Capítulo 12 - Onde estou?

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Quando estamos em um local que venta, é inevitável não sentirmos um arrepio. Quando a ventania nos alcança e entra em contato com o nosso ponto fraco. Neste caso, meu ponto fraco ía do pescoço até a bochecha. E neste caso, o vento na verdade eram os dedos de Austin.

Ao abrir os olhos, deparei-me com seus olhos castanhos me encarando. Olhei em volta e ainda estávamos em frente à casa barulhenta e estava muito escuro. Mesmo enxergando tudo e lembrando-me de onde estava, meu cérebro não conseguia raciocinar direito, talvez fosse por conta do álcool.

— Nossa, acordei você. — Falou baixo e mentalmente agradeci pelo tom da sua voz. — Desculpe-me.

Talvez eu devesse dizer que me acordar não me deixava nem um pouco chateada, perto do que eu estava ao ser deixada sozinha em uma festa.

Por via das dúvidas preferi me manter em silêncio e olhar para frente.

— Ah, eu sei que vacilei com você hoje. — Afirmou. — Eu só ia ir no banheiro, mas Mark me chamou no meio do caminho e fiquei tão entretido que acabei me esquecendo.

Revirei os olhos e por alguns segundos necessitei segurar as lágrimas. Eu não era nada na vida dele, apenas a menina que o ajudava em química. O que eu queria exatamente? Nós nem nos conhecíamos direito.

— Esqueceu que havia levado a menina sem graça para a festa? Eu disse que não queria vir. — Falei com raiva.

— Não foi a minha intenção. — Falou baixo, como se não fosse para eu escutar.

— A festa do meu pai com certeza estava melhor. — Afirmei com desgosto.

Ouvi o barulho dele engolindo a sua saliva. Como se a minha frase tivesse o afetado.

— Com certeza estava. — Afirmou. — Pelo menos lá a Susan não ficaria atrás de mim o tempo todo.

Ah, ele não sabia que haviam várias coisas que eu gostaria de dizer naquela hora.

— Bom saber que ela não estava apenas atrás de mim. — Reclamei e seus olhos se arregalaram. — Só faltou mijar em mim para marcar território.

Sorri por dentro por deixá-lo curioso.

— O que ela queria? — Perguntou curioso e dessa vez estávamos indo embora daquele local.

— Apenas falar que você não é o meu tipo de cara, que não vale a pena se apaixonar por você. — Respondi como se fosse algo simples para mim.

Austin alterou o volume do rádio, baixando o volume, provavelmente para conseguir me ouvir melhor.

De repente o carro parou no meio da rua e agradeci por estarmos em um local calmo e sem movimento.

— Você está apaixonada por mim? — Perguntou encarando meus olhos.

Aquele era o momento. Talvez o momento ideal para enfim falar o que sentia por ele. Poderia me declarar e mostrar que era muito mais do que apaixonada, mas sabe? Ele havia me esquecido em uma festa.

— Não! Claro que não. — Neguei. — Susan acredita que qualquer menina que se aproxime de você esteja apaixonada.

— Normalmente isso acontece. — Gabou-se me fazendo bufar.

Cruzei os braços e me recusei a olhá-lo. Fizemos o caminho até a minha casa em silêncio, a minha verdadeira vontade era não dar mais aulas a ele. Mas agora, com mamãe grávida meus planos haviam mudado.

Ele nem tinha estacionado o carro direito na frente da minha casa e eu já havia aberto a porta e saído.

Ouvi um barulho forte e ao virar-me dei de cara com Austin atrás de mim. Seu semblante estava sério.

— Ei. — Me puxou pela mão. — Não fica assim comigo, sei que errei e estou pedindo desculpas.

— Está tudo bem. — Menti, soltando nossas mãos. — Só estou com dor de cabeça.

Austin se aproximou um pouco deixando as minhas pernas trêmulas. Respirei fundo para não sair correndo ou beijá-lo.

— Se cuida. — Beijou a minha bochecha deixando-me vermelha.

Era perto da meia noite e todos já haviam ido embora da nossa casa, provavelmente meus pais já estariam dormindo.

Nós não tínhamos ficado muito tempo na festa, nem perto do que eu imaginava que ficaria.

Adentrei a casa utilizando a minha chave, tentei fazer o menor barulho possível. Quase gritei quando um vulto passar na minha frente.

— Entrando de fininho mocinha. — Papai falou e rapidamente olhou pela janela da frente.

— Que susto! — Coloquei a mão sobre o peito.

Papai se aproximou e deu uma fungada perto de mim.

— Bom, você está com o cheiro daquele rapaz. — Concluiu. — E está com a jaqueta dele.

Até então eu não havia percebido que ainda utilizava a jaqueta dele. Senti minhas bochechas corarem. Eu não a estava vestida, apenas com ela sobre meus braços.

— Vá dormi, amanhã iremos sair cedo. — Pediu.

Beijei sua bochecha e subi os degraus da maneira mais tranquila possível.

Ainda sentia um gosto nada agradável em minha boca. Indicando que algumas horas antes havia alguma bebida ali.

Deixei a jaqueta de Austin em minha cama e passei a me despir. A roupa que estava usando agora parecia pesada demais para o meu corpo.

Mamãe costuma dizer que as pessoas não sabem e não estão preparadas para receber um não como resposta. Preciso afirmar que concordo com ela.

Austin poderia ter aceitado o meu não como resposta e eu não teria ficado sozinha em uma festa na qual não queria ter ido. Isso impediria que meu coração estivesse doendo agora por ser "abandonada".

Ao sair do banho, deitei-me ainda de roupão em minha cama. Puxei sua jaqueta até a ponta do nariz e senti o cheiro do seu perfume que ainda estava intacto. Eu com certeza poderia sentir seu cheiro para sempre.

Meu coração era bobo demais. Nós tomamos escolhas erradas baseadas no que sentimentos. Nós temos a chance de evitar que esses sentimentos se alonguem demais para evitar o sofrimento e simplesmente nos metemos de cabeça em algo que não dará certo.

E foi assim que dormi. Abraçada em um pedaço de pano desejando que na verdade um corpo estivesse ali. Desejando que os meus sonhos se tornassem realidade ou que aquele sentimento fosse embora de uma vez por todas.

As vantagens de não se APAIXONARWhere stories live. Discover now