Capítulo 23 - Lágrimas

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Senti o vento gelado tocar meu rosto enquanto caminhava sozinha pela rua. Minhas mãos estavam geladas e a única coisa que minha cabeça conseguia pensar fora agradecer mentalmente mamãe por ter me feito vestir um suéter antes de sair de casa.

Catherine e eu combinamos de nos encontrar em uma lanchonete mais tarde. Ela ficava na rua de trás do colégio e a maioria dos alunos se encontravam lá.

Ela estava animada para me mostrar o chá gelado que eles faziam lá, segundo a mesma era o melhor que já havia tomado e eu estava disposta a experimentar.

— Filha! — Mamãe gritou alto quando bati à porta de entrada, o que automaticamente me fez correr pensando que algo estava acontecendo com ela.

Quando cheguei ofegante na sala, por mais que havia corrido apenas alguns metros por ficar bem próximo da porta, mamãe estava com seu notebook no colo. Digitava freneticamente com seus dedos experientes e rápidos.

— O que foi? O que está acontecendo? — Perguntei preocupada.

— Consegue descrever um pouco do que sentiu ontem? — Perguntou curiosa sem nem ao menos me olhar. — Estou escrevendo um livro e a personagem está passando por uma desilusão amorosa.

De alguma forma as suas palavras em vez de me machucarem e me fazerem pensar de uma forma ruim em Austin, me fizeram rir.

— Você está grávida, simplesmente não pode gritar dessa forma desesperada por causa de um livro. — Expliquei.

E então me sentei ao seu lado e passei a descrever tudo que estava sentindo e principalmente o que senti ao escuta-lo me falar que não teríamos nada.

Era estranho utilizar meus sentimentos para ajudá-la a escrever seus livros, mas de alguma forma já estava acostumada.

Enquanto ela estava focada em seu trabalho, resolvi preparar o almoço. Por sorte mamãe havia me ensinado desde cedo ser independente caso não pudessem estar presentes.

Preparei uma carne na chapa com legumes cozidos e salada verde. Enquanto servia a mesa ouvi o barulho do carro de papai na garagem, ele costumava fechar sua loja para o almoço. Nós tínhamos algo com refeições. Era a ocasião que nos unia, que nos permitia este mais próximos.

— Que cheiro maravilhoso é esse? — Mamãe gritou da sala. — Ainda bem que terei uma mastercheff em casa quando o bebê nascer.

Eu certamente viraria uma escrava, mas quer saber? Meu número de importância para isso era zero.

Ouvi uns barulhos de beijos e vozes transformadas em crianças vindos da sala. Quando espiei, percebi papai abraçado a barriga de mamãe e imaginei se encontraria alguém assim.

Mesmo sabendo que nenhum amor era igual, gostaria que o meu fosse inesquecível daquela forma. Na mesma intensidade.

— Olá minha boneca preferida. — Papai beijou a minha testa e em seguida roubou um pedaço de carne com os dedos. — Que gostoso.

Sorri com o elogio enquanto mexia o suco com uma colher.

Apesar de ambos estarem sorridentes, era nítido que estavam desconfortáveis comigo. Seus olhos se alcançavam às vezes e eles pareciam conversar apenas com o olhar. Estavam curiosos.

— Perguntem logo, o que querem saber? — Perguntei enfiando um pedaço de carne na boca.

— Vocês se falaram hoje? — Mamãe perguntou.

— Não. Ele mandou um amigo perguntar se eu estava bem e foi só. — Expliquei.

Papai pareceu xingar baixinho mas não consegui decifrar exatamente o que estava dizendo. Em vez disso foquei meu olhar no meu generoso prato de comida.

— Mais tarde irei até a lanchonete perto do colégio com minha amiga. — Contei.

— Você tem uma amiga nova? — Perguntou animada.

E os minutos que se passaram precisei contar cada detalhe da minha mais nova amizade.

Apesar de Catherine ser um pouco intimidante, nesses poucos dias que estava convivendo com ela se tornara alguém agradável em minha vida.

— Ela vai fazer alguma universidade? — Papai perguntou curioso.

— Não conversamos sobre isso na verdade. — Respondi.

A intenção deles provavelmente seria convencer minha mais nova amiga de cursar uma universidade o mais próximo da cidade possível. De preferência que pudesse fazer com que eu mudasse de ideia também.

Mas Catherine não parecia ser o tipo de menina que se deixa persuadir.

Encontrei uma calça jeans velha e surrada no fim do armário. Talvez fizesse alguns meses que eu não a utilizava e resolvi vesti-la. Sempre tentava reaproveitar tudo que estivesse ao meu alcance, quando já não dava mais, repassava para alguém que realmente estivesse precisando.

O cardigan listrado de mamãe com cores fortes como vermelho e preto, combinavam com a minha blusa de alcinha branca. Acredito que qualquer cor combine com branco.

Por fim, a única coisa que me restava era utilizar óculos de grau, que por muito tempo havia sido deixado de lado, mas que agora estavam sendo necessários demais.

— Não sei que horas volto. — Avisei ao depositar um beijo em sua bochecha.

— Cuide-se e qualquer coisa ligue para casa. — Mamãe pediu em tom de preocupação.

De certo modo era estranho não ter muitos amigos. A cada esquina que passava analisava muitos alunos do colégio onde eu estudava, em círculos, as conversas pareciam atraentes e divertidas já que a maioria estava rindo ou com sorrisos nos rostos.

Entendo que quantidade não significa exatamente qualidade. Já que muitos que às vezes estão próximos da gente, não são verdadeiros e tão essenciais como outros.

Estava apostando minhas fichas em Catherine e desejava que ela pudesse ser a minha pessoa. Talvez seja brega e esperançoso demais, quando você ainda nem conhece direito a pessoa, mas eu enxergava algo bom ali.

As vantagens de não se APAIXONAROnde histórias criam vida. Descubra agora