49. Dores

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"You look into my eyes

And I get emotional inside

I know it's crazy but

You still can touch my heart


And after all this time

You'd think that I

I wouldn't feel the same

But time melts into nothing

And nothing's changed


I still believe

Someday you and me

Will find ourselves in love again

I had a dream

Someday you and me

Will find ourselves in love again


Each day of my life

I'm filled with all the joy I could find

You know that I

I'm not the desperate type


If there's one spark of hope

Left in my grasp

I'll be holding it with both hands

It's worth the risk of burning

To have a second chance"

     I Still Believe – Mariah Carey


49.

Assim que chegamos a casa de Phil ele serviu doses de caipiroska que bebemos em poucos instantes sem conversar nada. A constante vontade de me desculpar me fazia ter raiva dos meus próprios pensamentos. Não queria que o significado do perdão se perdesse na repetição. Fui sincero quando me desculpei e queria repetir aquilo, aquele ato, várias e várias vezes.

Apesar do breve sabor da reconquista, considerava o quão frágil era o nosso relacionamento, ou seja, lá o que estávamos construindo. Me dava medo e um aperto no peito.

Ele preparou um cigarro de maconha e me puxou pela mão para o quintal. Como era gostoso observar aquela ginga no modo dele andar! Percebi que iríamos para cima da casinha da mangueira. Eu estava nervoso, pois imaginei que dali continuaríamos exatamente do ponto que nos fez distanciar. Conversaríamos sobre os assuntos delicados que ocultávamos. Sentia a apreensão no ar, tanto pelo que tentaria dizer sobre mim, quanto pelo que estava prestes a ouvir.

— Vem pra cá, senta aqui. — Phil chamou para que eu me acomodasse entre suas pernas de costas para ele.

Por um momento estranhei o pedido e pensei em rejeitar por achar confortável demais. A intimidade parecia uma coisa muito delicada para mim, enquanto Phil me tratava do mesmo jeito que sempre. Até pouco tempo mal nos falávamos e ele já me volta com chaves de casa e querendo ficar agarrado?

Eu sentei entre suas pernas e ficamos algum tempo em silêncio compartilhando o calor emitido por nossos corpos, como se esperássemos que nossas curvas tomassem a forma mais cômoda no corpo do outro.

Eu sabia que Phil estava nervoso pelo que falaria, eu estava, como se eu o tivesse conduzido àquele momento. Quando meu amigo demonstrava movimentos mecânicos parecendo um personagem de Atari, era sinal da vergonha e inadequação a situação. Ao mesmo tempo que achava fofo, ficava um tanto aflito.

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