25 - Sam

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Stella despediu-se e eu só balbuciei um “tchau”. Ela me conhecia e
sabia que eu estava descentrado como nunca. Ficou em silêncio, parada no canto da sala. Mas, saiu sem nenhuma pergunta.
Tamborilei com os dedos sobre as coxas e dei um impulso para
levantar. Se já não tinha mais jeito e o fato era consumado, então, eu ia levá-lo a cabo. Desci até a garagem e tirei minha moto.
_Está chovendo, não quer ir de carro, senhor Sam? _ o segurança
que ficava na portaria perguntou.
_Não, prefiro de moto. _ respondi-lhe e esperei que o portão
automático abrisse.
No caminho da casa de Cait, eu até cogitei se minha necessidade de
estar perto dela fosse uma vontade de recompensá-la. Não. Definitivamente, meu anseio em conquistar sua atenção era bem além de uma origem tão pequena e fraca. Havia uma
energia e força no ímpeto de libertar o que se passava comigo que só o amor poderia ser a explicação.
Agora, não havia mais ninguém para me impedir de ficar com quem eu queria. Exceto eu mesmo e isso já era bastante coisa. Eu sabia que estar ao meu lado não era fácil, pois teria que me dividir com o mundo. Mas, eu não
me deixaria ser o vilão da minha felicidade.

Aproveitei que uma moradora estava saindo para segurar o portão e passar. Subi as escadas e parei com a mão na porta. Respirei, pensei que já tinha chegado até ali... e toquei a campanhia.
Eu não tinha nada preparado para lhe dizer, não havia escrito
roteiro algum. Enfiei as mãos nos bolsos do jeans e nunca estive tão nervoso. Vi o vulto de uma silhueta pela fresta, no chão da porta, depois o barulho da
chave, o trinco em dois estalidos metálicos e a porta se afastando para dentro. Levantei meus olhos e eles se encontraram com os dela.
_Sam? _ ela franziu a testa.
_Oi.
Ficamos ali parados, fingindo uma surpresa e uma conveniência,
quando na realidade tínhamos consciência de que não dava mais para esconder que a gente não era só amigos, ou “patrão e empregada”, como ela
insistia em reafirmar.
_Se veio aqui sobre o livro...
_Se fosse sobre o livro, eu poderia esperar. _ interrompi-a.
Cait engoliu em seco, colocou o cabelo atrás das orelhas como
gostava de fazer quando estava apreensiva.
_Entra... _ abaixou os olhos e ficou na mesma posição.
Eu me vi no centro de sua sala, pronto para falar-lhe o que não
conseguia segurar por mais nenhum minuto na garganta e ela não ousava
nem me olhar.
_Cait... _ chamei-a.
Ela levantou o rosto e descruzou os braços, quis fugir para a
cozinha.
_Vou fazer um café...
_Não quero... _ não deixei que passasse, me posicionando entre os dois sofás. _ Você sabe o que eu quero...
Ela se afastou um passo atrás e pareceu nervosa.
_E o que você quer? _ levantou os olhos e vi que estavam
brilhantes, cintilando um pavor que não entendi.
_... _ emudeci.
_Não dá, entende? _ meneou a cabeça para o lado e relutou.
_Não
_Será que não vê, Sam? É tão claro. _ olhou dentro de mim, como se
a pergunta fosse no universo do contexto de todo uma vida passada até então.
_Não vejo, não entendo e não me peça para entender, porque eu
não vim aqui para isso.
_Para quê, então? _ ela pôs a mão direita na cintura.
Ouvi o barulho de alguém na cozinha. Senti pela primeira vez um medo de ter feito a coisa errada em vir até sua casa. Ela estava acompanhada de outro homem?
_Com licença. _ ouvi uma voz feminina atrás de mim. Virei e vi que era uma mulher. _ Prazer, sou a amiga de Cait.
_Prazer. _ estendi-lhe a mão, aliviado. _Sam.
_Já ouvi falar muito de você.
Olhei para Cait e captei um olhar de repreensão para a amiga que
me fez rir.
_Quero dizer, está em todos os jornais. _ ela tentou se explicar.
_Sim, claro...
_Mas, não se preocupem comigo, finjam que nem passei por aqui. _
pegou a bolsa em cima do sofá e pôs sobre o ombro direito.
_Eu não queria atrapalhar... _ disse-lhe.
_Não se preocupe, marquei de encontrar o César. _ ela deu-me dois beijos e caminhou para a porta. _Depois nos falamos, amiga.
_Tá. Vai com Deus.
A porta se fechou e estávamos de vez à sós.
_Sam, eu tenho que trabalhar, sabe? _ ela caminhou para uma mesa
no canto da sala, querendo se socorrer em qualquer papel que comprovasse uma desculpa para eu cair fora.
_Mentira! Você entregou o livro hoje para mim, o que vai fazer
mais?
_Eu faço outras coisas além do seu livro, sabia? _ ela me falou sem
qualquer tom de certeza.
Caminhei até ela, que ficou encostada na beirada da mesa, sem ter para onde mais escapar
_Você não está na sua hora de trabalho. _ falei sério.
_E quem disse que existe hora para trabalhar?
_Você mesma.
Dei o último passo que faltava para nossos corpos se encostarem.
Coloquei minhas mãos sobre as suas para que se tranqüilizasse. Toquei no seu cabelo e ela não levantou a cabeça. Eu esperaria, já tinha chegado até ali.
Todos os anos para chegar até ela, eu esperaria...
_Sam, não é simples assim. Não com o meu coração... _ falou
baixinho.
_Você nem deixou acontecer.
_Eu já deixei há muito tempo. _ Olhou-me em cheio e agora havia
uma permissão em seus olhos.

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