Capítulo 21 - Água fria

933 141 12
                                    

DIA 9
"A nona vantagem de não se apaixonar: VOCÊ NÃO IRÁ FICAR MAGOADA CASO ELE HAJA COMO SE NADA TIVESSE ACONTECIDO."

Eu havia acabado de chegar no colégio e para a minha surpresa ainda não havia visto Austin por lugar algum. Apesar de cada passo que eu desse meus olhos o procurasse em meio à multidão de alunos, não o vi.

Ele também não chegou na primeira aula, mas sim no início da segunda. Provavelmente havia chegado atrasado e não haviam liberado sua entrada para não atrapalhar a aula do professor.

Assim que o notei atravessar a porta, com o olhar cansado e bolsas escuras de baixo dos olhos, percebi que aquele dia seria diferente. Ele não me olhou, nem por um milésimo de segundo. Não levantou a cabeça, apenas caminhou apressadamente até a sua cadeira.

Não sabia o que havia acontecido durante aquele período de tempo. O motivo pelo qual parecia exausto como se tivesse acabado de sair de uma guerra.

No decorrer da aula senti a sensação de que alguém estava me olhando e mesmo que às vezes de certo modo arrumasse uma maneira de olhá-lo com os cantos dos olhos, ele desviava seu olhar.

Quando finalmente fomos liberados para o almoço e eu imaginei que ele viesse até a minha mesa escondida no canto do refeitório, isso não aconteceu. Austin sentou na sua mesa cercado de seus amigos e algumas meninas.

Elas pareciam bastantes interessadas em algo que seu amigo dizia ao seu lado, ele por sinal não parecia estar prestado atenção.

Por alguns segundos pensei em me levantar e ir lá saber se tudo estava bem, mas não o fiz. Não queria pressiona-lo. Não queria que pensasse que eu era do tipo pegajosa. Ele me prometeu um encontro e foi isso que me deu.

Eu já estava próxima a porta da sala quando Mark passou a caminhar ao meu lado. De início não disse nada, apenas ficou ali.

— Não sei o que você fez com o meu amigo. — Falou baixo como se fosse um segredo.

— Do que está falando? — Perguntei confusa.

— Ele não está falando com ninguém e a única coisa que sei que vocês saíram ontem. — Contou. — Ou você fodeu com a cabeça dele ou foi muito ruim.

Respirei fundo com a sua explicação e preferi escolher a primeira alternativa que havia me dado. Talvez ele tivesse gostado mais do que o normal e assim como eu não sabia como agir.

Eu torci para que as aulas voassem. Porque assim que tive a oportunidade de atravessar a porta correndo para finalmente ir para a casa, o fiz.

Talvez até mesmo a professora tenha levado um susto pelo meu desespero em ir embora.

Mamãe estava sentada no sofá. Dessa vez não estava escrevendo nenhum livro, assistia alguma coisa sobre maternidade na televisão.

— Eu fiz alguma coisa errada ontem. — Falei alto. — Muito errada.

Ela me olhou espantada, estava tão atenta ao programa que estava passando que nem ao menos havia notado a minha presença em casa.

— Do que está falando? — Perguntou confusa.

— Ontem foi um dia incrível. E eu nem preciso falar da noite mais especial e importante da minha vida. — Falei quase sem fôlego. — Nós nos beijamos duas vezes e mãe, eu sinto que amo ele cem vezes mais.

Mamãe sorriu.

— E hoje ele nem olhou na minha cara. Ele não falou comigo. E eu não faço ideia o que aconteceu. — Expliquei.

— Talvez você tenha impactado demais ontem. — Sugeriu.

Fingi acreditar em seu comentário. Mas eu sabia que havia algo de errado ali.

Papai havia preparado vegetais cozidos, salada verde e macarrão com molho branco para o jantar. Nas últimas semanas ele tentara fazer mais afazeres de casa para ajudar mamãe, agora que seus dias eram consumidos por dois.

A minha frente estava uma generosa jarra de limonada que eu mesma havia preparado, uma das bebidas preferidas da nossa família.

— Como está o menino Austin? — Papai perguntou de repente, fazendo com que a acidez do limão fosse diretamente de encontro a minha garganta.

— Não nos falamos hoje, na verdade. — Contei sem animo.

Papai levantou as sobrancelhas surpreso com a minha resposta e olhou para mamãe com dúvida como se tentasse desvendar algo. A vi dar de ombros como resposta e fazer uma careta.

— Eu perdi alguma coisa? — Insistiu no assunto. — Não foi bom o encontro de vocês?

— Eu achei que tivesse sido ótimo. — Revelei.

Papai resolveu não tocar mais no assunto e eu agradeci mentalmente por isso. Não queria mais conversar sobre ele.

Lavei toda a louça como de costume e dessa vez não obtive ajuda de ninguém para secar ou guardar. Às vezes gostava de realizar essas tarefas sozinhas já que me ajudavam a pensar melhor nas minhas próprias coisas.

Pela noite ter esfriado, resolvi retirar do closet uma das minhas cobertas favoritas de frio. Ela era fortemente coberta de pelos grossos e quentes que iriam me aquecer em alguns segundos.

Estava pronta para dormir, mas alguns pequenos barulhos passaram a acontecer frequentemente em minha janela. Estava curiosa. Poderia ser um animal ou o galho da árvore que estava próxima demais da minha janela.

Ao abrir a janela, deparei-me com Austin pendurado na árvore a minha frente. Ele parecia estar com dificuldades em subi-la.

— O que você pensa que está fazendo aqui? — Perguntei com raiva.

— Eu vim falar com você. — Respondeu ao perceber minha presença ali.

— Você deveria ter falado comigo no colégio, seria mais fácil, não acha? — Perguntei irônica.

Ele teve varias chances de conversar comigo no colégio e em vez disso resolveu me ignorar na frente de todos, principalmente de seus amigos que sabiam que havíamos saído na noite anterior.

— Deixa eu entrar para conversarmos. — Insistiu, estendendo o braço para que eu o ajudasse adentrar meu quarto.

Mesmo sabendo que a minha atitude em recebê-lo naquela hora e ainda mais entrando pela janela do meu quarto era estupida e seria reprovada por meus pais, resolvi ajudá-lo a entrar.

— Por que você agiu daquela forma? — Perguntei confusa. — Você nem ao menos olhou para mim, tem noção do quanto sua atitude foi cruel?

Austin estava nervoso e isso era nítido. Ele passava a mão pelo cabelo a cada segundo e não conseguia me olhar diretamente nos olhos.

— Me desculpa por isso, eu precisa pensar. — Explicou-se.

— Pensar o que? Desde quando alguém precisa agir dessa forma com outra pessoa para pensar? — Perguntei com raiva. — Você deveria ter pelo menos me dado um oi, seria o mais sensato.

Estava a ponto de mandá-lo embora da minha casa, até ele me olhar nos olhos.

Austin caminhou até onde eu estava, chegando a minha frente. Seus olhos dessa vez estavam conectados aos meus.

— Eu não sei o que aconteceu. — Iniciou contando. — Eu não sei exatamente o que estou sentindo. É meio louco porque até então eu ficava com varias meninas e então, naquele dia, quando saímos pareceu tão louco e tão único que não sei explicar.

— Chegue direto ao ponto, por favor. — Pedi.

Suas mãos tocaram as minhas, segurando-as.

As vantagens de não se APAIXONARDonde viven las historias. Descúbrelo ahora