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- Dá para entender porque você ainda não voltou para casa. –Maya comenta fitando a janela com a cortina fechada, cobrindo o sol que havia nascido- Aqui é tão silencioso. –ela sussurra e suspira ao sentir os dedos de Luke entre seus cabelos, fazendo um carinho involuntário-

- Não sei se vou voltar. –Luke sussurra de volta e Maya ergue a cabeça do seu peito para olha-lo, confusa- Você disse 'ainda' não voltou para casa. Talvez não tenha um 'ainda'. Talvez eu não volte. –ele dá de ombros-

- Não sente falta? –ela pergunta receosa e ele hesita- Simon e Lauren brigando, Ben e Lily pulando de um sofá para o outro e Becca gritando com todos por causa do barulho. –ela lembra e Luke ri de leve- Você sente falta. –ela fala-

- Claro que eu sinto. –ele fala e passa seus dedos pelas costas nuas dela- A questão não é essa. As coisas mudaram agora. Eu não... Eu não sei se eu quero voltar. Não sei se consigo. –ele sussurra olhando o teto-

- Por causa do que aconteceu com a sua mãe? –ela pergunta e sente quando o corpo de Luke fica tenso- Você guarda tanta coisa, Luke. Por isso que há tanto barulho em você. Porque você guarda, você não desabafa, não compartilha sua dor. –ela fala e se afasta, deitando ao lado dele para olha-lo melhor-

- Eu queria que você não soubesse dessa história de merda. –ele sussurra e Maya suspira- Queria não ter visto você na escada depois de ouvir meu pai falar tudo aquilo. –ele olha para Maya-

- Você acha que se eu não tivesse ouvido teria sido diferente? –ela pergunta e ele balança a cabeça-

- Não, sei lá... Talvez. –ele dá de ombros- Não importa mais, você já... –ele hesita, mas Maya sabe o que ele ia falar-

- Me meti. Pode falar. Pode me chamar de intrometida. –ela fala com um tom azedo e se senta na cama- Quer dizer que o problema não é sua mãe não ser quem você pensou que era, mas sim eu saber que a sua mãe não é quem você pensou que era. –ela fala e veste a camiseta de Luke novamente—

- Não fala da minha mãe, Maya. –ele pede com a voz dura e Maya se vira para ele-

- Então fale você. –ela pede e se vira para ele- Sente raiva dela? A odeia como odiou seu pai? Ou entende os motivos dela? –ela pergunta e Luke se levanta-

- Isso não é da sua conta, Maya. –ele lança e ela abre um sorriso triste-

- Lembra do nosso encontro, quando você disse que havia se apaixonado por mim? –ela pergunta de repente e ele franze o cenho- Porque então você não se abre comigo?

- Porque eu não quero! –ele quase grita e passa a mão nos cabelos- Porque não é da sua maldita conta, Maya. Porque talvez eu tenha falado aquilo por impulso, talvez eu tenha me enganado. Talvez eu... –ele hesita e Maya ergue uma sobrancelha, o desafiando a terminar aquela frase-

- Talvez você... –ela abre um sorriso falso-

- Talvez eu não tenha me apaixonado por você. –ele completa e Maya assente, lidando friamente com aquelas palavras-

Ela se levanta calmamente, pega seu short e o vestiu. Luke respirou fundo, olhou para cima e tentou se acalmar. Queria retirar o que disse, mas não tinha como. Era complicado demais.

- Você é um covarde. –ela murmura calçando suas botas- Com medo dos próprios pensamentos.

- É, talvez eu seja mesmo. –ele murmura vestindo uma bermuda e se virando para ela- Mas e você, Maya? Escondendo de todo mundo que seu pai está perseguindo você. Ignorando o fato de que você corre perigo. Se eu sou o covarde, você é uma hipócrita.

Nenhum dos dois notou o quanto estavam perto. As palavras brutas e os olhares raivosos eram o foco ali. Não a aproximação, como se fossem atraídos involuntariamente um pelo outro. Maya quase encostada na porta, Luke na frente dela com as mãos apoiadas na madeira, deixando-a entre seus braços. E nenhum dos dois notou. Estavam ocupados demais tentando ferir um ao outro com palavras afiadas e uma raiva guardada. Ele não tinha raiva dela, ela não tinha raiva dele. Era algo mais profundo, mais interno, mas ali estavam eles, despejando tudo um no outro.

- Malcon é assunto meu, Luke. –ela murmura ultrajada-

- E minha mãe é assunto meu, porra. –ele rebate- Mesmo sendo burrice sua esconder algo assim. –ele solta e ela bate em seu peito-

- Burra? Hipócrita, burra. O que mais, Luke? Vamos, desabafa sobre todos os motivos para você não ser apaixonado por mim. –seu tom era sarcástico, mas Luke via a magoa em seus olhos, então ele parou-

Luke soltou uma respiração pesada, soltou os ombros tensos e só então notou em como estava praticamente em cima de Maya contra a porta. Ele hesitou, ergueu a mão e deixando esvair toda a raiva do seu organismo, se inclinou sobre ela, querendo esquecer e mudar o rumo daquele dialogo. Mas era tarde demais e Luke soube disso quando sentiu a mão de Maya em contato com seu rosto em um tapa que o fez virar a cabeça. Ele se desestabilizou e isso serviu para Maya o empurrar para longe, furiosa.

- Eu cansei! –ela fala e ele coloca a mão no lado ardido do rosto- Cansei dessa palhaçada! Cansei desse seu joguinho. Você não pode falar um monte de merda para mim e depois se aproximar desse jeito. Não sou um fantoche! Não sou burra, não sou hipócrita! Você que é louco se pensa que pode fazer esse tipo de coisa! –ela grita e abre a porta, saindo sem olhar para trás-

Luke demora algum tempo para processar tudo que aconteceu nos últimos minutos. Estavam bem deitados na cama, em um clima ameno e então do nada estourou uma discussão que pode ter mudado as coisas de vez. Luke não esperava isso, mas agora que pensava, deveria ter esperado. Eles funcionavam assim. Uma relação por um fio. Esse fio havia arrebentado.

Ele desceu as escadas depois de ouvir o barulho de um carro. Viu sua avó na porta acenando e viu um táxi se afastar da casa, provavelmente levando Maya. Ele parou ao lado da avo e a mais velha se virou para olha-lo, com um sorriso debochado na cara.

- Acho que aquela era a mulher certa para você, meu menino. Alguém que lhe jogue umas verdades na cara e depois sai desfilando naquele par de botas fabuloso. –ela ri e estende para Luke uma xícara de café- Não que isso importe agora. Você a deixou ir. –ela acusa e se afasta da porta- Karen e Stefan sabem sobre essa relação? –ela pergunta e Luke nega com a cabeça, ainda olhando para a rua- Porque são dois distraídos. Está na cara a paixão de vocês um pelo outro. –ela murmura e caminha para dentro de casa- Um bando de doidos. –sai resmungando e Luke fecha a porta de casa, concordando com cada palavra que sua avó havia falado-

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Better man (L.H.)Onde histórias criam vida. Descubra agora