E agora?

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Porém Adrien se enganou quanto à ligação de Nino ou Alya. Na verdade, os pais de Marinette não ligaram para ninguém após receberem a ligação aquele horário da noite. Primeiramente eles não entenderam, afinal, Marinette deveria estar em seu próprio quarto. Não tinha avisado que sairia.

Sabine estava no telefone enquanto Tom subiu as escadas e viu que o quarto estava vazio. Assim que eles entenderam que, realmente, estava no hospital foram para lá imediatamente. Quando chegaram ela estava em uma cirurgia de emergência.

Dr. Hans Bauer, o médico neurologista que foi conversar com eles explicou que ela tinha fraturado as duas pernas, mas o problema principal não era esse, mas sim o traumatismo craniano. Ele tentou ser o mais gentil possível explicando, evitar os termos técnicos. Era uma merda dar esse tipo de notícia para os pais de um adolescente, principalmente filho único. Gostaria de não precisar falar dos riscos, que existiam mesmo com a cirurgia. Ela poderia morrer, sim, ainda havia essa possibilidade, poderia nem sair da sala de cirurgia... Depois, se tudo desse certo, poderia ter sequelas, mas falar agora disso era desnecessário. Lembrou a Sabine e Tom que o cirurgião era o melhor da especialidade em Paris, que estava recebendo o melhor tratamento possível. Acrescentou que foi muita sorte que Chat Noir tivesse levado ela tão rápido para o hospital, se tivesse demorado um pouco mais a situação poderia ser muito pior. Agora seria um momento de espera.

Quando Hans se afastou, Sabine olhava para o nada e Tom chorava de forma silenciosa.

[...]

Eles não sabiam se deveriam ou não avisar alguém, nem se precisariam fazer isso imediatamente. Tom ligou para Gina, sua mãe, alguns momentos depois.

Sabine avisou Wang Cheng. Mas nenhum dos dois estava em Paris. As palavras ecoavam no pensamento e não haver nada que pudessem fazer apenas os deixava mais aflitos. Por que Marinette tinha saído de casa? Em algum momento, Tom encarou Sabine olhando em desespero.

— Está acontecendo mesmo? Isso não é... Um pesadelo, é? Você está aqui comigo, a Marinette, ela... — Sabine apenas o abraçou, não havia nada que pudessem fazer.

Acabaram ficando no hospital até que amanhecesse. Não conseguiriam dormir de qualquer forma e queriam estar lá quando a cirurgia acabasse.

[...]

E o neurologista que fez cirurgia conversou com eles, estava otimista. Disse que embora ela não fosse acordar nos próximos dias, tudo indicava que iria melhorar. A lesão não parecia extensa.

— Mas quando ela deve acordar? — Foi Sabine que perguntou.

— Realmente... não temos como dizer, é imprevisível ainda.

[...]

Por conta do horário, esperaram até o dia seguinte para avisar os amigos de escola. Tinham os números de Alya e Nino, os demais pegaram no próprio celular de Marinette. O casal Dupain Cheng tinha olheiras, mas sentiam-se incapazes de dormir e a cada amigo de Marinette que avisavam sobre o acidente aquela verdade passava a ser cada vez mais real. Era como se aquilo só estivesse se tornando concreto a cada repetição que faziam. Alya foi a primeira que avisaram, a melhor amiga, quando Sabine começou a falar, ouviu a linha ficar muda do outro lado.

— Alya? Você me ouviu? Estamos aqui no Hospital Lariboisière... — Mas Alya tinha ouvido, o choque foi tão grande que nem conseguiu falar nada.

[...]

Quando ligaram para Adrien ele acordou. Tinha demorado muito a dormir por não conseguir livrar os pensamentos de tudo que tinha acontecido e da expectativa por notícias. Era bom ou ruim que não tivessem ligado mesmo no meio da noite mesmo?

[...]

Alya criou um grupo com o Nino e Adrien no aplicativo do celular e depois de "testar o terreno" com cautela, checando se ambos já sabiam sobre Marinette perguntou se queriam tentar visitá-la ainda hoje. Era tudo que Adrien mais queria. Visitá-la e ver como estava! Nino queria ir, mas ao mesmo tempo odiava hospitais, já tinha passado muito tempo fazendo visitas ao seu tio, irmão de sua mãe que tinha falecido no ano anterior de câncer de pulmão. Mas combinaram de ir juntos, pouco antes do almoço.

