Capítulo 06 - Sonhos

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No caminho até em casa, papai não havia feito muitas perguntas quanto eu imaginei que faria. Perguntou se os pais dele estavam em casa e torceu o nariz quando respondi que não, mas que dona Lena estava lá o tempo todo.

Também perguntou se eu havia conseguido ensinar algum conteúdo de verdade ou se havíamos ficado só aos beijos e infelizmente precisei negar sua curiosidade.

Quem dera eu pudesse afirmar que ele não havia resistido aos meus encantos.

Quando cheguei em casa, mamãe já estava em sua cama, ainda trabalhando como de costume. Como papai iria tomar banho, iria aproveitar aqueles pequenos minutos para conversar com ela.

— Estou atrapalhando? — Perguntei ao dar dois toques na porta.

— Você nunca atrapalha, filha. — Respondeu, batendo no espaço vazio da cama para que eu me sentasse. — Como foi a aula? Austin é um bom aluno?

Sorri com sua pergunta ao entender um duplo sentido no ar.

— Ele é um pouco distraído. — Confessei. — Mas acredito que ele vá melhorar.

— E como é a casa dele? — Perguntou curiosa.

Tentei lembrar dos poucos detalhes que havia visto. Eu havia entrado em apenas três cômodos: a sala, a cozinha e o banheiro.

— A primeira impressão é que é grande. — Contei. — Muito bonita e moderna.

— E ele?

— Ele foi legal. — Dei de ombros fazendo pouco caso. — Não há nada surpreendente para falar.

Mamãe uniu as sobrancelhas e dessa vez deixou o notebook de lado e me encarou.

— Você estava praticamente sozinha com o menino pelo qual é apaixonada e me diz que não tem nada de surpreendente para falar? — Perguntou indignada.

— Ah, eu senti borboletas no estômago algumas vezes. — Contei. — E senti vontade de beijá-lo enquanto ele fazia caretas por estar com dificuldades.

Enquanto isso passei alisar a barriga da mamãe que estava com um sorriso imenso.

Mamãe riu com a minha resposta, dessa vez em aprovação com o que eu havia dito. Infelizmente nossa conversa não pôde se estender, pois papai tinha adentrado o quarto.

— Boa noite para vocês. — Falei, dando um beijo em cada um deles.

Demorei um pouco mais do que o normal no banho. O motivo era precisar de muita água gelada no corpo para acalmar os hormônios que estavam mexendo com o meu psicológico.

Então esse era o sentimento? Estar tão perto assim de quem amamos trás essas sensações?

Me pergunto como seria se estivéssemos namorando. Eu teria que lidar com centenas de garotas correndo atrás dele o tempo todo. Provavelmente deveria estar sempre bem vestida para acompanhar o hábito de sua família.

Quem sabe fosse essa a vida que Susan desejasse. Unir-se com um garoto lindo e herdeiro de um patrimônio enorme poderia chamar a sua atenção. Mas não era amor.

Talvez as pessoas devessem amar mais. Sentir amor é bom.

Olhei para uma das fotos que ficava na cabeceira da minha cama. Era uma imagem que haviam batido no nosso última dia do primeiro ano escolar. Eu e Austin estávamos bem longe um do outro. Enquanto ele estava cercado pelos amigos sorridente. Eu me encontrara com um sorriso forçado bem no canto esquerdo da foto. Uma cabeça estava praticamente na minha frente, ou seja, a imagem estava bastante prejudicada.

Estava andando pela casa de Austin atrás de um banheiro quando fui puxada para dentro de um cômodo. Ele tampou minha boca para que eu não gritasse e me acalmei quando avistei seus olhos castanhos.

Nós estávamos no que me parecia ser seu quarto. Vários pôsteres nas paredes relacionados às bandas e aos seus esportes preferidos.

Austin fechou a porta atrás de mim e me pressionou contra a parede. Quando eu menos esperava seu corpo estava colado no meu e buscou tocar meus lábios com urgência.

Gostava do contato e gostava do gosto da sua boca. Parecia ter mastigado um chiclete de hortelã a poucos minutos.

Olhando para a cama com um pouco de receio, acompanhei ele a passos lentos sem desgrudar nossos lábios nenhum segundo.

Acordei soada, segurando firme o lençol da cama. Precisei analisar todo o meu quarto para me certificar que aquilo havia sido apenas um sono.

O pijama que havia escolhido para dormir estava molhado e colado ao meu corpo, ou seja, fora necessário mais um banho gelado.

Olhei para o relógio assim que me retirei do chuveiro e ainda era três e meia da madrugada. Minha barriga roncou e desci com todo o cuidado até a cozinha.

Havia um último pedaço do bolo de morango que papai havia comprado na padaria há dois dias. Sentei-me no balcão e passei a saborear aquele doce na tentativa de esquecer o sonho.

— O que te faz acordada a essa hora? — Papai perguntou, pegando um garfo na gaveta e saboreando-se do meu pedaço de bolo.

— Insônia. — Menti.

— Quando você era criança costumava mentir melhor. — Criticou.

Tentei esboçar o meu olhar de sinuca, como se não soubesse o que estava acontecendo.

— Por que eu estaria mentindo? — Perguntei me fazendo de vítima.

— Fala a verdade para o seu pai. — Pediu. — Você só troca segredos com sua mãe, me sinto por fora da sua vida.

Senti uma pitada de dor na consciência. Afinal, o que ele estava falando era verdade. Normalmente ficava de fora dos nossos segredos.

Olhei nos seus olhos que agora pareciam tristes, como se implorassem por uma resposta.

— Eu gosto daquele menino. — Confessei. — Mas nós não temos nada e nunca iremos ter. Ele nem ao menos sabe que eu gosto dele.

Papai me olhou confuso, como se aquilo que eu estava contando fosse algo muito difícil de entender.

— Ele quem sai perdendo. — Deu de ombros. — Um dia você encontrará alguém e perceberá que valeu a pena esperar.

Concordei balançando a cabeça.

— Enquanto isso você precisa dormir porque tem aula amanhã cedo mocinha. — Avisou, indicando que eu subisse para o meu quarto.

Com pouco esforço subi os degraus, impedida de acabar com meu bolo que havia sido roubado por papai. Por algum motivo, contar a ele sobre meus sentimentos havia me deixado mais leve. Poder compartilhar segredos com alguém que nos fosse apenas mamãe me deixava feliz.

As vantagens de não se APAIXONAROnde as histórias ganham vida. Descobre agora