33 - Sam

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Desci para o café da manhã e encontrei Stella na minha cozinha
falando no interfone.
_O que faz aqui? Permitiram sua entrada sem me falarem nada?
_Você estava dormindo.
_Nos deixe a sós. _ pediu para a minha empregada, que se retirou
prontamente.
_E ainda por cima manda na minha casa? _ ri, irônico.
_Eu sempre fiz isso. Tudo pode voltar aos velhos tempos. Eu pensei bem sobre tudo que eu falei. Estava nervosa...
_Stella, só há para mim uma via: você procurar um outro trabalho
na boa, sem brigas, ok?
_Eu não saberia fazer nada além de cuidar de você.
_Por favor, não torne tudo mais difícil...
_Sam, é você quem está complicando. Porque nossa dupla era perfeita até você se apaixonar por aquela mulherzinha.
_Reconheço que você é uma ótima profissional. O problema é que
nossa interação não está boa.
_Não pensava assim até aquela mulher ter revirado sua cabeça...
_Fala como se eu me apaixonar rompesse alguma cláusula
contratua. É exatamente isso que me sufoca e aprisiona. - desabafei.
_Eu não quero ficar longe de você! Eu te amo! Eu te amo, Sam! _
Stella empurrou-me até a pia e me beijou à força.
Quando consegui afastá-la percebi que poderia existir algo pior que
estar sendo beijado pela minha chantageadora: Cait em pé, na porta da cozinha. Senti um frio na barriga, que bem poderia ser uma descarga de adrenalina para me avisar que eu estava em apuros. Eu não consegui, em um
primeiro momento, falar nada.
_Que bela cena! _ Ela bateu palmas e sua voz estava embargada.
_Não é isso que está pensando!_ falei.
_Eu vi, Heughan. Não subestime minha inteligência!
_Espera. _ corri atrás dela, precisava lhe explicar que não a estava traindo.
Stella não se manifestou, voltou-se para seu computador e sua
agenda como se tudo que acabava de acontecer não tivesse envolvido a sua pessoa.
_Sam, se tiver que me dizer alguma coisa agora, então, fale porque
eu prefero ouvir da sua boca que ler nas capas das revistas.
_Cait, eu te amo e não seria capaz de te fazer sofrer...
_E por que será que eu estou chorando?
_Porque está entendendo tudo errado.
_Ah! Então, me explique! Porque quero entender o significado
correto de eu chegar à sua casa e encontrar sua assessora com a língua na sua garganta.
_Eu acho que eu posso explicar.  Stella entro na sala, trazendo seu
Notebook.
_Não vai falar nada. Não foi chamada para essa conversa...
_Deixa ela falar! _ Cait pediu.
_Não! Ela só vai deturpar tudo... _ comecei a demonstrar desespero
e isso aguçou a curiosidade dela.
_É o mínimo que posso fazer. _ Stella colocou o computador sobre a mesa. _ Depois de todos esses anos só o que sei fazer é falar pelo por você. _ ironizou, enquanto apertava alguns botões.
_Não precisa fazer isso. _ abaixei a tela e falei baixinho para Stella.
_ Por favor, não...
_Eu quero ver. _ Cait se aproximou.
Não havia mais solução, nem maneira de esconder de Cait. Ela que sempre acreditara que o mundinho das celebridades era um lugar frio e sem sentimentos, onde todos ficam com todos e não têm laços afetivos com ninguém se tornaria , depois de ver o vídeo teria certeza disso.
Stella e eu nos afastamos e sobre os ombros dela vimos quando
apertou o botão do play. Eu senti-me realmente envergonhado pelo que havia feito.
A primeira cena que viu foi de Stella e eu bebendo no sofá. Ela com
alguns botões da blusa aberta e minha mão sobre sua perna. Começamos a nos beijar e o que se sucedeu era difícil de relembrar. Virei de costas e coloquei as palmas das mãos na nuca. Olhei para Stella a fim de captar sua
expressão diante da eminência da destruição do meu namoro. Quando ouvimos a parte principal do vídeo não agüentei e avancei sobre o computador para pausar. Pus as mãos nos ombros de Cait.
_Eu posso explicar... Isso já fez muito tempo.
Ela virou o rosto para mim e aquele olhar de decepção era um
golpe profundo.
_Eu não quero ouvir nem ver mais nada que venha de vocês dois... _
ela se afastou.
Corri atrás dela até o portão, mas ela pediu para deixá-la em paz
e sozinha.

