34 - Caitriona

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A campainha tocou e eu apertei o botão para atender ao interfone:
_Quem é?
_É o advogado do Sam. Trouxe uma coisa para a senhora.
Ouvi o barulho dos repórteres ao fundo.
_Pode subir. _ autorizei.
O homem que vi ao abrir a porta era jovem e vestia um terno azul.
_Entre. _ indiquei com a mão.
_Pensei que não conseguiria passar pela barreira lá embaixo. _ ele riu.
_Estão ali como urubus sobre a carniça esperando eu descer.
_E o que pensa em fazer? _ perguntou.
Eu fiquei calada. Era estranho ter um homem que nunca vi sentado
no meu sofá, querendo saber dos meus planos.
_Deixa eu me apresentar melhor. Meu nome é Oliver, sou amigo do Sam. vou defender seu... Hum. Ele.
_Vai entrar com um processo por danos morais? _ perguntei.
_Depois sim. Agora o mais importante é conseguir tirá-lo da cadeia.
_Cadeia? _ repeti a palavra como um espirro incontido.
_A senhora não sabe...?
_Do vídeo?
_Até onde sabe...?
_Do que está falando? _ perguntei.
_Sam está sendo acusado de tentativa de homicídio.
_Quê? Ele está preso?
_Está. E me mandou até aqui ver como você está...
Eu me levantei e andei de um lado para o outro da sala.
_Agora estou pior! _ respondi. _ Como isso aconteceu?
_Ele ficou tão nervoso com o que a assessora dele fez que tentou
agredi-la. Só que, a mulher enlouqueceu e quis se matar. Quase conseguiu!
_Onde ela está?
_Internada no hospital.
_E por que Sam está sendo incriminado?
_Ele falou alto que iria matá-la e os porteiros ouviram. Mas, no
fundo, não era sua intenção chegar a tal ponto. Stella começou a gritar que ele estava tentando esfaqueá-la e isso piorou a situação para o lado dele porque, ao chegar na cozinha, o segurança viu que ele estava rolando no
chão com ela e ela ensangüentada.
_Meu Deus... _ sentei no sofá, atônita. De repente, o vídeo era um
detalhe pequeno para o que conseguiu se tornar pior.
_Essa mulher é louca total.
_Ele escreveu isso para você. _ o advogado me entregou uma folha
de papel escrita de caneta azul.
Caminhei até a janela e lá, atrás da cortina fechada, li:

Eu queria estar te escrevendo palavras lindas, em algum lugar
bonito para te dizer boas notícias. Agora o que tenho é uma jaula, letras tristes e péssimos presságios. Mas, o que ainda me resta é você. Vão te
perseguir e tentarem vender sua tristeza como se comercializa a nova versão de um carro na TV. Nessa hora, lembre-se de nós e da vida que quis nos unir.
Te peço coragem, quando me falta também. Por favor, Cait, não me
abandone, nem me condene. Os meus atos inconseqüentes de antes são poeira, possível de assoprar e ser levada pelo vento. Já o que aconteceu
conosco é uma verdade que quero levar para sempre. As pessoas vão se divertir com o vídeo e torná-lo motivo de piadas e conversa de bar, depois esquecem. Só que eu não quero ser esquecido por você também. Meu amor, eu vou provar que não fui culpado, que não tentei matar Stella. Depois, quero estar ao seu lado. Cait, me ajude. Lute por mim agora.”

Afastei a cortina com a ponta dos dedos e vi os repórteres lá em
baixo.
_O que pretende fazer? _ perguntou ele.
_Me espere um minuto? _ pedi.

Fui até meu quarto e fechei a porta. Olhei-me no espelho oval que
havia em cima da penteadeira. Acariciei minha barriga, respirei fundo.
Lembre-se de nós e da vida que quis nos unir”.
Descemos as escadas do meu apartamento e Oliver abriu a porta
de vidro para eu passar. Vários flashs começaram e serem disparados.
“Vão te perseguir e tentarem vender sua tristeza como se
comercializa a nova versão de um carro na TV.”
_Na porta da delegacia está pior. _ ele falou próximo ao meu
ouvido.
Virei meu rosto em sua direção e falei decidida:
_Não se preocupe, eu sou profissional.

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