. Eu sei o quanto você me ajudou, para conseguir me formar. Mas… Sinto que preciso ficar aqui. É difícil de explicar!

O homem ficou com olhar perdido, fitando o seu prato vazio.

─ Você só tem 24 anos, é um rapaz jovem. Tem vários caminhos para seguir. Vários aprendizados nessa estrada chamada vida. Se quer ficar na fazenda; ─ Suspirou Fundo. ─ tudo bem, fique!

─ Obrigado por compreender, pai. Eu gosto do nosso lar.

Minha avó lançou um sorriso acolhedor.

─ É bom saber que meu companheiro na feira vai ficar. Carregar aqueles caixotes é cansativo.

─ Uau, que revelação. Quer me usar apenas como seu burro de carga; ─ gracejo. ─ que feio Dona Germana.

Minha avó tombou a cabeça para trás, rindo alegremente.

─ Não seja tolo, quero você por perto porque eu te amo. E se sente que aqui é seu lugar, deve ficar. Devemos morar onde nosso coração desejar.

─ Agradeço a humildade do meu coração. Há pessoas que trocariam Minas Gerais pela Grécia.  ─ Volto a brincar.

─ Você entendeu o que eu quis dizer! ─ ela me lançou um pano de louça. ─ Agora os dois arrumem essa cozinha. E Simon, não se esqueça de cuidar da lavoura. Amanhã nosso dia será longo. E depois que terminar, aproveite a tarde para descansar.

Afirmo com a cabeça, esse é meu dia a dia na fazenda. Diferente dos meus últimos anos na cidade. Meu consultório estava sempre cheio, é gratificante, eu amo minha profissão. No entanto, esse lugar me prende. Essa fazenda, não consigo me desligar dela. Cresci aqui e acho que vou dar meu último suspiro neste lugar.

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