(...)

Entrei pela sala como um projétil que já tinha o destino certo. Eu era
um rastro de fogo cortando o ar. Quis arremessar aquele computador na parede e espedaçá-lo.
_Não adianta, não está mais aí. _ Stella falou com a voz fria e os
olhos cintilando.
Congelei, como a câmera que detém a cena e deixa os objetos
suspensos.
_Já está na Internet.
_Você não...
_Não, eu não. _ corrigiu e deu uma risada enlouquecida. _ Alguém,
um anônimo qualquer...
_Por que está fazendo isso comigo?
_Quem começou?
_Isso não é uma guerra! _ franzi a testa indignado.
_Eu vou destruir cada tijolinho do castelo que ergui para você, Heughan.
_Você está louca! _ agarrei-a pelo braço.
_Me solta! _ gritou e correu para a cozinha.
_Eu não vou te perdoar! _ peguei-a pelos braços e a apertei contra a
pia.
_Socorro! _ Stella gritou.
_Eu posso cair, mas você vai vir junto. _ tampei sua boca com uma
das mãos e seus olhos se esbugalharam.
_Hummm... _ tentou falar.
Ela puxou uma faca que estava em cima da pia com uma das
mãos que soltei por alguns segundos.
_Você ousaria tirar a vida de quem ama? _ perguntei, sentindo o
metal frio no pescoço abaixo da minha nuca.
Destapei a sua boca.
_Se não pode ser meu, não será de mais ninguém.
_Se me matar, não impedirá que Cait continue gostando de mim,
nem que minhas fãs deixem de me amar, nem que...
_E se eu me matar?
_Ãnh?
_Eu não posso fazer as pessoas te amarem. Mas, eu posso afastá-las de você.
_Você está louca!_ tentei puxar a faca de sua mão. Contorci seu
pulso.
A faca caiu no chão e fez um estalido metálico. Peguei mais rápido que ela, mas tive que duelar no chão para impedir que tomasse de mim.
_Não vai me incriminar! _ puxei seu braço com força, mas ela
conseguiu recuperar a faca.
_Você nunca mais será o mesmo! _ Ela sorriu, feliz por estar sob
o controle. _ Sam, não me mate! Sam não me mate! _ berrou e dei-me conta de que os gritos eram para chamar a atenção do segurança.
Eu atirei-me sobre ela e rolamos pelo chão, mas ela conseguiu o
que queria, cortando-se em um ato de loucura passional. Senti duas mãos puxar a minha camisa por trás e depois um punho fechado no centro do meu rosto fez tudo se apagar.

(...)

Quando acordei, senti uma forte dor de cabeça. Abri os olhos com
esforço e percebi que estava deitado em um colchão duro. Assustei-me. Que
lugar era aquele?
Olhei para o lado e vi grades de ferro. A próxima coisa que consegui enxergar foi um policial um pouco desfocado. Apertei os olhos e, ao abri-los, constatei que não era sonho. Então, deveria ser um pesadelo real. Sentei-me
assustado e constatei que havia sangue na minha blusa. A última coisa que lembrava era de estar brigando com Stella pela posse da faca. Senti uma mão
agarrando minhas costas e depois um soco. Quem me trouxera para ali?
Perguntei ao policial, que mandou eu ficar quieto e esperar meu
advogado. Hei! Eu precisava ser defendido de quê? Senti falta do celular para poder ligar e pedir socorro para alguém. Que ironia... Stella certamente era a
primeira pessoa em quem eu pensaria há um ano. Bastava discar seu número mágico e pronto, haveria alguém para resolver tudo por mim. Agora, eu
estava sozinho.
A primeira visita que recebi não fora do meu pai, acompanhado por Oliver meu advogado.
_Eu sei que não seria capaz. _ sua primeira frase era mais um
pedido de confirmação do que certeza. Havia uma reticência duvidosa em seu
olhar e voz.
_Claro que não! Eu não iria matar ninguém...
_As coisas estão complicadas para o seu lado, Sam. _ disse Oliver.
_Eu não matei!
_Na justiça não basta o sim pelo não. Temos que provar. Só que
existem muitos agravantes no meio dessa grande confusão que se armou.
_Grande confusão? _ senti que eu não estava tendo real noção da
dimensão das coisas.
_O segurança ouviu você falar que a mataria.
_Foi uma força de expressão! _ expliquei.
_Acompanhada, claro, de vocês dois na cozinha engalfinhados no
chão e a sua assessora com uma faca cravada na barriga. _ complementou.
_O que aconteceu com ela, eu não lembro...
_Ela tentou se matar e te incriminar. _ meu pai me respondeu. _
Está em estado gravíssimo no hospital.