[...]

Quando os três chegaram ao hospital perguntaram em que quarto estava Marinette e a resposta foi que estava ainda na UTI. As visitas lá eram complicadas e só eram permitidas duas pessoas juntas por vez. Sabine e Tom estavam lá e quando os garotos chegaram. A primeira coisa que Alya disse é que não queriam atrapalhar e que não sabiam que o número de visitas eram restritas antes de irem.

— Não se preocupe Alya, vocês nos fazem um favor, nem eu nem o Tom tomamos café da manhã e estamos aqui desde ontem à noite. Marinette iria adorar saber que estão aqui. Nós também precisamos de um tempo fora da sala.

Alya e Nino entraram. O ambiente era naturalmente lúgubre e os outros leitos estavam vazios. No quarto da UTI ecoava o som irritante periódico enquanto o sinal luminoso passeava na tela do monitor. Marinette tinha um tubo preso com fita adesiva ao rosto de onde entrava uma pequena cânula pelo nariz. Além disso, tinha uma espécie de dedal preso na mão direita que ligava os fios ao monitor e um equipo com soro, ou outra solução, fixado no braço. Era aparente algum tipo de imobilização das pernas sob o lençol. Parecia estar dormindo. Alya segurou a mão livre e achou que estava um pouco fria, puxou um pouco o lençol para cima e desdobrou o fino cobertor cobrindo com ele até a cintura.

— Dona Marinette, Você sabe o susto que está nos fazendo passar?! Ninguém sabe nos dizer ainda quando você vai voltar para o colégio... Eu...

Alya começou a chorar, a situação para ela era brutal demais, nunca tinha visto ninguém internado em uma UTI. Nora já tinha feito cirurgia de apendicite, mas o "ânimo" era totalmente diferente, a chance de algo dar errado era praticamente zero (essa tinha a sido a sensação de Alya alguns meses depois) e o quarto dela no hospital era arejado e não tinham todos aqueles tubos e monitores... Nino a abraçou.

— Hey, ela vai ficar bem! E quando estiver em um quarto de verdade, você vai poder puxar a orelha dela e perguntar o que estava fazendo para acabar sendo atropelada!

— Ela vai ficar bem mesmo, Nino?

— Vai sim, morena, você vai ver! Agora vamos dar um tempo para o Adrien vê-la também. Você sabe o quanto ela iria gostar, né?

[...]

Antes que Adrien saísse de casa, Plagg falou que pegasse biscoitos doces, lembrou-o que a kwami da Marinette estaria lá e provavelmente não tinha comido nada. O pequeno ser negro voou pela sala a procura da vermelha assim que se viu na companhia apenas dos dois garotos, levando os biscoitos consigo. Tikki estava escondida na parte de baixo do suporte de um dos monitores.

E Adrien simplesmente não sabia se deveria falar algo ou tocar em sua mão... Estava tudo tão confuso e dolorido em sua mente! Sentia raiva do acaso, poderiam NÃO ter saído para patrulhar, ou ter feito as áreas invertidas, ou ela poderia ter escolhido outro telhado para passar... Se Hawk Moth tivesse atacado naquele dia também não estariam patrulhando àquela hora?

Aproximou-se da cama, que estava em posição bem mais alta que uma cama normal. A cabeça estava enfaixada e provavelmente os cabelos tinham sido raspados... Os lindos cabelos azulados de Ladybug eram os mesmo de Marinette. Como não percebeu antes? Era tão óbvio! Adrien não era muito religioso, mas rezava para Deus que melhorasse logo! Para que não tivessem mais akumas! O que poderia fazer se surgisse um vilão?! E ao mesmo tempo em que sabia que estaria totalmente ferrado se Hawk Moth resolvesse dar o ar de sua graça, aquilo, ainda assim, parecia insignificante perto da realidade opressora: Marinette estava naquela cama sem uma expectativa conhecida para despertar.

FatalitéWhere stories live. Discover now