16. Aquelas Brincadeiras

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"Oh, what a pleasure it's being crashed by the

Power of thinking

The scents in the air can smell the events

But there's no way to touch anything now

I am fascinated by the smoke from this candle.

Cure me, you know I would die for it,

I would die for it. I would die for it.

Cure me, you know I would die for it,

I would die for it. I would die for it."

     Cure me - Elisa


16. 

Nos dias seguintes fiquei pensando na declaração de Phil sobre nossa amizade. Imaginei diversas besteiras, inclusive a mãe dele se casando com meu pai e nós sendo irmãos... Claro que a partir daí minha imaginação fantasiosa adolescente também sugeriu ideias de mim dormindo abraçado com meu "irmão", abraçando, fazendo carinhos, tomando banho juntos, e coisas que eu supunha que irmãos compartilhavam.

Eu estava me tornando cada vez mais dependente da amizade de Phil, e percebera isso em cada vez que não podia encontrá-lo. Então, a solução que me parecia equilibrar tal falta era beber até adormecer. Geralmente fazia isso no meu quarto e cedo da tarde para não ser pego pelo meu pai.

Considerava que o álcool, assim como os comprimidos, ou a mistura dos dois me davam um tipo de alívio mais sensato do que outras formas de silenciar a dor. Aquela dor que sempre voltava quando eu não entendia o que eu deveria sentir, a dor que me colocava na fronteira entre a razão e a loucura.

Estar longe da escola, daquelas pessoas não era ruim em si, eu já não sentia falta de Danielle nem da algazarra escolar, contudo ter aqueles contatos me faziam pensar menos em mim mesmo. Me obrigar a estar em contato social também me forçava a interagir com outras pessoas e planejar reações sociais.

No final das contas, o Arcade continuava sendo o refúgio ideal para inebriar meus pensamentos e ainda ter algum contato com caras da minha idade. Os assuntos geralmente abordavam novos jogos, álcool, e sacanagem. Eu nunca estava muito por dentro nem muito por fora do que os caras conversavam.

Nunca fui muito curioso nem muito alheio aos papos escusos que rolavam no Arcade, mas certo dia um tema despertou minha atenção...

Uns rapazes um pouco mais velhos, que eu não tinha muito contato comentaram de terem "brincado" uns com os outros. Não entendi tão logo do que se tratava, mas depois captei que falavam de intimidades, rodas de masturbação, vendo revistas e que as brincadeiras evoluíram para pegações e troca-troca, como mencionaram.

Eles conversavam tranquilamente como se ninguém mais pudesse ouvir ou julgar o que estavam falando, talvez quisessem mesmo ser ouvidos dentro de todo o espaço. Geralmente assuntos de sacanagem ficavam ali mesmo, mas, não entendi se aquelas práticas estavam rolando dentro ou fora do Arcade. Eu ouvia tudo dividindo minha concentração entre Samurai Shodown e o papo deles.

Até que escutei um deles comentar que queria pegar um garoto novo para entrar na brincadeira. Falaram o nome de Halley! Eu não entendi se o convidariam ou se o enganariam para conseguir algo. Quando Nero passou pelo corredor, um deles gritou:

— Não é não Nero? Deu mole, a gente pega mesmo! — E todos gargalharam.

Nero não respondeu, mas também gargalhou. Olhei para trás e um deles me encarou desconfiado como se aquela mensagem fosse para mim.

ARCADEWhere stories live. Discover now