Chapter VIII

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Dias atuais

Acordo no sofá do teatro, que merda estou fazendo aqui? Me levanto e vou até o backstage para usar o banheiro. Quando saio dou de cara com a Patrícia que, por acaso, era a figurinista mas não nos falamos apenas seguimos nossos caminhos.

Sentada no banco do teatro com uma puta ressaca começo a procurar nos meus bolsos minhas coisas e felizmente lá estava meu celular, meu RG e dinheiro, sorrio de lado pela vitória de não ter pedido nada além da minha dignidade — que já não valia mais nada — no role. Sinto meu celular vibrar e meu coração acelera, porra, como esqueci da mensagem que recebi da Júlia? Espera, mas que porra eu respondi enquanto estava bêbada?

Respiro fundo tentando não sair no soco comigo mesma até porquê eu tenho certeza que mandei merda. Desbloqueio a tela e a vejo nas minhas notificações, cara, a quanto tempo não vejo isso...

Camille Vieira:

Parece que mesmo depois de anos não conseguimos tirar uma a outra da cabeça, não é mesmo?
00:38

Júlia Sales:

Tiramos o bastante pra não nos falarmos por anos, não é mesmo?  Rs
11:58

Júlia Sales:

Aliás, você não respondeu se está ou não bem. Deve estar péssima e bêbada pra me mandar mensagem.
11:59

Rio lendo sua resposta irônica. Ah Júlia, até parece que você tem moral pra falar sobre nosso afastamento.

Camille Vieira:

Fui obrigada a tirar da minha cabeça, meu amor. Tô bem péssima e bêbada como sempre, mas tô muito bem.
12:01

Já que é pra jogar merda no ventilador vamos jogar tudo de uma vez só. Guardo o celular no bolso e me encosto na poltrona fechando os olhos pra voltar a dormir. Mesmo estando ansiosa pra contar pra Catarina tudo o que aconteceu e pedir conselhos tento me acalmar. Espera, cadê a Catarina?!!

Pego meu celular e vejo se me mandou mensagem mas não tinha nada, ligo e ela não me atende. Porra Catarina, se for um teste pra cardíaco eu te mato. Tento ligar de novo e ela atende:

— Aonde você está? Você tá bem? — pergunto preocupada.

— Tô na padaria perto do teatro comprando almoço, por quê?

— Porque eu acordei nessa merda de teatro sem lembrar de ontem e com uma puta ressaca — a escuto suspirar — compra algo pra mim e volta logo.

Desligo a ligação sem me despedir, ela poderia ter me acordado pelo menos, sei lá, dado um jeito de avisar onde estava porque do jeito que o mundo está nós mulheres temos que nos unir e cuidar uma das outras. Sororidade o nome.

Deito novamente pra tentar dormir mas como hoje o universo está se movendo contra mim os atores estão chegando e fazendo muito barulho, o que piora cada vez mais minha dor de cabeça. Devia ter pedido pra Catarina comprar um remédio pra dor de cabeça, se arrependimento matasse eu já estaria abaixo de 7 palmos de terra faz muito tempo.

Pego o celular pra matar o tempo procurando no Google formas de acabar com a ressaca rapidamente, até que escuto a voz da Catarina cumprimentando as pessoas. Me sento e a vejo se aproximar, ela senta ao meu lado e me entrega a sacola mas quando ouso pegar a marmita que está dentro dela a Catarina diz :

— Nem pense em abrir isso, não se come dentro do teatro — me lança um olhar ameaçador.

— Não vem com essa marra toda depois de ter me deixado preocupada, por que não me mandou mensagem sua filha da puta? — digo abrindo a marmita e dando a primeira garfada.

— Você não respeita nada que eu digo né? — me olha brava — eu não te liguei e nem mandei mensagem porque eu sabia muito bem onde você estava, eu também dormi aqui só que acordei cedo e fui pra casa, coisa que você deveria fazer já que ajuda seus pais na loja.

Eu odeio quando ela tenta ser a mãe do grupo porque ela sempre está 100% certa. A loja não é o trabalho dos sonhos, tanto é que eu sou uma péssima funcionária, uso ela mais como uma fonte de renda já que o teatro me dá um total de 0 reais. Meus pais são uns anjos e eu não tenho o que reclamar, eles me apoiam sobre seguir o teatro e por isso não reclamam que eu faço meu próprio horário; contanto que eu faça o balanceamento e o mapa de lucros e perdas da loja coisa na qual eu tenho que fazer logo. Eles também não me julgaram quando eu falhei totalmente em passar na faculdade, eles sabem que Psicologia é muito disputado e vivem insistindo em pagar curso preparatório pra mim, mas eu sinto que é algo que eu mesma devo pagar, sabe?

Eu admiro muito a Catarina e sua dedicação para com o teatro; ela chegou nesse posto de direção sem cursar nenhuma faculdade, está ali por puro talento e dedicação, coisas que eu realmente admiro nela. Em todas as peças ela está lá presente, seja como assistente de direção ou de palco, como atriz ou como roteirista, ela sempre está lá dando o seu melhor e divulgando as peças o que é muito difícil hoje em dia já que ninguém se interessa mais por teatro. Ela é maravilhosa e eu não poderia me orgulhar menos dela.

Me perco nesses pensamentos enquanto como mas acordo quando sinto a Catarina me cutucar, a olho puta porque ela sabe bem que eu odeio que me cutuquem, vejo que está paralisada olhando pro palco e então eu me viro e vejo algo que me deixou pasma: o Carlos estava beijando a Patrícia. Ela quebra o silêncio dizendo:

— Eu não creio que o safado do Carlos teve a coragem de trair nossa amizade de tal forma — a olho confusa — você não vai dizer nada?

— Não, se ele tá bem com ela espero que seja feliz — dou de ombros e ela me olha indignada.

— Camille, o seu amigo de infância está beijando sua ex e você me diz como se fosse nada demais? Amigos não ficam com os exs dos outros amigos — cruza os braços.

— Olha, só iria me incomodar se eu tivesse sentido qualquer coisa por ela e outra — faço uma pausa levantando meu dedo indicador — ela não é minha ex, foi só um pente-rala.

Começamos a rir e falar mal das pessoas que não gostávamos do teatro até termos que começar a trabalhar. Pego meu celular só pra checar que eu tinha sido otaria de ter mandado mensagem e ela não me responder e vejo que minha bateria tinha acabado, tenho que ir pra casa urgentemente. Chamo a Catarina pra me despedir:

— Tenho que ir pra casa tomar um banho e por o celular pra carregar, se precisar de ajuda é só ligar tá? — dou um beijo em sua bochecha.

— Falando em celular... — puta que pariu, por que eu fui lembrar ela? — o que você falou com a Júlia?

— Não lembro — minto — devo ter falado merda enquanto estava bêbada — agora solto uma verdade pra ver se equilibra — vai lá em casa depois que terminar o trabalho e vê você mesma.

— O trabalho aqui nunca acaba amor, e você sabe — me abraça — cuidado no caminho, te amo.

— Também te amo.

Saio do teatro e começo a caminhar já planejando o que fazer quando chegar em casa e faz parte do plano tentar esquecer a existência do meu celular o quanto eu conseguir pra não passar vergonha.

— Camille! — escuto alguém me gritar.

Me viro e dou de cara com o Carlos, merda.

— Precisamos conversar — ele sorri de lado.




Oi meu povo, capítulo pequeno porque estava com 0 de criatividade e precisava postar já que tinha dito que voltaria ainda essa semana.

Me digam o que estão achando da história comentando e votando, vejo vocês segunda de novo, beijos.

The One That Got AwayWhere stories live. Discover now