Dei um muro na mesa.

_A imprensa inteira está aí fora contra você, meu filho.- disse meu pai
_A Cait, meu Deus, a Cait! _ lembrei-me dela e senti vontade de
protegê-la, mas não podia, estava também precisando de proteção de todas as acusações caluniosas.
_Eu não sei... Mas, depois de tudo que está passando na TV e na
Internet eu até entendo que...
_Tv, Internet...?
_O vídeo...
_O vídeo? _ franzi a testa e um lampejo de lembrança me fez gelar o semblante. _ O vídeo foi divulgado?
_Já está na fase viral.
_Quem fez isso? - Oliver quis saber _ Stella! - respondir.

(...)

Quando entrei em casa, senti-me fraca. Só queria meu travesseiro
macio e o edredom fofo para me abrigar e chorar quieta minhas próprias dores. Não podia acreditar que Sam e Stella... Fechei os olhos com força.
Afastei a lembrança das cenas da cozinha com força.
O telefone tocou. Primeiramente, pensei em não atender, mas
depois conferi o número no visor.
_Oi, Lauren.
_Não precisa dizer nada, eu te entendo...
_Ãnh?
_Eu vi. Todo mundo viu, aliás. Estou te ligando para saber...
_Do que está falando?
_O vídeo.
_Qu... Como teve acesso?
_Está na rede.
_Rede? Quem pode...? A Stella!
_Não sei quem, mas está virando o vídeo do momento. Só se fala
disso.
_Foi postado quando?
_Na madrugada de ontem. _ respondeu, depois de pedir um minuto para conferir o dado.
_Então, ela já tinha planejado? Isso quer dizer que o beijo da
cozinha foi armação?
_Ãnh?
_Nada. Tanta coisa está acontecendo.
_Quer que eu vá para aí?
_Não precisa, agradeço. Quero ficar sozinha. _ respondi. Não sabia
se ela realmente queria falar comigo ou conseguir um grande furo de reportagem.
Eu podia me livrar gentilmente dela. Mas, o que dizer do batalhão
de fotógrafos na portaria do meu prédio? O porteiro já não sabia como contê- los.

(...)

_Eu preciso falar com a Cait.
_Não será tão fácil trazê-la até aqui.
_Um papel e uma caneta. Anda, preciso escrever para ela. _ pedi
para Oliver.
Ele me entregou o que eu queria e eu comecei a escrever
freneticamente, antes que o tempo da visita acabasse. Entreguei-lhe a carta:
_Entregue em mãos para ela. Quero que tomem providências
para tirá-la imediatamente do apartamento dela. Levem-na para um lugar reservado e longe da imprensa! Não quero ninguém vendendo jornal às
custas do sofrimento dela.
_Nem parece estar preocupado em se defender. _ ele comentou.
_Eu posso me defender e conseguir que a justiça me perdoe. Mas,
dificilmente, se apaga do coração de uma mulher a decepção que sentiu ao ver um ato de traição. Seja ele mentira ou verdade.
_A que ponto chegamos? _ meu pai estava desnorteado.
_A que ponto chegaremos? _ adiantou-se o advogado.

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