Misfortune

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Antes mesmo de chegarmos à esquina, Ivy já estava agarrada no pescoço do seu “desconhecido”, fiquei encarando aquela cena incrédula, me remexi no banco desconfortável com aquela cena. O meu desconhecido passou o braço por cima do encosto do meu banco e me encarou com um sorriso nos lábios. Antes mesmo de formar a frase na minha cabeça, ela já estava na ponta da minha língua.

– Tira esse braço daí.

Ele sorriu mais ainda.

– Você é bravinha, né? – Ele mordeu o próprio lábio e eu me peguei encarando-o.

– Não sou bravinha, mas também não vou fazer aquilo ali contigo. – Apontei para Ivy que já estava praticamente no colo do cara, olhei horrorizada.

– Quem disse que eu quero que você faça aquilo? A propósito, qual o seu nome? – Ele desceu a mão para o meu braço e começou a acariciar com o polegar.

– Phoebe.

– Ah, muito prazer, Phoebe. O meu é Marcus, vou ser o seu guia essa noite. – Ele estendeu a mão e ficou com ela parada na minha frente, relutante, levantei e apertei a mão dele.

– Não preciso de guia, eu já conheço a cidade.

– Por que você está tão nervosa? – Ele agora me olhava incrédulo também. – Porra, eu só estou tentando conversar, eu não vou te estuprar se você me responder direito, confia em mim.

Encolhi os ombros, mas levantei de novo e o encarei.

– Não estou nervosa, só não gosto de ficar no carro de estranhos, ainda mais com minha amiga naquela situação. – Olhei para Ivy de novo, que agora dava risadinhas enquanto ele mordia o pescoço dela. Caralho, que merda.

– Não é porque sua amiga está fazendo, que você vai fazer também. – Ele agora me encarava fixamente, não consegui desprender meu olhar do dele.

– Eu sei disso, só não estou confortável.

– E você estava confortável naquele lugar com sua amiga?

Encolhi os ombros de novo e sussurrei “não”

– Bom, então de nada.

– Não te agradeci. – Levantei o queixo e tentei lhe encarar de cima, mas mesmo sentado ele era maior que eu. Ele ficou me encarando, seu maxilar pulsava sob a pele. Ficamos assim um bom tempo, nos encarando até que um pigarro me trouxe a realidade. A voz arrastada de Ivy irrompeu meus pensamentos.

– Se beijem logo! – Ela riu. – A propósito, chegamos.

Marcus abriu a porta e saiu rápido, me arrastei pelo banco e sai pela mesma porta que ele enquanto Ivy e seu desconhecido saiam pela a outra. Levantei os olhos para ele, agora ele ajeitava o terno, enfiou uma mão no bolso e ficou me encarando. Porra, ele era gato, mas ignorante. Não vou deixar o álcool vencer essa. Com muito custo, desviei meu olhar do dele e me deparei com uma fachada preta, com as letras em neon escrito “Victrola”.

– Vamos? – Ele agora sorria e pousou a mão novamente na base das minhas costas, ergui o olhar mais gelado que pude, ele levantou as mãos se desculpando.

– Não vou mais torrar sua paciência.

– Ah, obrigada. – Sorri ironicamente e sai andando na frente.

Que situação constrangedora. Não que eu seja uma Madre Teresa, mas o cara trazer a gente para um bar, o amigo dele agarrando minha amiga, os fatos já dizem tudo por si só. O caso era que ele iria tentar me agarrar e eu não ia permitir isso. Eu nunca nem vi o cara. – Agarrei a barra do vestido e comecei a contorcer nos dedos quando me lembrei de Noah e como nos conhecemos, tentei me acalmar pensando “é diferente”, mas na verdade não era. O bar era escuro também, tinha uma pequena pista de dança e mesas nos cantos, várias pessoas dançavam e riam, era bem menos constrangedor que aquele lugar esquisito que estávamos. Eu poderia dizer que era até aconchegante.

Playing With PleasureOnde as histórias ganham vida. Descobre agora