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Quando Maya acordou na segunda-feira ela desejou continuar dormindo. Não só pelo simples e óbvio fato de que era segunda-feira e ninguém gosta de levantar na segunda-feira de manhã. Ela tinha um prazo e esse prazo acabava naquele dia. Ela sentiu os olhos arderem e não era pelo sono. Eram lágrimas. Lágrimas que ela tratou de reprimir e então se levantou.

Fez sua rotina normal. Tomou um banho rápido, vestiu seu uniforme, calçou seus sapatos e pegou sua bolsa. Antes de então sair do quarto, Maya fez algo que ela não fazia nos outros dias. Ainda com o coração doendo e as lágrimas presas, ela se sento no chão, ao lado da cama e puxou um pote de vidro que havia embaixo da mesma. Ela respirou fundo vendo o pote de vidro. Todos os dias, desde que iniciou o trabalho na lanchonete, ela chegava do mesmo e colocava toda a sua gorjeta dentro do pote. Suas economias estavam dentro daquele pote. Ela nunca quis gastar aquele dinheiro. Sempre que via algo interessante onde ela poderia gastar, sempre hesitava. Ela queria que aquilo fosse gasto de uma forma especial. Talvez comprando algo caro que ela nunca teve coragem de gastar, como um computador, ou um celular mais moderno. Talvez com algo para seus irmãos, ou para a sua mãe. Ou talvez ela mantivesse ali para caso acontecesse alguma emergência com a família e então ela poderia ter algo para ajudar. Maya não sabia ainda como queria gastar suas economias, mas sabia como não queria.

Com as mãos tremulas ela pegou as notas amassadas e as moedas do pote, colocou tudo em um saquinho e enfiou dentro da bolsa. Empurrou o pote para debaixo da cama novamente e se levantou, saindo do quarto ignorando o aperto no peito e a vontade de chorar.

Desceu as escadas mexendo no cabelo, disfarçando o semblante triste que conseguiu disfarçar durante todo o final de semana. Desde sexta-feira, no jantar das gêmeas, Maya tinha esse aperto no peito. Conseguiu disfarçar, fingir que estava bem, mas não estava. Sentiu essa angustia o tempo todo.

- Maya? –ouviu assim que encostou na maçaneta da porta da entrada- Vem tomar café, filha. –a mãe falou com a voz doce de sempre da porta da cozinha e Maya engoliu em seco

Ela não seria capaz de fazer isso. Sentar à mesa com sua família, com seus irmãos, sua mãe e não contar o que ia fazer. Ela não podia. Não conseguiria.

- Eu não posso. –sua voz saiu falha e ela pigarreou- Estou atrasada, mãe. Até mais tarde. –ela abriu a porta-

- Está tudo bem, Maya? –ela fechou os olhos ao ouvir a voz de Luke, mais próxima do que a da mãe e virou o rosto um pouco para ver o loiro no pé da escada-

- Tudo ótimo. Apenas atrasada. –ela falou e respirou fundo-

- Tem certeza? –ele perguntou e ela assentiu, mexendo no cabelo novamente-

- Uhum. Até mais tarde. –ela diz e então sai de casa-

Ao chegar na lanchonete, Beth já a esperava. Nem com o bom humor da mesma e das piadas de Ashton, Maya conseguiu relaxar. Ela olhava o relógio sempre que podia e parecia nervosa, ansiosa. Os dois notaram, mas sabiam que Maya era reservada demais. Era algo dela.

Na hora do almoço, Maya pegou sua bolsa, pesada pelas moedas e colocou no ombro.

- Eu tenho um compromisso. –ela falou para Ashton que estava no caixa- Não sei... –ela engole em seco- Não sei se vou demorar, Ash. Caso demore, a chave da lanchonete está embaixo do monitor, preciso que a fechem direitinho. –ela toca o monitor do caixa e Ashton assente, confuso-

- Está tudo bem, Maya? –ele pergunta mais sério, se uma forma que era ver Ashton-

- Sim. –ela sussurra- Tudo ótimo. –ela sussurra e se vira, saindo da lanchonete sem olhar para trás-

Better man (L.H.)Where stories live. Discover now