Fatalité

Dias melhores...

Aquilo foi um abalo sísmico a convicção e ao animo de Adrien. A aleatoriedade de coisas como aquela acontecerem a pessoas como Claire faziam com que perdesse totalmente a fé que houvesse um sentido da vida ou alguma justiça. Não conseguia ver por que uma garota tão legal pudesse morrer assim, sem razão, sem motivo! Os pais dela... Que inferno estariam vivendo?! Filha única, a dor deles era inimaginável! E Hawk Moth que aterrorizava a cidade, sabe lá com que objetivo, continuava muito bem, obrigado.

— Tikki, preferi falar com você por que nesse momento, se eu for conversar com o Plagg tenho certeza que vou usar o poder absoluto para transformar o planeta num enorme camembert fedorento inabitado... Que Plagg amaria, com certeza! Os miraculous da criação e da destruição estão ambos comigo, me dê um bom motivo para que eu não os use para consertar todas as coisas erradas que aconteceram desde que My Lady se acidentou...

A pequena kwami deu algumas voltas nele antes de pousar em sua cabeça e se aninhar nos fios dourados macios. Em sua longa existência tinha passado por muitos momentos críticos, e sabia que aquele era de iminência catastrófica. Muitos anos antes, outro jovem passava por dilema semelhante, após a destruição de templo. O destino brincava com a imaturidade forçando decisões tão sábias muito cedo!

— Adrien, você se recorda de quando a Ladybug explicou que o uso do poder absoluto tem um preço?

— Sim, mas eu poderia sacrificar, por exemplo a vida de um presidiário qualquer em troca da de Claire? Por que não poderia simplesmente usar o poder absoluto para localizar e recuperar o miraculous da borboleta? Todas essas perdas são... Um desperdício, o mundo seria bem melhor se coisas assim não acontecessem a pessoas como elas! Vidas que valem a pena, pessoas boas, enquanto isso tem algum desgraçado que só prejudica as outras pessoas vivendo feliz por aí...

— Criação e destruição é muito mais do que isso, Adrien. O preço do poder absoluto não é uma simples troca, é o equilíbrio das coisas. Para que pessoas nasçam, pessoas precisam morrer. Se você pudesse escolher pela vida de Claire, não faria algo em relação às crianças refugiadas que adoeceram? Ou em relação ao acidente de Mari? Ao sumiço da sua mãe?

No instante seguinte, Adrien notou que Ladybug original estava ali com ele. Será que Tikki poderia vê-la desta vez? Olhou para a kwami que parecia absorta em algo, talvez pensando no que falar, pelo visto, não a via.

— Chat, já ouviu dizer que o poder corrompe? E se isso for verdade, bem o poder absoluto deve corromper de uma forma!... — Ela piscou para ele na expressão marota que tanto conhecia em sua Lady. Céus, como queria que realmente estivesse ali! — Não enverede por esse caminho, Chaton, é uma viagem sem volta.

— Uma vez que você experimenta o poder absoluto será como tornar-se onisciente, e terá o poder de interferir no livre arbítrio das pessoas. Viver é aprender a buscar o melhor, a dar o seu melhor se não há uma escolha a ser feita, não há sentido. Há alguns anos vi um rapaz nesse mesmo dilema. Você não é um deus, Adrien, o primeiro erro dessa decisão é decidir toma-la.

— Se você tem milhares de anos, já viu muitas partidas... Como suporta a sensação de perda?

— Cada ligação é única. A vida humana é frágil, é da sua natureza. Assim como amar ou odiar, ter momentos tristes e felizes. A essência da divisão em dois miraculous principais é a dualidade de faces de uma moeda, para que exista criação é necessária a destruição para que haja vida é necessária a morte. Ninguém deveria ter a decisão de poder alterar tudo. E responsabilidade demais, é tentador demais. — Tikki balançou a cabeça

Adrien decidiu tomar um banho e ir dormir. Ela pensava e pensava e não chegava a nenhuma conclusão. Antes de entregar os miraculous da criação e da destruição para ele e para Marinette, Mestre Fu tinha ambos, e aquilo concentrava muito mais poder do que o miraculous secundário da borboleta. A lógica dizia para usar ambos e recuperar os pedidos, mas ele não fez...

— Chat... Eles sabiam que você tinha os dois miraculous, sabiam o que poderiam fazer, mas em momento algum lhe disseram para usá-los desta forma.

Era a Ladybug Marinette. Ela se aproximou dela abraçando e pode sentir seus braços em torno de si. Sabia que estava em um sonho, já tinha adormecido, ou ela teria simplesmente sumido. Além disso, estava como Chat Noir e eles estavam na Torre.

—Claire não me disse que não usasse, My Lady. — Ladybug sorriu para ele.

— Na idade dela, na situação que estava... Seria muito que pedisse isso. Mas ela sabia Chat.

— Por que tem que ser tudo tão... Complicado?

— Não sei... Mas eu tenho algo mais para te avisar.

— O quê?

— Eu vou acordar logo, em dias.

Adrien poderia jurar que mesmo dormindo seu coração mudou de ritmo sentindo que galopava no peito. Podia confiar naquilo ou estava só se enganando?!

— Mas eu não vou lembrar, Chat....

Caralho, do que raios ela não lembraria? Não esperava que ela se lembrasse de todas as "conversas" que tiveram enquanto estava inconsciente. Porque aquilo nem tinha acontecido, então...

— Não gatinho, eu não vou lembrar de muita coisa, dos miraculous, da Alya, de você...

— Caramba, My Lady! O que você vai lembrar?!

— Bem... da Chóe. — Até mesmo no sonho ele achou isso irônico, engraçado, humor negro, logo da Chlóe?!

— Você só pode estar brincando! Por que você vai se lembrar da Chlóe e se esquecer de mim e da Alya?

— Porque eu estudei vários outros anos com ela. Eu conheço você e a Alya a menos tempo.

— Você vai se lembrar em algum momento?! — Ela deu de ombros.

— Vou, mas vou ter que reaprender muitas coisas antes de começar a lembrar... Você vai me devolver o miraculous da Ladybug?

— Claro! É seu, quem mais poderia usá-lo agora?

— Vai ser bem estranho recomeçar...

— Eu deveria ter patrulhado para aquele lado, My Lady. Ou deveríamos ter feito juntos...

— Chat, não foi culpa sua, na verdade, por mais que eu seja desastrada, desta vez, acho que também não foi minha culpa. Essas coisas acontecem. Quantas pessoas não poderiam ou gostariam de ter saído, cinco minutos mais cedo, ou mais tarde em um dia onde algo ruim lhes aconteceu?

Ficaram em silencia por alguns instantes observando as luzes da cidade.

— Sinto muito por Claire, Chat...

— Não fosse seu acidente eu nem a teria conhecido, Bugboo. Uma estrela do céu não poderia passar mais tempo na terra... Mas espero que você realmente melhores logo, está ficando bem... Cansativo.

Ladybug se aproximou orçando seus lábios no deleem despedida e no dia seguinte ele não se lembrou de mais nada que tivessesonhando naquela noite.