Capítulo 13 - Jaqueta perfumada

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DIA 6

"A sexta vantagem de não se apaixonar quando se está magoado: VOCÊ NÃO ESPERARÁ POR EXPLICAÇÕES OU PEDIDOS DE DESCULPAS."

Nunca em um domingo de manhã, havia acordado com barulhos tão altos como hoje. Meu coração estava acelerado demais e eu não estava entendendo o que estava acontecendo dentro daquela casa.

Por alguns segundos me recusei a levantar da cama por insegurança. Caminhei nas pontas dos dedos até a porta e abri lentamente, exibindo apenas uma fresta que me possibilitava ver o que estava do outro lado.

O corredor do andar de cima estava vazio. O quarto de papai e mamãe estava com a porta aberta e tudo parecia normal lá dentro.

— Mãe? Pai? — Chamei curiosa.

— Aqui! — Gritou mamãe. — Estamos na cozinha.

Apenas escutando a voz tranquila de mamãe e sabendo que tudo estava bem, consegui tranquilizar a respiração e descer a escada. Ao entrar na cozinha dei de cara com papai no chão arrumando a pia.

— Que susto que vocês me deram. — Comentei.

— Você não acredita que fui preparar o café da manhã e o cano da cozinha soltou. — Mamãe parecia inconformada.

Encostei-me no batente da porta e avistei a mesa pronta para o café. Aparentemente a única coisa que mamãe não havia preparado era o café, já que havia deixado a garrafa de suco em cima da mesa.

Enquanto papai trabalhava no pesado e mamãe olhava atentamente com o semblante preocupado, deliciei-me com o pão de queijo e bolos.

— Como foi a festa ontem? — Mamãe perguntou. — Você bebeu muito?

Seu olhar era duvidoso e até papai parou de mexer as peças para obter minha resposta.

— Estava legal. — Menti. — Não, eu não gosto muito.

Eu havia bebido dois copos ou três no máximo. Não posso considerar que havia bebido muito.

— O que vocês haviam planejado para hoje? — Perguntei curiosa.

— Ah, íamos, quer dizer, vamos naquela loja de bebê da amiga da sua mãe, no shopping. — Papai respondeu levantando-se.

Testou a pia e ela pareceu funcionar normalmente. Mamãe sorriu satisfeita e sentou-se comigo na mesa, assim como papai fez logo após lavar as mãos.

— Austin esteve aqui mais cedo. — Papai contou.

Tossi, sentindo o suco ir diretamente de encontro a minha garganta.

— O Austin? Aqui? Por que? — Perguntei surpresa.

Cada vez que seu nome era dito, meu coração se enchia e pulsava rapidamente.

— Veio procurar a jaqueta dele. — Mamãe respondeu. — Falei que você estava dormindo e que não sabia onde estava a jaqueta.

— Estava na minha cama. — Contei.

Ela riu.

— Eu sei, você dormiu abraçada naquilo a noite toda. — Afirmou. — Mas não queria acordá-la. Mais tarde ele passara aqui buscá-la.

Ela era a mulher mais incrível que existia. Senti vontade de abraçá-la, mas não quis parecer desesperada demais.

Mesmo que estivesse um pouco magoada com a noite passada, o que eu mais queria era vê-lo mais um pouco. Vê-lo em um local mais tranquilo, sem muitas pessoas, podendo senti-lo da forma que realmente é.

Antes do almoço, resolvemos que iríamos aproveitar a ida ao shopping para almoçar por lá. Esse era o primeiro presente do papai destinado a mamãe grávida.

Quando estávamos adentrando o carro, ouvimos uma buzina soar do lado de fora, o que fez papai descer do carro automaticamente. Não dei muita atenção, já que mamãe e eu estávamos entretida com seu celular fazendo pesquisas de móveis para o quarto do bebê.

Dois toques na janela de trás foram o suficiente para me tirar do transe. Logo a porta fora aberta por Austin.

— Austin irá conosco no shopping. — Papai falou, sentando-se no banco do motorista e dando uma rápida piscada para mamãe.

Senti um pouquinho de raiva e ao mesmo tempo amor pelo que estavam aprontando.

— Vim buscar a jaqueta. — Contou ao colocar o cinto de segurança. — E agora seu pai me convidou para almoçar com vocês, espero que não se importe.

— Tudo bem. — Foi a única coisa que disse e recebi um belo olhar significativo de papai pelo retrovisor.

Fiz careta em resposta e ele riu.

— Então Austin, qual seus planos para o ano que vem? — Perguntou mamãe. — Pretende cursar alguma universidade?

— Estou tentando ganhar uma bolsa na universidade de Princeton. — Respondeu animado.

— Eu sugeri essa possibilidade para Amélia, mas ela preferiu Yale. — Contou mamãe decepcionada. — Uma universidade ha três horas daqui.

Minha família e eu conversávamos bastante a respeito de escolhas de universidades. Por algum motivo havia escolhido sair da minha cidade para cursar em outra onde era o meu sonho. E todos nós temos o hábito de segui-los. Assim eu fiz.

Eles choraram um pouco, teimaram, ficaram alguns dias sem conversar comigo por conta disso. Mas quem sabe agora, com um bebê a caminho, eles teriam outra pessoa em casa. Provavelmente não sentiriam muito a minha falta. Meu coração se sente tranquilo pensando assim.

Por mais que meu cérebro me deixe ciente de que eu sou a pessoa dos segredos de mamãe. E que eu sou a menininha do papai, tento me convencer de que preciso deixar certas coisas para trás. Eles me criaram para voar.

— Você não deveria ir para longe. — Austin falou baixo, mas o suficiente para chamar a atenção de nós três dentro do carro.

Mamãe soltou um sorrisinho e papai o encarou pelo retrovisor novamente. Não queria ser do tipo que se prende ou que muda totalmente os planos por alguém, principalmente por um menino.

Eu fazia planos. Eu amava planejar. E com certeza não fazia parte do plano ficar na cidade e deixar meu sonho de lado.

— Não ha conversa quanto a isso. — Falei convicta. — A não ser que eu não passe.

Por mais que papai e mamãe não quisessem que eu fosse embora para outra cidade, eles torciam muito para que eu fosse aceita. Eu estudava para isso. Fazia cursos, aulas extras e era determinada quanto a isso.

As vantagens de não se APAIXONAROnde as histórias ganham vida. Descobre agora