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- Você podia ter falado comigo. –Luke sussurrou depois de minutos em silencio- Devia. Devia ter falado comigo. –ele reforçou, mas Maya apenas ficou olhando para a parede, deitada na cama enquanto Luke estava sentado na beirada da mesma-

- Eu não queria envolver ninguém. Não quero envolver ninguém. –ela fechou os olhos- Envolver sua família nessa bagunça é tão errado, Luke.

- Será que é tão difícil de entender que não tem mais isso de sua família e minha família? É tudo uma coisa só, Maya. –ele solta com certa brutalidade e vê os olhos de Maya marejarem- Droga. –ele sussurra e passa a mão pelos cabelos dela- Escuta, a gente vai resolver isso. Vamos na delegacia, os policiais vão procura-lo e ele vai preso. E então acabou. –ele murmura e se inclina na direção dela, aproximando seus rostos-

- Assim como os policiais acharam quem fez aquilo com você? Não é assim que funciona, Luke. –ela murmura, fechando os olhos e aproveitando o carinho que ele faz no seu cabelo-

- Qual a solução então? –ele pergunta e vê uma lágrima escorrer no rosto dela- Não chora, amor. Calma. –ele fala e se inclina, deitando ao lado dela e puxando-a para seus braços-

- Eu estou tão perdida. –ela sussurra contra o peito dele-

- Não está. –ele sussurra contra seus cabelos- Estou aqui, Maya. Você tem a mim, tem uma família completa. Não está perdida. Você nos tem.

- Não posso envolver vocês. Meus irmãos, os seus... Seu pai, a... –ela soluça- A minha mãe, Luke.

- Eu sei, eu entendo, mas... Mas porque tem que ser você a passar por isso? É injusto isso estar nas suas costas. –ele fala e ela ergue o rosto para olha-lo- Ninguém merece algo assim, Maya. Essa dor nos seus olhos, essas marcas pelo corpo. Isso acaba comigo, linda. –ele acaricia seu rosto e Maya apenas o olha, com tantas coisas passando por sua cabeça-

- Talvez eu mereça. –ela sussurra e ele balança a cabeça-

- Não merece. Protegeu seus irmãos a infância inteira, droga. Tentou salvar sua mãe. Sofreu, Maya. Sofreu muito. Porque alguém que passou pelo o que você passou merece algo assim? –ele pergunta passando o polegar pelo lábio inferior dela-

- Então porque está acontecendo? Eu não procurei por isso. Ele me procurou, Luke. Ele me envolveu, ele me lançou nessa história sem nem me preparar.

- Que história? O que ele quer, afinal? –ele pergunta e Maya volta a deitar sua cabeça no peito dele-

- Dinheiro. –ela sussurra- Levei todo o meu dinheiro para ele e ele achou pouco. Ele quer mais. –ela respira fundo- Eu não tenho mais.

- Mesmo se tivesse, Maya. Você não podia ter feito isso. Não pode mais fazer também. –ele sussurrou- É isso que ele quer desde àquela vez? Que você quebrou o espelho. –ele pega a mão dela que tinha uma cicatriz nos nós dos dedos-

Maya se lembrou do que ele se referia. Quando seu pai apareceu pela primeira vez depois de anos e Maya surtou. Luke cuidou dela aquela vez, assim como cuidava agora. Foi a primeira vez que dormiram na mesma cama. Fazia só alguns dias que haviam se beijado pela primeira vez.

Maya assente e suspira, sentindo quando Luke pressiona os lábios na cicatriz da mão dela.

- Eu... Eu acho que quero ficar sozinha, Luke. –ela murmura e ele solta sua mão-

- Porque? –ele pergunta e ela se senta na cama-

- Preciso dormir um pouco. Amanhã eu trabalho cedinho. –ela fala olhando para a parede-

- Tem tanto para falar ainda, Maya. –ele murmura se sentando também-

- Eu sei, mas eu quero ficar sozinha. –ela fala e ele assente- Obrigada... –ela fala assim que ele se levanta- Por ter ficado comigo. Amanhã quero agradecer suas irmãs também. Vocês não precisavam fazer isso, e mesmo assim fizeram. –ela murmura abraçando os joelhos e deitando sua cabeça sobre eles-

- Está me colocando na mesma categoria delas? –ele pergunta abrindo um sorriso triste. Maya parece surpresa com a pergunta e sua tristeza só aumenta ao ver a mágoa nos olhos de Luke-

- Família, né? –ela sussurra e ele assente, entendendo-

- Família. –ele confirma com a voz seca e caminha até a porta- Devo chamar você de irmã ou algo assim? Já que agora vamos ser hipócritas nesse nível. –ele murmura debochado e Maya fecha os olhos-

- Não faz isso. –ela pede e ele balança a cabeça- Você me confunde, Luke. Me afasta quando quer, me aproxima quando quer. Eu me sinto... Sei lá, eu sequer sei o que eu sou para você. –ela fala sem olha-lo-

- Infelizmente, linda, você é mais do que eu poderia sequer descrever. –ele fala e abre a porta- Boa noite. –ele fala e sai, fechando a porta sem querer ouvir Maya desejar o mesmo-

Maya voltou a se deitar na cama, aspirou o cheiro dele em seu travesseiro e abraçou o mesmo. Estava cansada, perdida.

Luke caminhou até o seu quarto, mas antes de entrar viu Becca e Lauren sentadas na escada. Ele se aproximou das duas e se sentou em um dos degraus. Lauren o olhou primeiro, depois Becca. Logo os três olharam para a mesma direção. Karen e Stefan no sofá, abraçados. Karen chorava baixinho no peito do marido. Não era um choro assustado, ou histérico. Era um choro triste, um choro de quem lembrava de antigas dores.

Lauren deitou a cabeça no ombro de Luke e suspirou.

- E agora? –ela pergunta e Luke abraçou as duas irmãs-

- Eu não faço ideia. –ele murmura de volta e continua observando o casal no sofá-

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Better man (L.H.)Onde histórias criam vida. Descubra agora