Capítulo 15 - Olhares

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DIA 7

"A sétima vantagem de não se apaixonar: VOCÊ NÃO IRÁ FICAR SEM GRAÇA A CADA OLHAR DELE."

Gosto da maneira como existe a possibilidade de conversar com o olhar. Sobre não ser necessário dizer palavra alguma quando se quer dizer algo. Temos o hábito de gastar palavras, de dizer muito quando na verdade o silêncio seria a melhor escolha.

Para o amor muitas vezes não temos muitas escolhas. Muitas vezes é apenas algo que enxergamos mesmo que de longe, mesmo que sem um contato mais tocante.

É como olhar para o Austin e cada vez ter a certeza de que eu o amei a cada instante. Nós não éramos conhecidos; não havia contato; não havia afeto; não havia nada de tão extraordinário em sua existência, era apenas ele.

Eu não precisei dizer ao Austin. Não precisei explicar meus sentimentos, mas ele sabia e eu soube disso no momento em que adentrou a sala de aula naquela manhã. Ele estava com uma bermuda jeans e o uniforme, fones no ouvido e ao mesmo tempo tentando prestar a atenção no que John e Mark diziam ao seu lado.

Era inevitável não olhá-lo. Era quase impossível, mesmo que eu tentasse.

Austin mudou o trajeto que normalmente seguia. Em vez de trilhar seu caminho até o final do corredor e sentar-se no fundo. Levantou a cabeça e imediatamente nossos olhos se encontraram. Ele sorriu e deixou as pequenas covinhas amostras.

Devolvi o sorriso na mesma intensidade.

— Podemos adiantar a matéria para hoje? — Perguntou, referindo-se a química.

— Acho que sim, mas hoje meu pai não consegue me levar. — Respondi, lembrando-me que na segunda-feira papai ficava até mais tarde no trabalho.

Ele pareceu pensar um pouco ao meu lado.

— Então, você pode ir comigo quando acabar a aula. — Sugeriu. — Podemos almoçar juntos, olha que romântico. — Brincou.

Revirei os olhos com seu comentário e concordei com a proposta.

"Mãe, tudo bem se eu for adiantar a matéria de quarta-feira após a aula com Austin?"

Amélia

"Lembre-se de se prevenir caso alguma coisa saía dos seus planos."

Mãe

Me recusei a responder a sua mensagem.

Ouvi um barulho de tosse forçada e percebi a professora de História.

Ela dizia algo sobre após a independência do Estados Unidos, em 1850 o país já era considerado uma grande potência regional, considerando também a sua economia e forças militares. Vale levar em consideração que naquela época mesmo milhares de imigrantes já adentravam o país anualmente. Ou seja, o nível de diferenças tanto políticas, quanto sociais e econômicas entre o Norte e Sul do país.

Gostava da matéria de História, afinal, caso eu quisesse fazer meu curso de Literatura Inglesa, teria que passar por tudo isso novamente. Neste curso focavam bastante dentro da nossa língua e país.

Uma das histórias que eu mais gostava era a respeito da Guerra Civil Americana que havia sido a guerra que mais havia causado a morte de americanos. Segundos dados mostrados pela professora, cerca de até 700 mil pessoas haviam morrido. Era estranho acreditar que havia uma guerra em um mesmo território.

Eu mal piscava enquanto a professora lia aqueles textos e mostrava slides de mapas bem desenhados.

— Em que ano houve a guerra entre as tropas americanas e os indígenas? — Perguntou ela.

Esperei alguns segundos para que outra pessoa respondesse, mas como não houveram respostas e a professora já olhava diretamente para mim, como se pedisse socorro para que aquela pergunta não morresse.

— A guerra aconteceu em 1876 porque queriam colonizar as terras. E então os indígenas perderam e tudo isso estimou a expansão populacional ao oeste e com isso conseguiram expandir a agropecuária. — Respondi satisfeita e ouvi uma salva de palmas para mim.

— Obrigada senhorita Lawrence. — Agradeceu sorridente.

O que eu mais gostava era de imaginar os romances daquela época. É claro que era muito triste que pessoas tenham morrido, que famílias tenham sido separadas e que tudo tenha se transformado.

Mas e quantas histórias de amor tiveram uma pausa ou fim? Quantos amores deixaram de existir? Imaginou que a espera de volta para casa tenha sido incessante e dolorosa.

Quando Austin abriu a porta do seu carro para que eu pudesse adentrá-lo, estranhei seu ato de cavalheiro, principalmente porque seus melhores amigos estavam bem em frente ao portão e seus semblantes demonstravam confusão.

— Austin, está me surpreendendo a cada dia que passa. — Comentei trocando a estação do rádio de seu carro.

— Ah, vai dizer que você acha que eu sou apenas um cafajeste? Eu tenho meus momentos. — Afirmou orgulhoso de si.

Gostaria mais de seus momentos assim.

Quando esperamos, curiosamente sua funcionária já se encontrava com o almoço todo na mesa. Analisei o fato de ter cinco pratos nela e isso me fez entrar em pânico.

Outras pessoas iriam almoçar conosco. A primeira vez que iria conhecer seus pais.

— Meus pais irão nos acompanhar no almoço. — Avisou e eu assenti.

Lavamos as mãos e quando retornamos, seus pais estavam sentados à mesa. Fora um baque olhá-los daquela maneira tão despojada como estavam.

Não havia o brilho intenso de roupas formais e caras como todos costumava comentar na escola. Como Susan cobiçava tanto.

Savanah, sua mãe, estava usando um vestidinho solto, provavelmente escolhido pelo dia quente que havia amanhecido. Havia uma tiara laranja em seu cabelo, deixando os fios para trás.

Seu pai, que agora segurava um jornal, o senhor Dilan, encontrava-se com uma camiseta branca que parecia ter encontrado no guarda-roupa de Austin e uma bermuda jeans.

Assim que me avistaram, sorriram felizes.

— Olá senhorita Lawrence, seja bem vinda em nossa casa. — Savanah era muito simpática e educada, levantou-se da mesa para me cumprimentar.

O senhor ao seu lado fez o mesmo, apertou a minha mão e ao mesmo tempo beijou a minha bochecha.

— É um prazer conhecê-la. — Dilan afirmou. — Ontem quando Austin nos avisou que viria almoçar conosco, até desmarcamos alguns compromissos.

Olhei intrigada para Austin ao meu lado, que fingia não ter escutado nada.

— Muito obrigada, não era necessário que desmarcassem por minha causa. — Agradeci.

— Acha mesmo que eu perderia esse momento? — O pai dele perguntou como se fosse óbvio. — É a primeira vez que Austin resolve trazer uma menina.

Meu coração se encheu de amor e tentei não sorrir como uma idiota.

A comida estava maravilhosa. Fiquei maravilhada com cada prato preparado por Lena e por ela ter sentado à mesa conosco. Imaginava ser o tipo de lugar que os funcionários comem escondidos e sozinhos na cozinha.

Meu coração estava encontrando um repouso nunca imaginado em relação aquela casa.

As vantagens de não se APAIXONAROnde as histórias ganham vida. Descobre agora