Cp. 56

140K 9.5K 5K
                                    

Jason.

Tinha uma morena pelada na minha cama, que ficava do outro lado da mesinha do quarto do hotel, onde eu estava sentado afinando minha guitarra. O fato de eu estar mais interessado na garrafa de whiskey que tinha na minha frente do que nela era uma prova triste da minha situação. A gata mal falava inglês e tinha vindo para o hotel com um dos rapazes de outra banda depois do show. Mas, por algum motivo, passou a noite inteira dando em cima de mim, mesmo eu não demonstrando o menor interesse. Vai ver, era a barreira da língua. Não entendo nada de alemão. Acho que ela só entendia que, quanto mais eu bebia, mais ela me parecia interessante, e providenciou um estoque interminável de bebida quando cheguei no quarto. 

Era bem bonita. Alta, com uns belos peitos. Cabelos negros compridos e uns belos olhos azuis. O problema é que tem todas essas qualidades, mas estava na minha cama, onde uma certa ruiva de olhos cor de esmeraldas deveria estar. Por um lado, estava morrendo de vontade de deitar do lado dela e deixar o whiskey e uma gostosa apagarem o fantasma da Megan só por um minuto. Infelizmente, o outro lado, que falava mais alto, sabia que aquilo era só um remendo temporário. Um remendo que ia me fazer sentir um bosta na manhã seguinte e deixar o pessoal da banda ainda mais preocupado. 

Essa turnê estava me cansando, e acho que não estava conseguindo disfarçar direito. As mulheres, as festas, as bebidas... Era muita coisa para processar, ainda mais que eu ainda estava tentando me entender, ainda estava com o coração partido. Não importa o que os meus amigos me empurrassem ou as tentações que o Kenny e os rapazes da banda dele me apresentassem. Nada me interessava. Eu tinha saudade da minha cidade, dos meus amigos, até do meu irmão. 

E, apesar de tudo, ainda estava preocupado com a minha tia. Não tinha como esconder aquele buraco no meu peito que a Megan deixou. Nem preciso dizer que era dela de quem eu mais sentia saudades. Mas o verdadeiro motivo, o verdadeiro problema que me impedia de subir em cima daquela morena pelada e aprender como dizer "Jason" em alemão, era a Megan. Não conseguia parar de pensar nela e não conseguia parar de ver todos os meus sentimentos refletidos naqueles olhos que pareciam fogos de artificio. 

Me sentia tão sozinho sem essa mulher. Não pensei nem por um segundo que ela ia esperar por mim, mesmo depois daquele beijo. Até agora, a melhor coisa de vir para a Europa foi a oportunidade de assistir a um monte de bandas muito boas. Em todo país que a gente passava, em cada bar que a gente entrava, tinha bandas fodas tocando. Grupos sensacionais. Muitas vezes, formados por garotos bem mais novos do que eu, e ficava feliz toda vez que conseguia ver esse povo tocar. Me lembrava do quanto amo assistir a outras bandas, amo descobrir novos talentos e ajuda-los. Muito mais do que eu gosto de ser adorado e adulado quando estou em cima no palco. É claro que amo cantar, amo tocar, compor e me apresentar, mas não é isso que quero fazer da vida.

Fazer uma turnê, não importa em que parte do mundo, depois de um tempo passa a ser um saco. Queria a minha cama, de preferência com uma certa gatinha em cima, e queria passar a noite em outro lugar que não fosse um bar, tentando me livrar de fãs vagabundas e roqueiros. Não nasci para ser rock star, acabei de descobrir isso, mas sou perfeito para transformar outras pessoas nisso. Quando voltar para casa, vou montar minha própria gravadora. Fiquei tão excitado com a ideia. Muito mais excitado do que com a morena pelada na minha frente.

 Por sorte, o pessoal da minha banda parecia tão acabado quanto eu. O baterista Miller estava com saudade da namorada e do filho e passava mais tempo falando com eles pelo Skype do que no bar. O Rony ficava o tempo todo com os rapazes da outra banda, e estava feliz de participar daquilo. E a gente estava de olho no Kenny, para ver se ele estava conseguindo se manter sóbrio. Viver na estrada é difícil. Ainda mais por tanto tempo e tão longe de casa. A gente estava preocupado de ele não conseguir se segurar. Acho que ninguém estava pensando em assinar o contrato com a gravadora, e isso me deixava feliz. 

O Homem da Boate. Where stories live. Discover now