4 - Sam

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_Ah! Nãooo. _ resmunguei e fiquei concentrado para não prestar


atenção no meu celular vibrando em cima do armário com o computador.

Tocou mais oito vezes e parou.


_Ótimo! _ tentei voltar ao meu sono profundo.


O celular vibrou tanto que escorregou e caiu no chão sozinho.


Levantei, cocei a cabeça e me abaixei para pegá-lo. Abri. Era um


número desconhecido.


_Alô?


_Alô. _ respondeu a voz feminina do outro lado.


_Quem é?


_É a mulher em quem você derramou bebida ontem.


_Bebida? Do que está falando? _ fiz uma careta. Minha cabeça


parecia que ia explodir. Olhei o relógio na cabeceira da cama marcando oito


horas.


_Não se faça de desentendido. Você me deu o seu telefone ontem


na promessa de que iria ressarcir meu vestido.


_Vestido? _ repeti para ver se lembrava. Eu tinha bebido tanto que nem conseguia me lembrar como saíra da festa.


_Vai me dizer que esqueceu?


_Para ser sincero... Sim. Perai, eu e você não...


_Eu e você nada. Shiii, pelo visto estava bêbado. _ ela resmungou.


_Quem é você para me ligar a essa hora da manhã?


_Como assim? A cidade já está acordada e na ativa!
_Olha só... Eu estava dormindo...


_Olha só você... Eu estava ontem saindo do banheiro quando você


derramou seu copo de bebida em cima de mim!


_O que eu prometi fazer? Te dar um vestido?


_É! Mas acho difícil que consiga, era de muito valor simbólico.


_E de quanto é o valor simbólico? _ perguntei, para ser mais prático.


_Não sei...


_Então, faz o seguinte, quando você souber quantos zeros tem o


seu vestido, me liga. Agora me deixa dormir. _ desliguei.

Cai na cama e me senti duplamente culpado. Como eu não podia


me lembrar de nada? Ao mesmo tempo, que espécie de estúpido eu sou que derrama bebida na roupa de uma mulher e bate o telefone na cara dela?


Peguei o aparelho e redisquei o número.


_Alô? E aí? _ perguntei.


_Ainda estou digerindo sua estupidez. Você é um grosso mesmo!


_Desculpe. Desculpe. É que, poxa, você também me acorda a essa


hora da manhã.


_Onde posso encontrar você?


_Como assim me encontrar? _ perguntei, assustado com a idéia.


Não queria encontrar com aquela maluca.


_Se tiver alguma maneira nova de teletransporte para o vestido


aparecer na minha frente...


_Ah! Sim, não se preocupe, eu peço para alguém te entregar. Me dá


seu endereço. _ puxei um papel da gaveta do criado-mudo e apertei a tampa


de uma caneta.


_Eu não confio em você para dar o meu endereço. Nem sei quem


você é!


Ela não sabe quem eu sou? Repeti aquela frase mentalmente.


Então, ela não me reconhecera na festa? Claro, a máscara!


_Eu também não sei quem você é, lamento, mas eu não lembro. _


disse-lhe.


_Seu nome, então, para eu puxar sua ficha criminal.


Eu não sabia se ria ou ficava com medo, porque ela falou de


maneira tão séria que me deixou na dúvida.
_Acho que eu mereço saber isso. Você me acordou.


_Você ainda está pensando na cama? Já se passaram 15 minutos. Você não vai conseguir dormir mais!


_Ah! Muito obrigado por lembrar!


_De nada. Estou te falando, o mundo aqui fora já está a todo vapor.
Ela parecia andar de um lado para o outro, pois sua voz oscilava.


Se ela soubesse quem eu era, a que ponto tudo mudaria? Eu não


queria que ela me identificasse. Preferia assim, ficar no anonimato. Eu estava tão farto de ser bajulado que seu enfrentamento nem me causava a irritação


inicial.


_Qual é o valor simbólico do seu vestido? _ perguntei para alongar o assunto.


_ Minha mãe que me deu.


_ Esse é o valor simbólico?


_ Ora, você não tem nada que sua mãe te deu que não venderia,


nem trocaria por nada no mundo?


_Bom... Tenho, tenho um cordão.


_Um cordão? Interessante. Você está usando agora?


_Estou.


_Hum... E deixa eu imaginar. Você está aí com o cabelo arrepiado,


cara amassada e um péssimo hálito.


_Está me vendo por alguma câmera? Eu não conseguiria ser o


garoto propaganda de comercial de margarina.


Droga! Por que eu estava falando em comercial e câmeras se não


queria que ela soubesse que eu era ator? Eu deveria agir como alguém


normal!


_E você? Desculpe, mas não tenho como imaginar... _ falei-lhe.


_Quer tomar café da manhã? Ainda está em tempo.


_Claro! _ eu senti uma vontade tão grande de fazer aquilo. Que


loucura! Eu estava conversando com alguém que nem sabia quem era e que mudara bruscamente sua atitude comigo do ódio inicial para a simpatia.
_ Isso é estranho... _ confessei.


_Tomar café?
_Você sabe do que estou falando... _ falei sem graça. Por que


diabos eu estava bancando o idiota imaturo?


_Hum... Te ligo daqui a pouco. _ ela desligou sem mais.


Hei! Ela desistiu? Não! Hunf.


Mas eu ainda tinha seu telefone. Aquilo era sentimento de


adolescente inseguro. Briguei comigo mesmo e me levantei para escovar os dentes. Ela estava certa, o que eu ainda fazia na cama?


O telefone tocou novamente e eu corri para atender.


_Alô?


Era a Stella. Revirei os olhos. Disse-lhe que não era para marcar


nada até o meio dia e desliguei o mais rápido que pude. Ela não entendeu nada. Eu só não queria que o telefone estivesse ocupado.

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