21 - Caitriona

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Cheguei à casa com uma sensação gostosa de ter sido útil. Meu
grande temor ao sair do jornal foi não conseguir um emprego logo. E veja só o que aquele rapaz mascarado que estragou o meu vestido me trouxe: a
resolução dos meus problemas. Estou rindo ao pensar que me refiro a ele como um anônimo quando, na verdade, é um grande ídolo da maioria das mulheres.
Joguei-me no sofá e revirei as folhas do meu bloco de anotações. A história de sua vida se assemelhava facilmente a uma novela. Talvez nem fora
tão emocionante assim, mas a trama que Sam enredou para me narrar a origem do seu sucesso era um tanto folhetinesca. Como jornalista, devo desconfiar de tudo, até mesmo se estes personagens que ele me conta são
reais. E, se são, teriam tido as mesmas reações que ele me descrevera? Não sei, acho que no fim, sob sua ação de contar e a minha de redigir, resultará
em uma terceira história com uma mistura de nossas versões.

Meus dedos hesitavam cada vez mais sobre o teclado a cada final de dia. Porque eu sentia que estava mais que nunca dentro daquele enredo no qual estava trabalhando. Era real, mas poderia ser um roteiro de um belo filme ou novela em que apenas eu tinha o privilégio de saber em primeira mão. Deleitava-me sozinha com o sabor de conhecer o passado daquele dele. Eu tinha ânsia de voltar às cenas e torná-las viva não apenas em
sua voz saindo no áudio, mas das pontas dos meus dedos...

Nossas conversas eram assim, primeiro Sam me contava por alto e, depois, aprofundávamos para que pudesse virar um
enredo cheio de cenas e personagens.
_E você?_ perguntou.
_Como eu? _ sorri e voltei a olhar para o bloco de anotações.
_Fale de você, também.
_O livro não é sobre mim e combinamos que esse seria o meu trabalho.
_Você não conversa no ambiente de trabalho?
_Não com meu patrão.
Sam riu alto e levantou-se. Nessas horas, eu me sentia ridícula
naquela posição de redatora de sua jovem. Porém, me mantinha na postura de jornalista séria.
_Então, encerramos o dia de trabalho. _ anunciou.
_Ãnh?
Sam pegou o celular em cima do armário da sala e discou um
número. Eu não acredito nisso, ele está me despachando? Enfiei o bloco na bolsa e quando já puxava o zíper, ouvi meu celular tocar. Era o número dele.
Franzi a testa e atendi segurando um sorriso no canto da boca.
_Alô? _ eu disse.
_Oi. Sou eu, Sam. Então, depois do trabalho você quer dar uma
volta, conversar?
_Não sei se vai dar... _ parei de bancar aquela cena. _ Isso é ridículo._ desliguei o aparelho e o joguei na bolsa. _ Eu não estou aqui para brincadeira, ok? _ levantei, olhando agora diretamente para ele.
_Nem eu. _ colocou seu celular de volta no armário e se aproximou
do sofá novamente. _ Sabe por que as pessoas gostam tanto de filmes e séries? Para viverem por um momento a vida que não é real.
_Mas essa é a minha e ela é real.
_Por isso é tão chata. _ julgou.
_Está me chamando de chata? _ ri sarcástica.
_Não, a sua vida é chata.
_Talvez porque meu trabalho não seja um picadeiro. Eu não fico em
camarins onde se servem salgadinhos na sua boca, Sam.
_Por que você me odeia tanto?
_Deixa de ser mimado, quem te garante que eu tenho qualquer
sentimento por você?
_O fato de estar nervosa? _ levantou as sobrancelhas.
_Arrgghhhh. _ grunhi e tentei passar para ir embora.
_Calma. _ segurou meu braço.
_Ouça, Heughan, eu Imagino que tenha todo esse poder de influenciar a vida das pessoas, mas eu só quero...
_O que eu preciso fazer para ser uma pessoa normal para você?
_Não ser o meu patrão.
_Então, eu tenho que te despedir?
_Também não posso pedir isso.
_E se eu te garantir que será apenas e só uma conversa?
Respirei fundo e umedeci os lábios com a língua. Cocei a testa com o
dedão.
_Eu sei o que quer.
_...
_Você quer alguém para escrever a sua história. Eu estou aqui. Mas,
você quer uma companhia, enquanto não estiver trabalhando. Um alguém em quem possa confiar, já que essa pessoa depende de você. É quase uma
amizade de aluguel.
_E você não teria pena de uma pessoa assim?
_Amizade não se tem por pena. _ ponderei.
_Tudo bem, estou tomando seu tempo... Boa tarde. _ ele fez
menção a sair e foi minha vez de contê-lo.
_Tudo bem. Mas, em off! _ por fim aceitei.
_Claro. _ sorriu.
Sentamos novamente.
_Em vez de eu só falar, conte também sobre você. Quero saber sobre você.
_Tudo bem. O que quer saber? _ perguntei ainda em tom
profissional.
_Conte-me qualquer coisa.
_Ah! Não vai querer saber... _ ri e coloquei o cabelo atrás das
orelhas.
_Fala... _ ele deitou no sofá.
_Deixa eu ver...
Larguei a bolsa de lado e tentei relaxar.

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