35 - Sam

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Quando a cela abriu e me chamaram para uma visita, pensei que seria mais uma conversa com meu advogado ou, quem sabe, minha mãe para atenuar minha tristeza. Eu só conseguia pensar
na devassa que não estariam os repórteres fazendo na vida deles, filmando com helicópteros a casa dos meus pais e se debatendo contra o portão como
cães enlouquecidos.
_Vai receber visita íntima é, cara? _ levei uma tapinha nas costas do
policial que riu.
Eu estava tão triste que não consegui pensar. Mas, bastaria mais alguns segundos para eu entender tudo. Na sala, estava ela, Cait. Eu sorri e senti as lágrimas vindo aos olhos. Precipitei-
me em sua direção e parei antes que pudesse em um impulso abraçá-la. Fui contido por um gesto seu para que eu me contivesse. Franzi a testa. Entendi
que nossa situação estava estremecida desde nosso último contato. Eu, porém, já tinha passado por cima de tudo.
_Já tomei a iniciativa de ser sua porta-voz. _ era aquela voz de
profissional da primeira Cait que conheci que me deu calafrios. Será que eu havia perdido aquela que eu amava? _ Eu respondi às perguntas, também
providenciei para que seus pais fossem para longe até o julgamento...
_Não gosto de te ver falando assim...
_Assim como?
_O mesmo tom da Stella.
_Independente das questões de “tons”, é por causa dela que está
aqui.
_E eu não sei? Tenho vontade de ir lá agora e matá-la de verdade.
_Não teria coragem.
_Ah! Ótimo! Pode convencê-los disso?
_Vou tentar. Já telefonei para todos que podem depor ao seu favor.
Eles vão fazer a reconstituição e descobrir a verdade...
_Cait... _ toquei no seu braço com a mão algemada. _ Por favor, não
me olhe assim com esses olhos frios, eu não quis...
_Acho que a hora da visita acabou. _ ela interrompeu-me.
_"Acho que a hora da visita acabou?" _ ri e carreguei a voz de ironia.
_ Olha como estou? Sem comer direito, sem dormir, com essa mesma roupa! Sou eu, Cait, o cara com quem você passou noites rindo. Como pode me
abandonar agora?
_Eu estou aqui.
_Não está! A jornalista está aqui. _ acabei gritando de nervosismo._
Eu não quero a assessora. Eu quero a minha namorada. Eu quero a mulher por quem me apaixonei.
_Eu vim aqui dar a cara à tapa para a imprensa. Isso não é muito?
_É com isso que se importa? Com a imprensa? Até parece que
desde que atravessou aquela porta não me viu, não me enxergou. Há alguma nuvem branca que não te faz reconhecer o Sam?
_Você vai sair daqui.
_Eu quero, eu preciso, estar bem com você.
_...
_Não faz isso, por favor, não me devolva o silêncio.
_Desculpe. Eu estou tentando lidar com essa coisa toda...
_Eu te amo! _ falei alto. _ Eu não sinto nada por aquela louca. Tudo
bem, confesso, a gente já passou dos limites uma vez, mas foi totalmente sem sentimentos, pelo menos para mim. É diferente do que aconteceu com a
gente. E é só nisso que penso, em poder ter nossa vida de volta, Caitriona. Cait, olha para mim!
O guarda veio anunciar que a visita acabou. A sua partida foi uma
parte de mim sendo decepada brutalmente. Por causa do amor dela eu me sentia ainda livre, forte, capaz. As grades não me oprimiam. Depois de ter a
certeza de que ela estava chateada, tudo se tornou realmente opressor.
A comida horrível da prisão me fez perder peso, me obrigaram a raspar a cabeça. Olhei
para o minúsculo espelho que usei para fazer a barba. A gotas de água escorriam pela pele lisa. Vesti a roupa limpa que minha mãe trouxera e fui algemado para entrar na viatura que me levaria para o julgamento.

Assim que encontrei Oliver no
tribunal, perguntei por Cait.
_Tenho ótimas notícias. Ela conseguiu peças preciosas para a sua defesa.
_É? Mas e... ela?
_Está ótima! Fez várias coletivas e conseguiu conter a imprensa
como ninguém.
_Acho que ganhou a assessora perfeita!
_Deus que me livre!
_?
_Quero correr de qualquer assessora. Só quero minha namorada e minha vida de volta.
_Vai ter! _ ele bateu nas minhas costas.
Ele estava certo. Cait dormira muito pouco para conseguir apurar
tudo que fosse útil para provar minha inocência. Ela encarou aquilo como a maior reportagem investigativa de sua vida. Primeiro, conseguiu a autorização para descobrir através do dono do site onde foi postado o vídeo
os dados do usuário, que levaram ao computador de Stella. Depois, um especialista conseguiu recuperar tudo que fora deletado da máquina e, com
isso, pôs às claras as intenções de Stella em me prejudicar.
Um batalhão de pessoas que depôs ao meu favor contando
pequenos fatos cotidianos que presenciaram me surpreendeu. Encontrei ali meus verdadeiros amigos. Eles percebiam o quanto Stella era manipuladora e
que seria capaz de tudo.
Mas, nada foi tão forte quanto os resultados dos laudos que
remontaram a cena. Ficou evidenciado que era possível que Stella houvesse tentado se matar e me incriminar. O júri, então, se preparou para a votação e
eu vi minha família reunida torcendo por mim de mãos dadas.

Quando chegou a hora de se levantar para ouvir a sentença, meu coração era uma bomba relógio.

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