26 - Caitriona

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Meu coração era uma bomba relógio antiga que se esqueceu de
explodir. tentando enxergá-lo como um ser humano normal. E apenas alguns minutos de proximidade para esquecer todas as
lições. O coração é burro, não aprende, não quer aprender, ele tem sua lógica de felicidade.
Tive medo de estar apenas seguindo o impulso de qualquer fã que quer agarrar seu ídolo. Um pânico de bancar o papel de idiota e me cegar com uma paixão de filme.
Mas, a gente não pede para a vida ser normal, pelo contrário, luta
por qualquer tremor que a abale. Agora estava ali fora do eixo, entre duas bocas quase se tocando. Eu era o próprio espaço mínimo que nos separava.
Sua respiração quente saindo das narinas sobre minha bochecha e seu peito arfando encostado no meu.
Eu era só a redatora de seu livro e ele, um grande ator, o queridinho
da tv e das telas do cinema. Parecia tão grande que eu não poderia macular o privilégio de lhe desejar. Só as estrelas estariam à sua altura.
Mas, eu não queria atingir status de qualquer coisa sua, só desejava aquele beijo.
_ Sam você... _ eu comecei tão convarde que pensei
estar possuída por outro eu. _ ... Está confundindo as coisas.
_Eu estou confundindo? _ ele se afastou e vi raiva em seu rosto.
Não se deve contrariar os homens, não estão preparados para perder,
simplesmente não admitem. _ ... Eu sou um idiota mesmo!
_Não disse isso. _ consertei.
_Não, não, Caitriona! _ ele balançou as mãos no ar, fazendo sinal
negativo para que eu parasse de falar, porque não queria ouvir. _ Eu sei muito bem o que você diz! Você mente para si mesma. _ apontou para mim com o dedo indicador e acusatório. _ Essa é a única explicação que encontro para sua fraqueza. Eu vejo nos seus olhos que você me quer também! Vamos jogar limpo aqui!

Virei de costas e fechei os olhos, apertei-os com força.
_Eu nunca devia ter vindo aqui! _disse.
_Sam? _ chamei.
Ouvi o estrondo da porta batendo. Atravessei a sala e a reabri.
Alcancei-o no corredor a tempo de que não descesse as escadas. Puxei sua camisa até que esta se esticou ao máximo e ele voltou um passo atrás como uma corda elástica. Virei-o para mim e seus olhos eram duros e frios. Puxei-o
pela mão para dentro do apartamento outra vez e ele veio trotando os pés, literalmente arrastado. Fechei a porta e ali Sam ficou de pé.
Recompus-me em uma distância de dois passos. Nós éramos um
eclipse. Ele em minha frente irradiava a beleza e a vivacidade que sobrepunham minha covardia cinzenta. Minhas mãos transpiraram e o
coração deixou a bomba.
_A gente pode voltar à cena? _ perguntei em um sorriso cândido e tímido.

Ele precipitou-se sobre mim e uniu sua boca à minha como se estas
nunca tivessem sido separadas desde todos os tempos. Agarrei-lhe com cuidado os cabelos com os punhos fechados, experimentando a seda daquele toque. Senti-lhe as costas, os movimentos, o seu corpo forte. O seu cheiro de perfume com odor emadeirado me inebriava desde as narinas até
as entranhas.
Sua boca desceu pelo meu pescoço e fez a mistura dos deuses, Revirei os olhos em um transe e senti a boca seca.
Não pensem que meu superego não tentou todas as incriminações sobre aquele ato. Mas, eu não era cabeça, era um coração pulsando forte e dolorido de tanta potência que podia enfartar no peito. Então, que eu morresse assim, sentida, possuída, desejada, entranhada naquela possessão carnal.
Sam se livrou abruptamente dos botões da minha blusa e eu ainda
relutei em um ato involuntário, quando vi, já não havia blusa mais. Era uma mágica de poucos gestos, alguma força e um alto teor de volúpia. Abracei seu pescoço e deixei que descesse o rosto para encontrar o que procurava. Suas
mãos puxaram a camisa para o alto.
Eu era a única platéia.
Ele arremessou a camisa para longe e veio em músculos, peitoral e braços torneados se livrar do resto que me impedia de ser uma só com ele.
Caí sobre o sofá com sua mão segurando minha nuca e entreguei-lhe os lábios, a alma, o corpo, o amor guardado.
Quando acordei daquele experiência espiritual pura e elevada, vi seu rosto suado e sonolento. Sorrimos. Permanecia quieta e acolhida no
abraço confortável e seguro.
_Cait...
_Hum. _ apoiei a cabeça na mão e fiquei em posição de admiração.
_Você acha que vamos precisar refazer a cena?
Eu ri um riso leve, gostoso e feliz.
_Ahh, eu acho. Talvez, alternar os cenários, o figurino...
_Você está começando a pegar o jeito da coisa. _ sorriu e afastou
meus cabelos para trás. _Sabe como me sinto?
_Com dor nas costas? _ ri e me levantei do sofá. _ Isso aqui é muito apertado. _ catei as nossas roupas do chão.
_Sinto que encontrei você.
Eu parei de empilhar as peças no braço e o olhei.
_Eu estava esperando achar você.
_Ah! Tirou isso de alguma fala, né? _ tentei levar para o lado da
brincadeira.
_Nunca foi assim, nem desse jeito...
Eu fiquei séria e engoli em seco.
_Também para você? _ perguntou.
Sentei-me ao seu lado e o olhei longamente deitado em minhas
almofadas, dentro do cenário da minha vida, me dizendo que eu era a atriz principal da sua história. Acariciei seu rosto com a mão esquerda e me inclinei
sobre ele. Sussurrei:
_Foi único.

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