Capítulo 01 - Velha lembrança

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DIA 1

"A primeira vantagem de não se apaixonar e talvez a mais importante delas: O SEU CORAÇÃO NÃO SERÁ QUEBRADO."

            Estava sentada na biblioteca aguardando a fila diminuir para que eu pudesse alugar um livro para ler durante as aulas. Estive insistindo durante vários dias para Paolina, a senhora de sessenta anos que ficava responsável pela biblioteca, para que me deixasse levar mais livros.

Você já conhece as regras senhorita Lawrence. — Falou com pouca vontade mais uma vez. — Existem centenas de alunos nessa escola que entendem que é um livro por aluno, por que a senhorita não consegue?

            Não gostava muito do tom que ela utilizava para falar comigo. Talvez eu fosse à aluna que mais interagia e cuidava daqueles livros. Havia dias que eu estava ali apenas para arrumá-los sem esperar nada em troca.

            Sai desanimada com um livro sobre metas de baixo do braço e segui sentido a minha sala. Antes de chegar, fui surpreendida por gritos. Gritos altos e irritantes. Uma menina parecia xingar alguém.

— Eu vou te matar! — Afirmava ela. — Você não pode apenas não ligar no dia seguinte como se nada tivesse acontecido.

            Cheguei mais perto e quando estava quase virando o corredor fui surpreendida por Susan, a rainha do baile por dois anos consecutivos. Nós compartilhávamos de algo em comum: um amor por Austin.

— Eu não achei que você levaria tão a sério. — Austin falou calmo, era nítido em sua expressão que não estava nenhum pouco preocupado, típico cafajeste.

            Recuei um pouco e continuei atrás da parede, apenas com os olhos voltados ao casal a minha frente.

— Como? Você está brincando comigo? — Perguntou nervosa, tentando controlar as lágrimas que caiam rapidamente.

            Uau. Eu estava ali diante de uma briga e não havia outros alunos por perto.

— Nós nos beijamos algumas vezes, foi só isso. — Ele deu de ombros e tentou se esquivar das mãos dela.

— Quero que você morra, está me ouvindo? — Gritou e retirou-se batendo o pé.

            Austin era maravilhoso mesmo com todos os seus defeitos. Eu poderia ter me apaixonado por tantos outros naquele infinito, mas ah, eu adorava o seu sorriso traiçoeiro.

            Passei andando rapidamente por ele para não ser notada e adentrei nossa sala que estava vazia por conta do horário. O intervalo havia se estendido mais do que o previsto por uma típica reunião dos professores.

            Sentei-me na minha cadeira, que por conta do óculo, encontrava-se na primeira fileira em frente à mesa do professor. Deixei o livro sobre ela e ativei uma playlist qualquer em meu celular, encaixando os pequenos fones em meus ouvidos.

— Com licença. — Alguém pediu tocando meu braço.

            Levantei o olhar para ver quem estava desrespeitando o meu momento com meu livro e avistei lindos olhos castanhos me encarando.

— Sim? — Perguntei retirando os fones e encarando de uma forma mais intensa meus olhos favoritos.

— Você é a Amélia, certo? — Perguntou e aquilo fez com que várias borboletas se agitassem em meu estomago.

            Ele sabia o meu nome. Sabia o meu nome e nós nunca tínhamos conversado. Quer dizer, nós havíamos feito um trabalho no primeiro ano do ensino médio, o que significava uma vaga lembrança, já que se haviam passado dois anos desde então.

— Exato. — Concordei.

— O professor de química comentou sobre você ser uma boa aluna na matéria dele... — Iniciou. — E também me falou que se eu pedisse talvez você pudesse me dar algumas aulas.

            Nunca na minha vida eu recusaria ficar mais próxima de Austin.

— Estou precisando de dinheiro, então se você pudesse me pagar um pouco. — Expliquei.

— Ah, claro. — Deu de ombros. — Quanto você quer? 50?

            Minha boca se abriu em um O imenso. Pela expressão do seu rosto a minha cara estava muito engraçada. A sua cabeça estava de lado e suas sobrancelhas estavam quase unidas, demonstrando confusão.

— Pode ser. — Dei de ombros como se eu não estivesse pulando por dentro.

            A verdade era que para alguém como Austin, com uma família muito bem financeiramente, cinquenta dólares não eram nada.

            Mesmo que mamãe estivesse vendendo muitos livros agora e que papai estivesse trabalhando em algo que ele sempre sonhara relacionado à sua empresa de jardinagem, ainda assim, a nossa renda nem chegava as de seus pais.

— Qual o melhor dia para você? — Perguntou.

— As quintas-feiras à noite? — Sugeri.

— Ótimo, na minha ou na sua casa?

            Pensei um pouco sobre a proposta. Caso fosse à minha casa, provavelmente meu pai faria de tudo para interferir em algum momento. Primeiro porque ele iria querer estar ciente de que eu realmente o estava ensinando e que nada estaria acontecendo com sua filha. Segundo que com certeza me faria passar vergonha de alguma forma.

— Na sua, pode ser. — Respondi.

            Antes de sair pela porta, Austin escreveu na última folha do meu caderno seu endereço. Provavelmente eu teria que insistir para mamãe me dar uma carona até sua casa — o qual faria de muito bom grado —, porque o que ela realmente sentia prazer era ver sua filha voar.

            Agora, o que se passava em minha cabeça era que ela iria querer saber todos os detalhes. Por quê? Porque ela sabia desse amor secreto. Ela deitava em minha cama durante a noite e conversávamos sobre isso. No fim, acabava colocando muito dos meus sentimentos e das minhas palavras nas páginas de seus livros.

            O meu coração se encheu de amor naquele dia. Estava com pressa para chegar em casa e contar tudo para mamãe. Quem sabe ela escrevesse algo apenas sobre a minha vida um dia.

            Não havia ninguém em casa. Era terça-feira e como de costume mamãe havia ido até seu curso. Ela aprendia muito sobre como melhorar no ato de escrever e envolver leitores na forma da escrita.

            Papai ainda estava na empresa e demoraria pelo menos mais algumas horas para chegar.

            Aproveitei o pouco tempo disponível que tinha para pintar as unhas dos pés, era a única mudança que eu estava apta a fazer.

            Aproveitei o pouco tempo disponível que tinha para pintar as unhas dos pés, era a única mudança que eu estava apta a fazer

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Espero que estejam gostando do novo livro. Ainda não possuo uma previsão para postagens fixas, então irei postar apenas alguns capítulos como degustação para irem conhecendo a história.

As vantagens de não se APAIXONARWhere stories live. Discover now