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Uma vez que Luke voltou a tocar piano, foi difícil parar. O dia foi tomado por melodias perfeitas. Era como se ele nunca tivesse parado. Uma parte dele se sentia finalmente leve e confortável com aquilo, mas a outra parte o machucava. Era como se ele estivesse cutucando uma ferida ainda aberta. Uma ferida feia e grande. Uma ferida que quase acabou com ele. Ainda doía. Sempre doeria. Conforme o dia foi passando, as melodias foram ficando mais pesadas, mais melancólicas. Um espelho exato da cabeça de Luke naquele momento. Ele não se sentia bem. Não mais. A leveza foi passando, e os sentimentos recorrentes voltaram. Ele odiava a situação. Odiava o fato de ter perdido sua mãe. Odiava o fato de todos ignorarem como ela morreu. Odiava o fato de Stefan ignorar o fato de que havia sido culpa dele.

- Luke? –ele ouviu e parou de tocar, olhando para o lado e vendo Benjamin perto do sofá-

- Oi. –ele fala e sorri fracamente para o irmão-

- Posso sentar com você? –Benjamin pergunta parecendo apreensivo e Luke desliza um pouco para o lado para que o irmão possa sentar-

- Claro. –ele fala e Benjamin se senta, observando as teclas- Lauren está ensinando você, né? –ele comenta e Benjamin assente-

- Eu queria aprender com você. –ele fala e Luke olha para o piano também-

- Eu não sei ensinar, Ben. –ele fala e Benjamin assente-

- Foi a nossa mãe que ensinou você? –ele pergunta e Luke se encolhe- Eu queria me lembrar dela. Becca e Lauren falam dela, mas eu queria me lembrar de verdade. –ele dá de ombros, apoiando o cotovelo sobre uma tecla sem perceber e pulando de susto ao ouvir o acorde- Você nunca fala dela. –ele comenta e Luke engole em seco- E eu já vi você brigando com o papai por causa dela.

- É complicado, Ben. Muito complicado. Quando você crescer mais um pouco, você vai entender essa história. –Luke fala e Benjamin balança a cabeça-

- Mas porque você nunca fala dela? –ele pergunta-

- Porque eu sinto muito a falta dela. É difícil falar sobre algo que nos machuca. Falar sobre ela me machuca. –Luke explica-

- E as meninas não sentem falta dela? –ele pergunta confuso-

- Sentem. Sentem muito. Mas elas são mais fortes do que eu. Elas aguentam. –Luke fala-

- E o papai? Não sente falta dela? –Ben pergunta e Luke hesita, querendo apenas fugir do assunto-

Luke olha mais uma vez para o piano e não responde. Ele não conseguiria responder, de todo o modo. Ele nunca perguntou para o pai se ele sentia falta de Liz. Para ele a resposta era óbvia. Stefan devia se culpar, apenas isso. Ele não tinha o direito de sentir falta.

- Sinto. –os dois escutam e se viram, vendo Stefan entrar na sala e se sentar na beirada do sofá- Sinto muito a falta da mãe de vocês. Todos os dias eu sinto sua falta. –ele fala apoiando os braços nos joelhos e observando os filhos-

Benjamin assentiu com a cabeça, gostando da resposta, mas Luke permaneceu encarando o pai. Ele parecia ainda mais tenso, com a mandíbula trincada, os olhos semicerrados, o semblante sério, sombrio.

- Luke. –Stefan começou, entendendo o olhar que o filho lhe lançava- Não acha que está na hora de resolvermos isso? –ele pergunta e Luke solta um riso amargo-

- Isso o que? –ele pergunta voltando a se virar para o piano, puxando a tampa e cobrindo as teclas. Stefan suspirou, passou as mãos pelos cabelos quase grisalhos e tomou coragem-

- Ben, o que acha de chamar Lily para jogarem basquete lá atrás? –ele pergunta para o pequeno que assente e se levanta, logo sumindo para fora da sala. Luke continua de costas para o pai, mas não faz menção de se levantar, o que já é bom para Stefan- Eu me emocionei hoje, filho. Ver você de volta no piano foi... Foi emocionante. –ele balança a cabeça- Já faz um tempo que eu noto que você está mudando. Está voltando a ser o que era quando mais novo. Quando sua mãe estava aqui. –ele fala com certa cautela, pois sabe do comportamento explosivo de Luke- Eu sinto falta desse Luke. É ótimo vê-lo voltando. –ele fala e suspira ao ver que Luke não reage- Eu amava sua mãe, Luke. –ele fala e vê os ombros de Luke se tencionarem mais- Amava de verdade, muito.

- E bastou uma briga para manda-la embora. –Luke murmura e se vira para ele-

- A história não é bem assim, filho. –Stefan fala sentindo as mãos tremerem-

Luke e Stefan nunca chegaram a conversar sobre isso. Luke simplesmente o atacava com palavras cruéis sempre que o pai tentava tocar no assunto. Era um terreno perigoso aquele.

- Eu me lembro bem, pai. Lembro dela chorando na porta. Lembro de você falando para ela ir embora. –ele fala já sentindo os olhos arderem- Lembro de ter mandando as meninas não saírem do quarto, lembro que desci as escadas para tentar acalmar vocês dois.

- Eu realmente disse para ela ir embora. Nós realmente brigamos, mas a história não é só isso, filho. –Stefan murmura-

- É sim. –Luke fala se levantando- A história é só isso, sim. Vocês brigaram, você a mandou embora e ela morreu! Você pode enfeitar a história para não parecer o que é. Pode ignorar a culpa que tem. Mas essa é a história! Ela morreu por sua causa! –ele grita e Stefan se levanta-

- Eu não a mandei embora, Luke. –ele fala com a voz mais firme e Luke franze o cenho, indignado-

- Você acabou de dizer que fez isso. –ele acusa, confuso e furioso-

- Não, eu disse que falei para ela ir embora. Eu não a mandei embora. Nunca a expulsei de casa. –ele fala e Luke balança a cabeça-

- Ah, pai, deixa de ser hipócrita. –ele resmunga com nojo- É nojento. É cruel! Olha quantos anos já se passaram e você ainda é o bom pai, o bom marido. Não é! –ele grita- É um assassino! A mandou embora! A expulsou, sim!

- Ela ia embora de qualquer jeito! –Stefan finalmente grita, um grito que guardou por seis anos e Luke fecha a boca que já estava aberta para gritar mais-

- O que? –Luke pergunta ofegante e confuso-

- Ela ia embora de qualquer jeito. –Stefan fala mais baixo- As malas dela já estavam no carro, ela estava fugindo. –ele fala e passa as mãos pelos cabelos-

- Pai, isso é tão errado. Você não pode inventar uma coisa dessas. –Luke murmura e Stefan solta uma risada sem humor algum-

- Não é invenção, filho. –ele volta a se sentar, cobrindo o rosto com as mãos- Você tem noção de como é difícil guardar isso? Por seis anos eu guardei isso. Apenas para que meus filhos não gostassem menos da mãe deles. –ele fala e engole o choro-

- Do que você está falando? –Luke pergunta dando alguns passos para trás, se encostando no piano-

Stefan respira fundo por alguns segundos, tomando coragem de finalmente abrir aquele capítulo da vida deles. Não seria fácil, mas estava na hora.

 Não seria fácil, mas estava na hora

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E então temos uma reviravolta nessa história da família Hemmings. Por essa ninguém esperava, heinnn!

Quem tá curiosa para o próximo capítulo? Posso dizer que a história é um pouquinho mais complicada e chocante do que estão esperando....

Better man (L.H.)Onde histórias criam vida. Descubra agora