Chapter IV

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Dias atuais

Catarina bissexual, não imaginava na moralzinha, mas depois de falarmos sobre o assunto nos sentimos mais próximas do que nunca, amo essa mulher.

Sinto meu celular tocando, porra, ninguém tem o que fazer hoje não? É sábado porra. Olho pra tela do celular e atendo.

— O que é porra? Acabamos de nos falar e tu me liga de novo pra encher o saco! — a escuto bufar do outro lado.

— Eu não ligaria se não precisasse — me levanto rápido quando escuto seu tom aflito, porra, o que será que aconteceu? — sei que disse que dessa peça não participaria mas eu preciso que venha me ajudar a organizar a trilha sonora. O cara do som simplesmente perdeu todo o plano de fundo e agora eu não sei o que fazer.

Catarina trabalhava num teatro e pela primeira vez ela conseguiu a oportunidade de dirigir (na verdade o antigo diretor saiu fora depois de considerar o roteiro "fraco demais"). Eu atuava com ela as vezes pra levantar uma grana pros roles já que eu não tinha um emprego fixo — as vezes ajudo meus pais na parte administrativa da loja, mas não é um trabalho de verdade já que eles me pagam o que bem querem —, mas dessa vez eu não me sentia bem o bastante pra estar lá.

— To indo aí, mas não me peça pra atuar de novo, não tô bem.

— Tudo bem, só vem, eu preciso muito de você — sorrio fraco — tchau meu anjo.

— Tchau querida.

Me levanto e coloco uma roupa qualquer pra ir, vou até o ponto e pego o ônibus que passa no centro. O centro. Quando penso em lá só consigo lembrar das vezes que busquei a Júlia na escola, ou quando matavamos aula juntas... Bons tempos.

Tenho que esquecer dessa história logo, não tem como continuar me afundando desse jeito. Larguei o teatro por estar parando com a bebida, sim, bebia pra esquecer de tudo e não lembro da metade desses três anos... Só queria esquecer que perdi o amor da minha vida.

Com esses devaneios quase perco o ponto, desço correndo e quando chego no teatro vejo a Bruna, faz tempo que não a vejo.

— Cams!!! — me abraça com força — você tá péssima!

— Obrigada pela parte que me toca — rimos — como cê tá?

— Péssima, ótima, sei lá... Terminei com o Pedro — revira os olhos.

— De novo? — começamos a caminhar — já já vocês voltam, ficam nesse vai e volta desde os 16 anos.

— Você me conhece né, meu mapa tem muito signo de ar — a olho e começo a rir

— Entendi pô, mas todo esse ar não te impede de amar ele — ela me olha entendendo o deboche.

— Só não te ataco porque ainda torço pra você parar de orgulho e mandar mensagem pra ela — paramos no meio das cadeiras do teatro — tenta falar com ela, eu não te quero mal desse jeito, poxa, essa lua em leão só te afunda nesse orgulho.

— Okay, não gosto desse assunto então é melhor pararmos.

Vejo a Catarina e logo me sento do lado dela que estava visivelmente acabada, estava com olheiras e muito preocupada, mas fazer o quê? Um sonho é um sonho né amores?

— Ótimo, aqui está o pen drive, faça de tudo pra achar as músicas que você já tinha ajudado a selecionar, eu não sei o que aconteceu mas estamos tão perto da estreia que eu não posso focar nisso agora.

— De boa, só vai comer alguma coisa, tá parecendo um zumbi — ela me dá um tapa no braço e eu começo a rir.

Okay, ela tá tão cansada que não percebeu que no notebook já tinha uma pasta com as músicas, essa peça vai acabar com ela. Não vou deixar ela mais louca do que já está, ficarei aqui fingindo estar procurando quando na verdade estarei no Facebook stalkeando a excelentíssima.

Continua linda pra caralho viu, que Deus abençoe mas parece que já abençoou.

