Delight

18.7K 838 11
                                    

Depois de tomar banho, pegar meu cobertor e me enroscar na sala com uma taça de vinho, eu estava me sentindo quente, mas era um calor desconfortável, daqueles que machuca a pele, então chutei o cobertor pra longe.

Hoje Noah foi totalmente diferente daquele homem que ficou comigo sábado – lógico que eu não devia esperar uma demonstração de carinho, mas as palavras dele cortaram meu coração. Eu fui estúpida ao entrar em seu escritório gritando e achando que podia lhe cobrar alguma coisa, ele estava certo em brigar comigo, mas falar daquele jeito? – Uma lágrima inconveniente escorreu pelo meu rosto. – Minha autoestima ficou fragilizada com sua grosseria. Noah não pode transar comigo em cima de uma mesa num dia e no outro me tratar como se eu fosse a pior pessoa do mundo, uma vez que isso não é verdade, ele não tem direito de levantar a voz e me agredir, apesar de eu ter feito isso. – Encolhi os ombros e dei mais um gole no vinho – Uma semana, uma única semana que trabalho com ele e minha vida virou um caos completo e eu não sabia o que poderia fazer para melhorar essa situação. O melhor no momento é tentar esquecer tudo isso, ele disse que já esta resolvendo a questão da foto no jornal – não sei como – mas talvez ele conseguisse conter a noticia em Chicago e por uma sorte do destino, meu pai não vê-la. – Fui para o quarto na esperança do vinho fazer seu efeito e amortecer o turbilhão de pensamentos que ecoavam na minha cabeça, eu só queria dormir e esquecer de tudo isso por umas horas, já que amanhã eu teria que o encarar novamente.

Na terça, Noah não fez menção nem de me dar bom dia, passou direto sem nem olhar na minha mesa, chequei sua agenda e notei que ele teria três reuniões a tarde fora do escritório, o que me dava uma vantagem relativamente boa sobre tudo isso, já que eu não teria que ficar encarando sua carranca por algum tempo. Sai do trabalho no mesmo horário e fui direto para casa, tomei banho e me fui para sala e pela primeira vez desde que estou em Chicago, a solidão começou a me perturbar. Nessas horas em Seattle, Teddy sempre me acalmava e me fazia esquecer tudo e todos. Tentei ligar no seu celular, porém foi em vão. Deixei uma mensagem falando que estava com saudade e que ia ficar esperando ele ligar. Liguei para minha mãe e a conversa foi breve, já que ela estava jantando com Papai, tio Elliot e tia Kate. Falei um pouco com todos e não deixei transparecer meus sentimentos abalados. Fiz menção de ignorar o número da Ivy, o que eu não precisava no momento era um “eu te avisei”.

A quarta amanheceu chuvosa novamente, a vida ao redor de mim também parecia um caos, o que me acalmou um pouco. Pelo menos eu não sou a única desequilibrada aqui.

Às duas da tarde, uma morena baixa e tão atraente que chamava a atenção de qualquer um foi até mim procurando Noah, que estava como sempre enfiado dentro do escritório com a porta fechada. Liguei para seu telefone e soei a mais fria e distante possível. Com um sorrisinho de canto de boca e uma jogada desnecessária no cabelo, a Srta Moore entrou no escritório do Sr Parker fechando a porta atrás de si. Sai do trabalho e resolvi ir para a academia para despejar toda essa minha adrenalina e tristeza em exercícios físicos, o que funcionou perfeitamente, corri mais de uma hora na esteira e só parei porque senti meu cérebro para de funcionar pela falta de ar.

Naquela noite eu estava deitada na sala ouvindo Bach e tenho compaixão pela sua canção melancólica quando o telefone tocou, era Frank.

– Srta Grey. Desculpe incomodá-la, mas o Senhor Noah Parker está aqui e quer vê-la – ele Fez um pausa enquanto escutava alguém falar algo, presumi que era Noah. Meu coração gelou, apertei o telefone e respirei fundo para não descontar minha raiva em cima de Frank, que não tinha nada a ver com aquilo. – Desculpa, ele disse que marcou um jantar com a Srta e está lhe aguardando aqui em baixo. – Além de grosso, filho da puta o cara ainda é surdo.

