8. Penitência

639 78 67
                                    


"Sexo verbal, não faz meu estilo

Palavras são erros, e os erros são seus

Não quero lembrar, que eu erro também

Um dia pretendo, tentar descobrir

Porque é mais forte, quem sabe mentir

Não quero lembrar, que eu minto também

Eu Sei, Eu Sei.

Fecha a porta, do seu quarto

Porque se toca o telefone, pode ser alguém

Com quem você quer falar, por hora e horas e horas"

     Eu sei - Pato Fu (Original Legião Urbana)


8.

Estava na lanchonete do Seu Aníbal comendo uma coxinha quando senti mãos taparem meus olhos. E mesmo naquele ambiente impregnado pelo cheiro de fritura, pude distinguir o perfume amendoado de Danielle. Ainda não era o horário de intervalo, mas ouvia a algazarra de estudantes saindo.

— Danielle! — Falei retirando as mãos dela dos meus olhos.

— Bom dia gato! — Ela abriu um sorriso radiante sentando-se a minha frente.

— Bom dia... — Falei meio desanimado.

— O que houve?

— Meu pai estava em casa ontem... — Cocei a cabeça olhando para o chão.

— Como assim Dani? Quando? — Os olhos dela arregalaram.

— Eah... Enquanto a gente...

— Para! Ai que vergonha Dani! E o que ele viu?

Tentei acalmar minha namorada descrevendo como foi a abordagem do meu pai. Na verdade, Seu Dário não reclamou tanto de eu ter levado ela lá ou de ter quase transado na sala. Pelo tom do sermão, que as vezes demonstrava empolgação, creio que tenha achado até bom constatar que tinha um filho com vida sexual. Ele me repreendeu mais pela irresponsabilidade de ter quase feito sexo sem preservativo. Além de estar praticamente bêbado, o que provavelmente, se deu mais pelo efeito da cápsula verde e amarela que tomei antes do que pelo álcool em si.

Eu preferi não discutir com meu pai, quando notei que nem seria capaz de argumentar qualquer coisa. Inclusive desisti de ir para casa de Élio, que me ligou depois. Tomei um banho e fui para a cama.

De manhã o sermão continuou, e ao notar que eu pouco estava ligando para o que ele dizia, então meu pai me sentenciou ao castigo de estar todas as tardes e noites da semana em casa. Sem álcool! Ele ligaria para casa e se eu não atendesse, aumentaria o período da penitência.

Para completar, disse que precisávamos conversar sobre sexo, relacionamento e essas coisas de homem, como ele mesmo fez questão de enfatizar, como se mulher não tivesse ou precisasse desse tipo de conversa. Afinal, será que ele tinha conversado sobre sexo com alguma das minhas irmãs que eram mais velhas ou deixou a tarefa com minha mãe? Fazia mais sentido afinal, a mãe conversar com as meninas e o pai com os meninos...? Ou os dois deveriam conversar juntos?

E no armário do meu banheiro apareceram vários preservativos, como se a fada do dente as tivesse deixado ali... Não sabia quando a tal conversa aconteceria, mas eu não estava nem empolgado, nem desconfortável com o prazo. Estava mais incomodado com o castigo do que com o que mais viesse, afinal, não poderia aparecer no Arcade durante toda a semana!

ARCADEOnde histórias criam vida. Descubra agora