— Para de babar e manda mensagem logo —  tomo um susto e olho o sorriso divertido da Bruna que se senta ao meu lado.

— Porra bicho, precisava me matar do coração?

— Só manda a mensagem, você sabe que quer falar com ela — coloca a mão encima da minha.

— Eu quero muito — a vejo ficar otimista — mas não vou, ela foi embora e é melhor assim.

— Você é muito teimosa, credo — paramos de falar assim que avistamos a Catarina se aproximar.

Catarina era muito passiva-agressiva quando o assunto era a Júlia porque ao mesmo tempo que ela torcia que eu a superasse, ela torcia que voltássemos e assim acabava odiando toda garota com que eu me relacionava. Pelo visto não é só eu que as comparo com a Júlia.

— Você conseguiu ou tá conversando com ela?

— Mas cê tá brava? — a vejo cerrar os olhos — já consegui sim e de nada.

— Obrigada, você é incrível — me abraçou forte — falando em você ser incrível, por que diabos a Patrícia está louca do cu dela? Me diz, por favor, que você terminou com esse lixo humano que você chamava de namorada.

— Vamos começar pela parte de que eu nunca chamei ou disse que ela era minha namorada, mas sim, terminei o que quer que tínhamos — a vejo sorrir animada.

— Você vai me contar tudo mas lá no bar, eu quero esquecer um pouco a tensão do teatro — ela fecha o seu notebook e o coloca dentro da bolsa — Vamos manas?

— Claro — falamos juntas.

Caminhamos falando sobre qualquer coisa até chegarmos ao bar que tinha lá perto, pedimos pra trazerem três long neck pra bebermos enquanto conversávamos.

— Mas por que vocês terminaram? Achava a Patrícia tão bonita — Bruna disse bebendo sua cerveja.

— Bonita ela era, mas você esqueceu que ela era louca? — Catarina disse nos fazendo rir.

— Sim, mas tipo, você conhecia ela e deveria ter visto isso desde o início né Cams? — me encarou esperando respostas.

Nenhuma garota nunca me conheceu como a Júlia, acho que caí no clichê da sapatão que não supera a ex, mas também né, com uma ex maravilhosa dessas quem supera?

— Oi? — Catarina diz estalando os dedos na frente do meu rosto — não vai responder?

— Foi mal, viajei — sorrio sem graça.

— Pensando na linda de novo? — olho pra Catarina tentando parecer indiferente.

— Coração, esquece a Júlia — digo.

— Como se você esquecesse né? — Bruna diz debochada.

— Esquece o Pedro que eu esqueço a Júlia — dou um sorriso falso e ela revira os olhos.

— As duas parem agora, que inferno — Catarina bufa — por que você terminou com o Pedro dessa vez?

— Ele quer me prender — olhamos pra ela surpresas — não em cárcere, ele quer me dar uma aliança.

— Vai se foder Bruna, liga pra ele e tenta conversar sobre isso, vocês terminam por tudo — a Bruna revira os olhos e a Catarina aponta pra mim – e você linda, vai mandar mensagem A-G-O-R-A pra Júlia.

— O que? Cê tá louca? — a vejo pegar meu celular e colocar a senha já que ela sabia.

— Eu te amo flor, mas já encheu a porra do saco esse seu Mimimi de encher o cu de cachaça ou então ficar chorando pelos cantos. Manda essa mensagem agora — ela me entrega o celular.

Quando vejo a foto de perfil dela meu coração para. Não posso fazer isso, não vou conseguir, ela já me superou e deve ter alguém na vida dela e eu só farei papel de ótaria.

— Eu sei que você tem medo mas estamos aqui — a Bruna diz puxando a cadeira pro meu lado e me abraçando — vai gatona, você significou tanto pra ela quanto ela significa pra você.

Okay, elas não vão me deixar em paz enquanto eu não fizer isso.

The One That Got AwayWo Geschichten leben. Entdecke jetzt