– Frank, me desculpe à honestidade, mas manda o Noah ir se foder. – Afastei um pouco o fone do ouvido e depois complementei – Mas o manda ir se foder como Noah e não como Sr Parker. – Frank titubeou um pouco, mas acabou fazendo o que falei para fazer. Desliguei e resolvi tirar Bach. Selecionei “Charlie Brown” do Coldplay e me deliciei com suas palavras, cantando baixinho enquanto me servia de uma taça de vinho. – Eu tenho que parar de beber tanto.

Quinta de manhã, meu estômago ficou inquieto. Na hora que eu falei para o Frank mandar Noah ir se foder, pareceu correto, mas agora que estou aqui no escritório, olhando aflita para o elevador, não me pareceu nada maduro ter feito aquilo, eu deveria ter falado para Frank dizer que eu não estava me sentindo bem, mas ai ele poderia querer subir e cuidar de você. – Afastei esse pensamento sem fundamento e voltei a fazer minhas tarefas. Noah não apareceu no escritório aquele dia. No final da tarde, eu ainda estava decidindo se aquilo era bom ou ruim. Não cheguei a conclusão alguma. Passei na academia de novo e hoje não consegui extrapolar, os pensamentos negativos não saiam da minha cabeça. Tudo bem, eu não precisava daquele emprego, mas eu gostava de ficar ali, vendo como fácil a vida pode ser. Na Grey Enterprises não, as vezes eu saia com meu pai de reuniões já eram mais de dez da noite, até que minha mãe proibiu, disse que eu era muito nova para ter esse estilo de vida, na época eu fiquei chateada, eu gostava de ficar até tarde trabalhando, mas hoje eu entendo que ela queria manter minha saúde e me fazer aproveitar a vida. Depois de uma ducha, peguei meu celular para ver as mensagens, tinha uma de Teddy dizendo que tinha saído com alguns amigos e ficou sem bateria e uma de Ivy, pedindo para ligar para ela. Respirei fundo e apertei em ligar.

– Phoebe! Quanto tempo. Achei que tinha fugido para Seattle. – Ela riu e pude ouvir umas vozes ao fundo

– Ivy, estou bem. Aqui, depois eu te ligo para não te atrapalhar em nada, ok?

– Não, nem pensar. Eu só quero saber se você vai querer ir comigo para Nova York amanhã e saber se você está bem, já que na segunda tinha uma foto sua e de Noah do tamanho do mundo estampada no jornal. – Que exagero... Nem era tão grande assim.

– Estou bem sim, essa foto foi um acidente desagradável – Nós duas rimos – Eu ainda não pensei sobre isso de ir para Nova York com você

– Ah Phoebe, vamos lá. Você vai adorar minha família e principalmente meu tio Cary, ele é demais! Vamos sair e aproveitar o fim de semana e outra, você está me devendo isso, já que eu prometi que ia te levar para sair no sábado passado e você acabou ficando com seu Chefe gostosão, vamos, vamos, vamos... – As palavras de Ivy estavam meio confusas mas eram compreensíveis, juntando isso com o barulho de fundo, presumi que ela estava bebendo, o convite dela era tentador. Resolvi aceitar.

– Tudo bem, vou comprar minha passagem agora. Você vai em qual vôo? – Segurei o celular entre o ouvido e o ombro enquanto pegava no notebook.

– Não se preocupa, nós vamos no jato do meu pai. Te mando uma mensagem amanhã e me avisa quando sair do trabalho, vou ficar te esperando. E amiga?

– Oi?

– Leva biquíni e sua autoestima, porque nosso fim de semana Nova-iorquino vai ser incrível! – Pude quase sentir a alegria de Ivy passar pelo telefone, ela me fez mais algumas juras e depois desligou dizendo que o “amigo” dela de domingo a estava esperando.

Dei um pulo da cama e foi para o closet esfregando uma mão na outra, vamos ver se tenho biquínis!

Playing With PleasureOnde as histórias ganham vida. Descobre agora