Capítulo 31 - Frio na barriga

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Demanda tempo até que o nosso coração se acostume com a distância de alguém que gostaríamos que estivesse presente a todo momento. É difícil, doloroso e uma parte de nós não está apta a aceitar que o melhor no momento de fato é a distância.

Em partes temos que concordar que a distância apesar de ruim, ajuda a nos acostumarmos com outra rotina, mesmo que não seja um desejo nosso aceitá-la em nossas vidas.

É estranho como nada parece fazer sentido. Talvez seja a forma como você escolhe lidar com seus problemas ou a forma como você deseja não se desfazer deles.

Austin era o meu problema. Um problema que eu não queria deixar ir embora.

Eu não havia ido para a escola. Minha melhor opção fora permanecer ao lado de mamãe naquela manhã em que ela enfrentava fortes dores nas costas. Como uma boa filha havia decidido que caso ela precisasse de mim, eu estaria ali.

Por outro lado, necessito confessar que uma parte de mim — uma grande parte inclusive — acordou com o coração cheio de saudade. Como se eu houvesse passado a noite toda pensando em Austin. O que mais havia ficado em minha mente era o nosso encontro no parque de diversão.

Naquele dia posso afirmar que nada saiu errado. O dia fora perfeito e eu poderia repetí-lo inúmeras vezes sem me cansar.

O urso que havia me dado como recompensa de ter acertado a prova encontrava-se jogado em minha cama e passava por poucas e boas nas minhas noites de saudade.

Gostava da ideia de ter conseguido ficar com um pedacinho dele para mim. Há duas semanas atrás eu nem me imaginaria ter tido algo com a minha grande paixão do ensino médio, e agora eu teria pelo menos uma história para contar.

DIA 14

"A décima quarta vantagem de não se apaixonar: VOCÊ NÃO SE SENTIRÁ MAL CASO SINTA VONTADE DE SE ENVOLVER COM UM OUTRO ALGUÉM."

No dia anterior após a saída de Kevin, passamos praticamente a tarde inteira conversando sobre ele ser um bom menino. Não que mamãe não gostasse do Austin, mas facilmente poderia ser percebido quem de fato a encantou.

Ela sabia de quem era meu coração. Sabia das minhas noites mal dormidas e sabia de todo o meu amor de três anos longos.

— Não acha que deveria tentar algo com Kevin? — Mamãe perguntou do nada enquanto digitava mais um capítulo de seu livro.

— Mãe! — Chamei sua atenção. — Eu não estou desesperada para ficar com alguém e além do mais em alguns meses estarei indo embora da cidade, não teria porque me envolver com alguém daqui.

Mamãe deu de ombros como se ignorasse minha resposta e a vi claramente revirar os olhos.

— Eu só quero dizer que gostei muito dele, independente da sua decisão. — Comentou com um sorrisinho debochado.

Sorri junto com seu comentário e bati com a almofada em seu braço.

— Viu bebê como a mana trata a mamãe? — Sua voz era engraçada e continha um tom chantagista.

— Você não pode fazer isso. — Falei brincando. — Que coisa mais feia.

— Uma grávida pode fazer o que ela quiser. — Sua voz e frase pareciam de uma adolescente.

— Vou lembrar disso caso um dia fique grávida. — Brinquei.

Nós continuamos rindo e brincando até ouvirmos um barulho alto de música vindo do lado de fora. Apesar de saber que todos tinham direito de ouvir música, principalmente por ainda ser um horário adequado para tal, fomos espiar pela janela quem estava fazendo festa.

Austin estava parado a algumas casas da casa a frente da minha. Seu carro estava ligado com o porta malas aberto e alguns meninos estavam em volta. Eles bebiam algo em copos plásticos vermelhos e riam atoa.

Engoli em seco ao vê-lo. O motivo principal de não ter ido à escola era para não vê-lo e ele estava bem ali, a alguns passos de mim.

Apesar de estar de lado para a nossa direção, Austin não precisaria fazer muito esforço para nos olhar, mas ele não olhou, nem por um segundo sequer.

Estávamos a mais ou menos uns vinte minutos sentadas no sofá escutando mais a música que tocava do lado de fora do que a televisão dentro de casa, quando o barulho de alguém batendo em nossa porta nos despertou. Nós duas nos entreolhamos e no fim eu quem levantei para ver quem estava do outro lado.

Para a minha surpresa Cate estava ali, com um vestido florido curto que deixavam suas belas pernas amostras. O vestido a deixava ainda mais bonita, apesar de não sermos acostumados a vê-la com algo que não sejam roupas escuras.

— O que aconteceu com você? — Cate perguntou segurando meu rosto procurando por qualquer machucado.

— Nada. — Respondi. — Apenas não fui para a escola hoje.

De preocupada sua fisionomia alterou-se para raivosa.

— Como ousa me deixar sozinha sem motivos? — Perguntou com raiva andando irritada até a sala.

Caminhando atrás dela pude escutar mamãe falar algo como "ela não tem culpa, eu não estava me sentindo muito bem".

Cate e mamãe engataram uma conversa sobre o relacionamento dela com o rapaz da faculdade. Mamãe fazia caras e bocas impressionada com suas histórias, o que me pareceu causar ainda mais inspiração para o livro que estava escrevendo.

— Eu deveria escrever uma história apenas sobre vocês dois, parece-me perfeito. — Comentou maravilhada.

Seus olhos chegavam a brilhar com cada detalhe contado por minha mais nova amiga, e eu, ah, só fiquei ali desejando que em breve eu pudesse sentir algo que fosse perto do amor que eles viviam.

As vantagens de não se APAIXONARTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon